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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Em homenagem aos 130 anos do Cinema e aos 70 anos do Rock, tenho procurado estabelecer uma cronologia dos principais acontecimentos que traçaram o rumo da arte cinematográfica e do estilo musical que mais se identifica com os jovens de todo o planeta, discorrendo ainda, de forma intercalada, sobre assuntos que não se encontram inseridos na ordem cronológica estabelecida, mas que se relacionam a artistas, filmes e acontecimentos relevantes no campo musical e do audiovisual.
Nesse mesmo sentido, alguns sites e canais do YouTube têm realizado homenagens a produções lançadas no ano de 1975, em face destas completarem, neste ano de 2025, 50 anos após a sua exibição ao público. Comumente, tais homenagens referem-se a álbuns de rock (internacionais e nacionais) e filmes lançados naquele ano e que fizeram, no mínimo, um relativo sucesso.
O que se observa é que tais homenagens criam a impressão de que o ano de 1975 foi, sob o aspecto cultural, um ano excepcional, mas será que foi mesmo?
Momentos de transição
No ano de 1975, a formação clássica de diversas bandas de rock já havia sido dissolvida, como no caso do Deep Purple, que já não contava com o lendário vocalista Ian Gillan, e o não menos importante, o guitarrista Ritchie Blackmore. A era das séries de grandes álbuns de bandas como Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival e Kinks havia passado, no entanto, ao passo que foram lançados naquele ano discos que simbolizavam o final de uma era para determinado grupo musical, outros representavam o despontamento no mundo do entretenimento.
Enquanto os álbuns “Physical Graffitti, do Led Zeppelin, e “Sabotage”, do Black Sabbath, lançados naquele ano de 1975, finalizavam uma série de grandes álbuns de ambas as bandas, ainda que álbuns posteriores tenham obtido relativo êxito comercial, o sucesso dos álbuns “Fly by Night”, do Rush, e “A Night at the Opera, com a clássica “Bohemian Rhapsody” da banda inglesa Queen, ampliou de forma colossal o número de seguidores dessas bandas.
Somados aos discos citados, ainda em 1975 tivemos o lançamento do clássico “Wish You Were Here”, do Pink Floyd, o qual compete com “Dark Side of the Moon” (1973) pelo título de melhor álbum da banda; do álbum “Crisis? What Crisis?”, considerado por Roger Hogdson, vocalista, guitarrista e tecladista do Supertramp, como o seu disco favorito da banda; e do álbum Rock’n’Roll, através do qual John Lennon resgata grandes sucessos da década de 1950 e início de 1960, com destaque para “Stand by Me”, versão que se tornou famosa, apesar de instrumentalmente ser bastante diferente da original, interpretada por Ben E. King.
Muito outros grandes álbuns de rock foram produzidos naquele ano de 1975, mas a maioria das bandas remanescentes da década de 1960 e aquelas surgidas no início da década de 1970 logo perderiam espaço para o Punk Rock e, principalmente, para as músicas dançantes que fariam imenso sucesso com o surgimento da era da discoteca.
No Brasil, o ano de 1975 foi bastante prolífero para o rock nacional, com o lançamento dos álbuns “Fruto Proibido”, de Rita Lee com a banda Tutti Frutti, que trazia a música “Ovelha Negra” em uma das faixas; “Novo Aeon”, de Raul Seixas, tendo na abertura a ótima “Tente Outra Vez”; e “Criaturas da Noite”, da banda O Terço.
Cabe ainda o registro do primeiro disco de Zé Ramalho, em parceria com Lula Côrtes, denominado “Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol”, e o primeiro trabalho solo de Ney Matogrosso, o Água do Céu –Pássaro.
Disputa acirrada
Se no ano de 1975 suscitou uma quantidade considerável de grandes obras no que se refere a produções musicais, no campo cinematográfico não foi diferente. Foram produzidos verdadeiros clássicos do cinema ao ponto da disputa pelo Oscar, que ocorreria no ano seguinte, ter sido deveras acirrada.
