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Entrevista
Por: José Salucci – Jornalista
A equipe do Merkato esteve presente na grande festa da Associação de Capoeira Arte e Recreação Berimbau de Ouro (ACARBO), um dos grupos de capoeira mais tradicionais da Bahia, o qual celebrou suas Bodas de Esmeralda, marcando 40 anos de trajetória com o evento “Berimbau Tocou”, realizado entre 3 e 7 de setembro, em Santo Amaro da Purificação (BA).
Continuando nossa série especial sobre as quatro décadas da ACARBO, hoje vamos conhecer a história do terceiro mestre recém-formado no evento “Berimbau Tocou”. Ele é Lenylson Bispo dos Santos, o Mestre Leno, um pintor industrial de 41 anos, natural de Cachoeira, que carrega a capoeira no sangue desde a infância.
Ele entrou para a capoeira com apenas três anos de idade, inspirado pela família, e nos conta sobre a responsabilidade que vem com a corda branca e o sonho de usar a capoeira para transformar vidas.
Seja bem-vindo, Mestre Leno!
1 – Mestre Leno, um prazer conversar com você. Sua história com a capoeira começa muito cedo, ainda criança, certo? Conte para a gente como foi esse início. O que te levou para a primeira roda?
Meu início na capoeira foi em 1986, em Conceição da Feira, quando eu era bem criança. Já são 39 anos de capoeira! Meu primeiro professor foi o Mestre Admilton, e desde então, nunca saí do grupo ACARBO. Fui do cordel verde até o branco, sempre com ele.
A vontade de começar veio da minha família. Meu pai saía com meus irmãos, todos de branco, para a capoeira, e eu ficava em casa com minha mãe, chorando porque queria ir junto. Quando eles voltavam, eu via todos eles cantando, brincando, fazendo saltos… Aquela alegria de criança me contagiou. Fiquei pedindo tanto ao meu pai que, um dia, com apenas três anos de idade, ele me levou.
2 – Você é de Cachoeira, uma cidade muito próxima de Santo Amaro, o berço da ACARBO. Para muitos, Santo Amaro é a fonte da capoeira mais tradicional. O que essa capoeira, esse legado dos ancestrais, representa para você?
Eu desenvolvo meu trabalho na minha cidade, e para nós, que cultivamos o legado que nossos ancestrais deixaram na capoeira, isso é muito importante. Manter essa raiz viva é fundamental.
3 – A ACARBO completou 40 anos, um marco histórico em um meio onde os grupos, muitas vezes, se dividem. Na sua opinião, qual é o segredo para essa longevidade?
Na verdade, o Mestre Macaco sempre buscou ser um espelho para a gente. Ele está sempre focado nos objetivos, com o máximo de respeito e dedicação. É isso que fez o grupo chegar onde chegou, e tenho certeza de que vai chegar muito mais longe.
4 – E para alguém que sonha em chegar onde você chegou, quais são os fundamentos essenciais para se tornar um mestre dentro da ACARBO?
A gente busca sempre somar. É preciso saber os fundamentos, conhecer os toques, cantar, jogar e, principalmente, saber lidar com as pessoas, com seus alunos. É buscar ter sempre humildade, caráter e respeito. Não humilhar ninguém, procurar a paz e ser um espelho para o próximo e para os seus alunos. Um mestre, antes de tudo, tem que ser um espelho dentro da sua própria casa.
5 – Você falou sobre Mestre Macaco ser um espelho. Como você o descreveria como pessoa e como professor?
O Mestre Macaco sempre foi um homem muito responsável, sempre se preocupou em passar o trabalho da capoeira da forma correta para a gente. Ele sempre foi um espelho de mestre e de pai. A humildade que ele tem é enorme. Sempre foi um bom mestre, e eu só posso dar os parabéns de coração para ele.
6 – Falando em emoção, no dia da sua formatura, qual foi o momento que mais te marcou?
O momento mais emocionante foi quando entreguei minha graduação a um dos mestres mais queridos, por quem tenho o máximo de respeito e que tem um grande carinho por mim e pela minha família. O que mais me emocionou foi que, na verdade, quem deveria amarrar minha corda era o meu mestre, mas ele não pôde estar presente. Então, entreguei a corda a outro mestre que o representa. Foi emocionante quando ele estava amarrando minha corda de mestre, ponto por ponto, e me deu aquele abraço… um abraço de irmão, de pai, de um espelho dentro do grupo. Foi muito emocionante mesmo.
7 – Agora, com a corda de mestre na cintura, a responsabilidade aumenta. Quais são seus planos para o futuro?
Meu plano é continuar buscando a capoeira mais ainda, porque agora a responsabilidade é dobrada. Quero continuar o trabalho de tirar os jovens das ruas e das drogas, como sempre fiz, trazendo eles para dentro da capoeira. Faço isso para que, amanhã, eles possam ver o espelho que eu fui e seguir o mesmo caminho, buscando mais educação, a disciplina da capoeira, e se tornando homens e mulheres de bem.
8 – Para finalizar, Mestre Leno, o que significa para você “ser um mestre de capoeira”?
Ser um mestre de capoeira é ser um espelho, é ser um pai, porque os alunos são como filhos para nós. Então, ser mestre é o ponto mais alto que a gente alcança e, a partir daí, temos que buscar ser esse espelho. É um ponto muito importante. Eu acho isso muito importante.



