O impacto da saúde mental na produtividade dos brasileiros: uma análise profunda sob a ótica da gestão da emoção

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Coluna Letrados
Por: Samuel J. Messias – Consultor Empresarial

O presente artigo é uma abordagem inspirada na visão de Augusto Cury, uma das maiores referências mundiais no tema.

O cenário alarmante da saúde mental no Brasil

Vivemos em uma sociedade que adoeceu em um ritmo frenético. O excesso de informação, a pressão por desempenho e as incertezas de um mundo em constante transformação criaram o que o psiquiatra e escritor Augusto Cury denomina de Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Nossas mentes, bombardeadas por estímulos e preocupações, perderam a capacidade de se aquietar, de contemplar o belo, de gerenciar as próprias emoções. E esse adoecimento da psique coletiva cobra um preço alto, visível não apenas nos consultórios, mas também nos balanços das empresas e na economia do país.

O Brasil, em particular, enfrenta uma verdadeira epidemia silenciosa. Dados recentes da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam um quadro assustador: os afastamentos do trabalho por transtornos mentais e comportamentais aumentaram 134% entre 2022 e 2024, saltando de 201 mil para 472 mil casos. Em 2024, o país atingiu o maior número de licenças médicas por ansiedade e depressão em uma década, com um custo estimado de quase R$ 3 bilhões para a Previdência Social.

Os vilões dessa história são velhos conhecidos: ansiedade, depressão e estresse. Juntos, eles respondem pela esmagadora maioria dos afastamentos. As reações ao estresse grave lideram os afastamentos acidentários com 28,6% dos casos, seguidas de perto pela ansiedade com 27,4% e por episódios depressivos com 25,1%. Quando analisamos os afastamentos em geral, os episódios depressivos representam 25,6% dos casos, a ansiedade responde por 20,9% e a depressão recorrente por 12,0% do total.

Esse cenário foi drasticamente agravado pelas “cicatrizes da pandemia”, como definem os especialistas. O luto coletivo, o estresse do isolamento, a insegurança financeira e as mudanças abruptas nas relações sociais e de trabalho criaram um terreno fértil para o florescimento dos transtornos mentais. A chamada “quarta onda da COVID-19” – termo usado para descrever as sequelas emocionais da pandemia – finalmente se materializou em números concretos e alarmantes.

Estamos diante de uma geração de mentes cansadas, de cérebros que não pausam. A consequência direta é a queda vertiginosa da capacidade de produzir, de inovar, de criar. Um profissional com a mente aprisionada pela ansiedade ou pela depressão não está apenas ausente do trabalho (absenteísmo), ele pode estar presente fisicamente, mas com a mente a quilômetros de distância, imerso em seus próprios conflitos (presenteísmo). E o custo dessa ausência mental é ainda mais devastador do que os números oficiais conseguem capturar.

O custo humano e econômico da produtividade perdida

O impacto dos transtornos mentais na produtividade transcende os números de afastamentos. Ele se manifesta em um custo invisível, porém bilionário, que corrói a competitividade das empresas e o potencial de crescimento do país. Globalmente, a perda de produtividade associada à depressão e à ansiedade custa à economia cerca de US$ 1 trilhão por ano. No Brasil, a negligência com a saúde mental no ambiente de trabalho gera perdas anuais estimadas em R$ 300 bilhões [4].

Esses números, por mais impressionantes que sejam, não revelam a profundidade do drama humano por trás das estatísticas. Cada número representa uma vida, uma carreira interrompida, um sonho adiado. Representa o profissional que, mesmo presente em sua estação de trabalho, não consegue se concentrar, comete erros, tem dificuldade de se relacionar com colegas e perde a capacidade de resolver problemas. Esse é o fenômeno do presenteísmo, uma das faces mais cruéis do adoecimento mental no trabalho.

Sob a ótica da Teoria da Inteligência Multifocal de Augusto Cury, esse profissional está com o “eu” fragmentado, incapaz de gerenciar seus próprios pensamentos. Ele se torna um espectador passivo de um turbilhão de ideias negativas e antecipatórias que sequestram sua energia psíquica. A mente, que deveria ser uma fonte de criatividade e soluções, transforma-se em uma arena de batalhas internas, gerando um esgotamento que nenhuma noite de sono é capaz de reparar.

“Pensar é bom, pensar com consciência crítica é melhor ainda, mas pensar excessivamente é uma bomba contra a saúde psíquica, o prazer de viver e a criatividade.” – Augusto Cury

As empresas, muitas vezes, atuam como catalisadoras desse processo. Ambientes de trabalho tóxicos, com metas abusivas, falta de reconhecimento e comunicação violenta, são verdadeiras fábricas de transtornos mentais. Uma pesquisa da consultoria Gallup aponta que o Brasil é o quarto país com mais profissionais tristes ou com raiva diária na América Latina. Outro estudo revela que 86% dos trabalhadores brasileiros já enfrentaram algum problema de saúde mental. Adicionalmente, 72% dos trabalhadores relatam que a saúde financeira afeta diretamente sua saúde mental e emocional, criando um ciclo vicioso de preocupações que compromete ainda mais o desempenho profissional.