Na disputa do Oscar de 1976, que premiaria os filmes lançados em 1975, estava o clássico e popularmente conhecido “Tubarão” (Jaws), de Steven Spielberg, um dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos, disputando o Oscar com “Um Dia de Cão” (Dog Day Afternoon), de Sidney Lumet, que teve Al Pacino e John Cazale como protagonistas, cujo filme foi baseado num roubo de banco ocorrido no Brooklyn, em 1972.
Além desses clássicos, concorreram ao Oscar de melhor filme daquele ano “Nashville”, de Robert Altman, e Barry Lindon, de Stanley Kubrick, porém o Oscar foi para “Um Estranho no Ninho” (One Flew Over the Cuckoo’s Nest), de Milos Forman. Estrelado por Jack Nicholson, o filme foi baseado no livro escrito por Ken Kesey, que conta a história de um homem que se finge de louco para não parar na prisão.
Dentre outros bons filmes lançados no ano de 1975 estão “O Homem Que Queria Ser Rei” (The Man Who Would Be King), de John Huston e estrelado por Sean Connery e Michael Caine; Dersu Uzala, de Akira Kurosawa; e “O Casamento”, de Arnaldo Jabor. Com roteiro baseado na obra de Nelson Rodrigues, o filme tem como personagem principal “Glorinha”, interpretada pela atriz Adriana Prieto, que faleceu num acidente de carro poucos dias após às filmagens.
Musicais antológicos
No ano de 1975 foram produzidos dois grandes musicais que se tornaram cult. O primeiro, lançado em março daquele ano, foi “Tommy”, de Ken Russell, embasado na ópera rock de mesmo nome, a qual fora lançada como o quarto álbum da banda The Who, em 1969. Basicamente, a história consiste num garoto cego, mudo e surdo que se torna campeão de pinball, tendo no elenco, além dos integrantes da banda, vários artistas e cantores famosos, como Ann-Margret, que foi indicada ao Oscar na categoria de melhor atriz, Oliver Reed, Elton John e Tina Turner.
O segundo filme, lançado em agosto no Reino Unido, foi The Rocky Horror Picture Show, de Jim Sharman. O filme é um musical cuja história mistura comédia, terror e ficção científica, tendo no elenco Tim Curry e Susan Sarandon com participações impecáveis.
Durante um curto espaço de tempo, o filme foi muito mal recepcionado, até quando o público decidiu participar ativamente do filme nas sessões ocorridas no Waverly Theater de Nova York, transformando as exibições numa experiência coletiva, cantando as canções do filme, vestindo-se como os personagens, repetindo as suas falas, abrindo os guarda-chuvas nas cenas de chuva… O mesmo público voltava a assistir ao filme repetidamente, e assim o filme acabou por conquistar fãs fervorosos.
A arte de ontem, hoje e sempre
Temos a tendência de acreditar que o passado foi melhor que o momento atual, e o presente artigo parece confirmar essa percepção, porém a arte abrange muito mais formas de expressão que o cinema e a música, como a pintura, a dança e a literatura, assim, qualquer tentativa de se estabelecer o período em que se produziu a maior quantidade de obras e de melhor qualidade culminará num resultado controverso, pois é praticamente impossível chegar a esse tipo de conclusão com um universo enorme de criações artísticas nos mais variados campos de atuação. O importante é valorizarmos aquilo que possui qualidade e estarmos atentos a tudo de bom que se é produzido.
Desse modo, é praticamente certo que nunca chegaremos a um veredito de quando a arte atingiu o seu auge, ainda que tenhamos hoje fácil acesso a quase tudo que se é produzido nos dias atuais, como também ao que se produziu em décadas passadas, e como teve troço bom lançado em 1975!
*O texto é de livre pensamento do colunista*




