Nos 40 anos da ACARBO, a simplicidade do novo Mestre Pescador

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Entrevista
Por: José Salucci – Jornalista

A equipe do Merkato esteve presente na grande festa da Associação de Capoeira Arte e Recreação Berimbau de Ouro (ACARBO), a qual celebrou suas Bodas de Esmeralda, marcando 40 anos de trajetória com o evento “Berimbau Tocou”, realizado entre 3 e 7 de setembro, em Santo Amaro da Purificação (BA).

Durante o evento, foram entrevistados vários mestres, entre eles, três recém-formados. Após a conversa com Mestre Pitbull, nosso segundo entrevistado é Nilson Queiroz dos Santos, o Mestre Pescador. Natural de Cachoeira (BA), mas criado em Conceição da Feira (BA), o capoeirista de 43 anos nasceu no de 1982, uma data curiosamente simbólica.

No mesmo ano, a Revista Manchete estampava em sua página: “Capoeira – quem não briga, dança”. A reportagem narrava a façanha de reunir, na mesma roda, os seis maiores mestres de capoeira da Bahia da época, algo que não acontecia há 20 anos: Waldemar da Paixão (Waldemar), Rafael Alves França (Cobrinha Verde), João Pereira dos Santos (João Grande), José Gabriel Goes (Gato), Canjiquinha e João Oliveira dos Santos (João Pequeno).

Essa conexão entre datas e recomeços ecoa uma tradição filosófica da capoeira: a “volta ao mundo”. E Mestre Pescador já deu as suas, levando a arte para países como França, Turquia e Grécia.

A seguir, leia a entrevista com o novo mestre, realizada na Praça da Igreja Matriz Nossa Senhora da Purificação, na noite de sábado (06). Em meio à efervescência do evento, Mestre Pescador compartilhou, de forma objetiva e direta, suas reflexões sobre a arte que moldou sua vida. AXÉ!

1 – Mestre Pescador, como foi o seu início na capoeira?

Comecei a pratica da capoeira na década de 90, quando vi uma roda de capoeira na frente do Mercado Municipal, ao lado do antigo coreto, que existia ali, com grandes capoeiristas da ACARBO. Aprendi com o professor Mantena, aluno do Mestre Admilton, que por sua vez, era aluno do Mestre Macaco. Desde aquela época, eu frequento Santo Amaro, e foi a capoeira que me deu essa forte ligação com a cidade.

2 – Em sua jornada, especialmente nas viagens internacionais, qual foi o aprendizado mais marcante?

Quando viajei pela capoeira para a França, Turquia e Grécia, onde fui ministrar aulas, aprendi algo muito importante: ter cuidado com o que se fala e com quem se fala. Às vezes, você diz algo para alguém e essa pessoa leva adiante como um “telefone sem fio”, e a mensagem chega ao destino de outra forma, aprendi a valorizar mais as minhas raízes, uma experiência incrível.

Roda de capoeira, antes do batizado. O dia em que a comunidade caopeirística da Acarbo formalizou a mestria do Me. Pescador. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

3 – Atualmente, você mora em Salvador. Qual a diferença entre a capoeira praticada em Santo Amaro e na cidade soteropolitana? Santo Amaro ainda pode ser considerada a capital da capoeira?

Salvador é o seguinte: lá você encontra todo tipo de capoeira. Encontra-se a capoeira tradicional, como essa de Santo Amaro, a capoeira mais contemporânea e outros estilos, capoeira mais agressivas e muita capoeira para show. Há também muita capoeiragem, cada uma com sua peculiaridade: uma para apresentações, a de rua e outras que mais parecem ringues, com foco no combate.

Então, quando você aprende a escolher os lugares para frequentar, aprende a filtrar e só participar do que te agrada, mais às vezes, a violência vem até você, precisamos de estar preparados.

Em relação a Santo Amaro ser a capital da capoeira, hoje em dia não mais, mas já foi. Em termos de história, é Santo Amaro. Em termos de quantidade e eficiência, há outras cidades. Salvador, por exemplo, tem muita capoeira boa e eficiente.

4 – A ACARBO completou 40 anos, um marco histórico em um meio onde grupos frequentemente se dividem. Qual é o segredo para essa longevidade?

Amigo, 40 anos é resultado de um bom trabalho. Discordâncias existirão em todos os setores e em todos os grupos. Alguns discordaram e ficaram pelo caminho, outros Deus levou, outros escolheram caminhos errados e se foram. Mas, para se manter por 40 anos, o segredo é não ficar parado, é simplesmente fazer um bom trabalho. Só isso.

Daqui eu pouco eu recebo o cordel, vou me formar. Obrigado, Senhor! / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

5 – Quais são os fundamentos essenciais para se tornar um mestre na ACARBO e para manter o bom relacionamento entre os integrantes?

Respeito, disciplina e participação ativa. Mestre Macaco nos deixa livres. Ele passa o fundamento, e nós seguimos. E para mantermos esse bom relacionamento, basta cuidar da sua própria vida e não passar seus problemas adiante. Se um amigo vem conversar com você, transmita respeito e coisas boas. Se você ficar alimentando falácias, coisas que não têm fundamento, você se atrasa e atrasa todo o grupo.

6 – Qual foi o momento mais emocionante da sua formatura?

Rapaz, foi massa. O momento em que recebi o cordel nas mãos. Senti uma emoção muito grande, quase chorei. Momento único. Só em ver todos que se fizeram presentes e vê que cheguei em uma nova etapa, nova caminhada…

Mestre Neném batizando o Mestre Pescador, o cordel da pureza. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

7 – Quais são seus planos e sonhos para o futuro como mestre?

O sonho de um capoeirista é ter um espaço próprio. Construir uma sede é claro, mas eu corro atrás desse objetivo.

8 – Para finalizar, que mensagem você deixa?

Sou muito grato pela festa. Eu já era chamado de mestre há mais de 10 anos, tenho 30 anos de capoeira. Agora, com o reconhecimento oficial da minha comunidade, o caminho é manter o respeito, treinar mais e estar sempre preparado para dar respostas de acordo com as perguntas.

“O mestre é um aluno que nunca desistiu de treinar”, por isso apenas treine, se permita a errar, a tentar a cair e levantar, lembre-se: “estamos no mesmo mar revolto, cada um em seu barco”, as dificuldades não são iguais para todos, podem até parecer, mas não é. Axé e a Bahia é nossa!


 

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