Ignorar essa realidade não é apenas uma falha de gestão humana, é uma decisão economicamente desastrosa. A boa notícia é que o caminho inverso também é verdadeiro: cada dólar investido em bem-estar emocional retorna, em média, quatro dólares em benefícios econômicos, incluindo o aumento da produtividade. Essa é uma das descobertas mais importantes da Deloitte sobre o retorno do investimento em saúde mental corporativa, demonstrando que cuidar da mente dos colaboradores é também uma estratégia de negócios inteligente.

Gerenciando a mente para uma vida mais saudável e produtiva

Se a raiz do problema está em uma mente hiperacelerada e mal gerenciada, a solução passa, necessariamente, pela reeducação do nosso pensamento. Não se trata de buscar soluções mágicas ou pílulas de felicidade, mas de um processo profundo de autoconhecimento e de desenvolvimento de ferramentas para se tornar o protagonista da própria mente. É aqui que a abordagem da Gestão da Emoção, proposta por Augusto Cury, oferece um caminho luminoso.

A Inteligência Multifocal nos ensina que somos o resultado de como construímos nossos pensamentos, organizamos nossas histórias e transformamos nossas energias psíquicas. Ser inteligente, sob essa perspectiva, não é acumular conhecimento, mas ser capaz de gerenciar o estresse, de se colocar no lugar do outro, de trabalhar perdas e frustrações e de proteger a própria emoção. Esta teoria se baseia em quatro pilares fundamentais: a construção das ideias e pensamentos, a organização das histórias em nossa memória, a formação da identidade e a transformação das energias psíquicas.

Para combater a Síndrome do Pensamento Acelerado e seus impactos na produtividade, Cury propõe técnicas práticas e aplicáveis no cotidiano. Uma das mais poderosas é a técnica do D.C.D. (Duvidar, Criticar e Determinar), que consiste em um diálogo interno para desarmar os pensamentos perturbadores.

O primeiro passo é Duvidar: questionar a veracidade e a utilidade de cada pensamento negativo que invade a mente, perguntando-se “Será que essa preocupação é real e proporcional aos fatos?”. O segundo passo é Criticar: analisar as causas e as consequências daquele pensamento, questionando “Por que estou pensando nisso? Quais as chances de isso realmente acontecer? Esse pensamento está me ajudando ou me paralisando?”. O terceiro e último passo é Determinar: tomar uma decisão consciente e proativa sobre o que fazer com aquele pensamento, afirmando “Eu decido não me escravizar por essa preocupação. Vou focar no presente e agir sobre o que está ao meu alcance.”

Além do D.C.D., outras práticas fundamentais incluem pausas para relaxamento, valorização de estímulos positivos e exercício da atenção plena. Essas técnicas são essenciais para desacelerar a mente e resgatar a saúde emocional. A prática regular dessas ferramentas permite que o indivíduo saia do “piloto automático” e retome o controle consciente sobre seus pensamentos e emoções.

Para as empresas, o caminho passa por criar uma cultura de segurança psicológica, onde o diálogo sobre saúde mental seja aberto e livre de estigmas. As organizações que investem em programas estruturados de saúde mental observam resultados mensuráveis: redução do turnover, diminuição do absenteísmo, aumento da criatividade e melhoria significativa no clima organizacional. Promover treinamentos de gestão da emoção, oferecer apoio psicológico e, acima de tudo, treinar líderes para serem mais humanos e empáticos são investimentos com retorno garantido.

Cuidar da saúde mental não é um luxo, mas uma condição essencial para a sobrevivência em um mundo complexo e desafiador. Para o trabalhador brasileiro, gerenciar a própria mente é a chave para reencontrar o prazer de viver e a capacidade de produzir. Para as empresas, é o caminho para construir equipes mais saudáveis, criativas e, consequentemente, mais produtivas. A jornada começa dentro de cada um de nós, na decisão de nos tornarmos autores da nossa própria história, e não vítimas de nossos pensamentos.

Como bem ensina Augusto Cury, a mente humana é o território mais complexo e fascinante que existe. Aprender a habitá-la com sabedoria e serenidade é, talvez, a habilidade mais importante que podemos desenvolver neste século. E quando conseguimos fazer isso, não apenas nossa produtividade aumenta, mas nossa qualidade de vida se transforma completamente. A gestão da emoção não é apenas uma técnica terapêutica, é uma filosofia de vida que nos permite navegar com mais tranquilidade pelas tempestades do mundo moderno.

*O texto é de livre pensamento do colunista*


Samuel J. Messias – *Reside em Vitória/ES *Consultor Empresarial *MBA em Estratégia Empresarial *Bacharel em Ciências Contábeis *Me. em Educação ( Florida University- USA). (Foto: Divulgação)

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