Mestre Doda e a lição dos 40 anos ACARBO: “Respeito, disciplina e hierarquia”

Colabore com essa informação! Pix47.964.551/0001-39.


Entrevista
Por: José Salucci – Jornalista

Em meio à vibração contagiante do evento “Berimbau Tocou”, que celebrou os 40 anos da Associação de Capoeira Arte e Recreação Berimbau de Ouro (ACARBO), em Santo Amaro da Purificação (BA), a equipe do Jornal Merkato encontrou um manancial de sabedoria e axé. Entre um toque de berimbau e outro, conversamos com Josemir dos Santos Boaventura, de 55 anos, mais conhecido e respeitado no universo da capoeira como Mestre Doda. Pedagogo, comandante da Guarda Municipal e, acima de tudo, um apaixonado pela arte que pratica há quase quatro décadas, ele nos oferece uma visão profunda sobre o que torna a capoeira baiana única e revela os pilares que sustentam não apenas um grupo, mas uma vida inteira.

Leia! Se inspire na série 40 Anos ACARBO!

1 – Mestre, para quem ainda não o conhece, quem é o senhor? Fale um pouco sobre seu nome, idade e sua terra.

Meu nome é Josemir dos Santos Boaventura, mas na capoeira sou conhecido como Mestre Doda. Tenho 55 anos e sou natural de Conceição da Feira, na Bahia, onde moro até hoje.

Mestre Doda na roda de conversa, num sábado, ensinando os princípios da capoeira. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

2 – Com a capoeira, o senhor já viajou muito pelo Brasil? Nessa sua experiência, o que torna a capoeira da Bahia tão especial e diferente?

Sim, já viajei por diversos estados do Brasil e conheço a Bahia quase toda. O que diferencia a capoeira baiana é o axé, a vibração, a energia positiva. Você pode chegar a um evento com o problema que for, mas quando se depara com essa energia que estamos vendo aqui, os problemas somem. Aquele axé entra na pele e tudo de ruim cai por terra. A capoeira é maravilhosa, é tudo na minha vida.

3 – O senhor mencionou que não depende financeiramente da capoeira, mas que precisa dela para viver. Qual é a sua profissão e como a capoeira se encaixa nisso?

Exato. Eu não dependo da capoeira para minha sobrevivência financeira, mas dependo dela para tudo na minha vida. Tenho formação acadêmica em pedagogia, sou agente da Polícia Militar da Reserva e, atualmente, sou comandante da Guarda Municipal em Conceição da Feira. Mas, de todas essas formações, a que eu amo de paixão e levo para onde vou é a de capoeirista.

4 – Ouvimos o senhor dizer uma frase marcante durante a oficina: “O conhecimento nunca é demais”. Qual a origem e o significado dela para o senhor?

Essa frase é minha: “O conhecimento nunca é demais e não há idade para buscar”. Foi, inclusive, a tese do meu trabalho de conclusão na faculdade de pedagogia. Eu comecei na capoeira em 1986, então já tenho 39 anos de prática, mas sinto que ainda não sei nada. Continuo em busca do conhecimento, porque quanto mais a gente aprende, mais percebe que há para aprender e para passar adiante. Quando damos aula, também estamos aprendendo com os alunos.

“Um verdadeiro educador de capoeira, não pode esquecer de três pilares fundamentais: respeito, disciplina e hierarquia”, disse Me. Doda. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

5 – E qual foi a principal mensagem que o senhor quis passar para os alunos aqui no evento Berimbau Tocou?

Eu passei para eles que, para ser um verdadeiro educador de capoeira, não podemos esquecer de três pilares fundamentais: respeito, disciplina e hierarquia. Sem esses três itens, não chegamos a lugar nenhum em qualquer profissão, seja médico, policial ou enfermeiro. Se você não tem respeito por si e pelos outros, não respeita a hierarquia e não tem disciplina, você não avança na vida.

6 – Falando em disciplina, esse é o segredo para a ACARBO completar 40 anos de história?

Com certeza. A ACARBO sempre teve essa base. O Mestre Macaco é meu amigo particular, mas, acima de tudo, é um ser humano disciplinado. E quando ele precisa “puxar nossas orelhas” — e ele começa pelos mestres, para dar o exemplo —, a gente ouve e obedece. Entendemos que o puxão de orelha não é para nos derrubar, mas sim para nos fortalecer e evitar que cometamos os mesmos erros.


 

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *