1º Encontro Capixaba do Terceiro Setor inspira empreendedores sociais

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Terceiro Setor
Por: José Salucci – Jornalista

Vitória – Com uma abertura emocionante e de qualidade ímpar, teve início na noite de ontem (16), o 1º Encontro Capixaba do Terceiro Setor (ECATS). O evento, que se estende até sábado no Auditório da Faculdade Estácio, em Jardim Camburi, nasceu com a missão de conectar e fortalecer organizações da sociedade civil, empresas e o poder público. Tendo como tema central a “Intersetorialidade”, o encontro guiará mais de 30 palestrantes em três eixos temáticos fundamentais: Legislação e Políticas Sociais; Parcerias e Mobilização de Recursos; e Gestão, Estratégia e ESG.

A iniciativa é uma realização do Instituto PEB (Projeto Educa Basquete) e da Rede Pocante, com patrocínio da ArcelorMittal, Sicredi, Instituto Marca e Marca Ambiental, e apoio do Jornal Tempo Novo.

A música como ferramenta de transformação

A abertura dos trabalhos ficou a cargo do projeto Serenata D’Favela, que emocionou a plateia com sua orquestra e coral. A apresentação incluiu clássicos como “Como Nossos Pais”, de Belchior, e “Olhos Coloridos”, de Sandra de Sá. O ápice da emoção, no entanto, veio com “Canção Infantil”, de Cezar MC, uma música que retrata o crescimento das crianças na periferia sob a metáfora de uma casa simples, mas construída com amor. A performance levou parte do público às lágrimas e a aplaudir de pé.

Orquestra Serenata D’ Favela. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

Fundadora do Serenata D’Favela, a professora Luciene Pratti Chaves, 58, explicou como a música se tornou sua principal aliada. “A música me encontrou em 2009, quando passei em um concurso público que me levou para uma favela no Morro do Quadro, em Vitória. Eu precisava criar um vínculo para que o aluno entendesse que aquele lugar tinha sentido. Lembrei de Renato Russo, da Legião Urbana, que eu curtia demais, e levei para a sala de aula: ‘É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã’. A partir dali a música nos encontrou e fizemos essa revolução que vocês viram hoje”, relembrou.

O projeto, que funciona em uma casa locada pelo Banestes desde 2019, atende mais de 220 crianças e adolescentes com orquestra, coral, balé e atividades de formação profissional. “Essa orquestra nasceu para trazer novas paisagens sonoras, para ninar velhos e crianças. Durante a madrugada e, às vezes, durante o dia, o que se ouve são tiros. Meus alunos chegavam cochilando na aula por causa disso, e aquilo ficou na minha cabeça”, detalha Luciene.

Caçadores de Bons Exemplos: o profissionalismo como chave

Um dos momentos mais aguardados da noite foi a palestra dos empreendedores sociais Iara Xavier e Eduardo Xavier, do projeto Caçadores de Bons Exemplos. O casal, que já percorreu todos continentes, somando mais de 1 milhão de quilômetros – o equivalente a 20 voltas ao redor da Terra – e catalogou mais de 6 mil projetos sociais, contagiou a todos com uma mistura de bom humor, altruísmo e foco.

Durante a palestra, Iara narrou histórias de superação que presenciou nas visitas que fizeram aos projetos sociais, contou diversos desafios enfrentados pelo casal para continuarem o trabalho, momentos esses que fizeram a plateia se emocionar.

Em sua fala, Iara Xavier destacou o amadurecimento e a força do Terceiro Setor. Questionada se o setor ainda é um “nanico” dependente dos demais, ela foi enfática: “O Terceiro Setor está equivalente. Se for para chamar de braço, seria o braço direito, aquele que é potente, em quem todo mundo confia. O que os outros dois setores não fazem, o Terceiro Setor vem e faz”, afirmou.

Iara também deixou um recado sobre a importância da proatividade. “Nós começamos nosso trabalho com a frase de Gandhi: ‘Seja a mudança que você quer ver no mundo’. Pare de falar do problema e fale da solução. Deixe de ser espectador e venha ser personagem da transformação”, conclamou.

No canto direito da foto, Eduardo Xavier. Com o microfone na mão, Iara Xavier. Momento de celebrar o primeiro dia do ECATS. / Foto: Divulgação. Clique na imagem!

Com a experiência de quem está na estrada desde 2011, o casal testemunhou a profissionalização impulsionada pelo Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), de 2014. “O Terceiro Setor se profissionalizou, se educou. Hoje, não basta ter uma boa ideia ou apenas fazer caridade. É preciso gerar impacto real. O altruísmo é o primeiro passo, o que te move, mas ele não se perpetua sem profissionalismo”, analisou.

Para eles, o maior sinal de amadorismo em uma organização é a falta de planejamento para a sustentabilidade. “A falta de sustentabilidade financeira é o que consideramos o principal amadorismo. Ninguém vive de luz. É preciso ter a boa ideia, voluntários, mas sem dinheiro, não conseguimos impactar. É fundamental buscar mantenedores, sejam empresas ou pessoas físicas, que acreditem na sua causa”, pontuou Iara.

Eduardo complementou, ressaltando a necessidade de alinhar os projetos aos propósitos dos patrocinadores. “Muitos projetos procuram empresas que não têm a mesma visão ou missão. Um projeto de cuidado animal, por exemplo, terá mais chances ao buscar apoio em um pet shop ou empresa do ramo do que em uma faculdade focada apenas em educação. É preciso aproximar o patrocinador de seus ideais”, explicou.

Reconhecimento a quem faz a diferença

A noite também foi marcada por homenagens a oito instituições que são referência no estado do Espírito Santo: Serviço de Engajamento Comunitário (SECRI), Instituto Mulheres em Ação pela Cidadania (IMAC), Associação Cestas do Bem, Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (ACACCI), Instituto Esconderijo, Cariacica Down e Mulheres Curadas para Curar.

Maria Bernadet Romania, a Bella de Andorinhas, do IMAC, dedicou a homenagem à sua equipe: “Essa homenagem não é minha. É de todas as empreendedoras do Instituto IMAC e de toda a nossa diretoria”, disse.

Bella de Andorinhas, do IMAC. / Foto: Divulgação ECATS. Clique na imagem!

Elaine Rocha, terapeuta e uma das líderes do “Mulheres Curadas para Curar”, falou sobre a amplitude do trabalho realizado. “Atendemos mulheres com diversas demandas. Temos grupos de mães de autistas, balé, artesanato, encaminhamento para o mercado de trabalho e terapia em grupo. As demandas surgem e nós vamos conduzindo”, disse.

Já Deise Kelly Bertulan, presidente do “Instituto Esconderijo”, de Cariacica, contou que o projeto nasceu de uma necessidade da comunidade. “O nome vem da ideia de um lugar que te esconde de todo mal, que te guarda de tudo que oprime ou te faz desistir. Começamos no improviso, com aulas de reforço no chão de terra batida, mas movidos pelo desejo de mudar nossa realidade”, recordou.

Para muitos, o evento foi um combustível para continuar a jornada. Dionas Araújo de Souza, primeiro secretário do Instituto Esconderijo, resumiu o sentimento. “Saio daqui com a noção do impacto que uma vida, uma história, pode gerar. A palestra me mostrou que um simples passo pode mudar tudo. Sinto que tenho o poder de dar esse passo e fazer a diferença, inspirando outras pessoas a replicarem essas ações transformadoras”, concluiu.

Os representantes das entidades sociais homenageados receberam honra das mãos de autoridades políticas e institucionais. / Foto: Divulgação ECATS. Clique na imagem!

 

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