O poder da fiscalização

Colabore com essa informação! Pix47.964.551/0001-39.


Entrevista
Por: José Salucci – Jornalista

A violência é motivo de preocupação para a sociedade civil e o poder público. O município de Serra está em segundo lugar entre os municípios com mais casos de estupro em 2025: são 52, conforme exposto no vídeo realizado pelo vereador Agente Dias.

Nos últimos 30 dias, houve cinco casos graves de estupro e também tentativas, contra as mulheres, na Grande Laranjeiras. Terrenos abandonados, ou até mesmo vias públicas com vegetação alta, são ‘oportunidades’ para que criminosos cometam esse tipo de delito.

Merkato conversou com o vereador Agente Dias, em seu gabinete, na tarde dessa quarta-feira (25), para esclarecer as polêmicas envolvidas com o parlamentar após vídeo postado em sua rede social, em que o próprio vereador gravou imagens dentro do bairro de Valparaíso, expondo um caso de estupro, além de ter chamando a atenção da Prefeitura sobre um terreno baldio, que é privado, porém apresenta riscos à sociedade. Agentes da liderança comunitária e moradores do bairro estão acusando o parlamentar de se autopromover com o caso.

Merkato esclarece que o direito de resposta é um princípio da democracia e, também, abre espaço para a liderança comunitária de Valparaíso se manifestar.

Leia a entrevista!

1 – Agente Dias, o senhor trabalha há nove anos na segurança pública. Quais são os maiores desafios que o senhor enfrenta?

O próprio sistema. Ele é moldado para punir o cidadão de bem e privilegiar o criminoso. Nós temos policiais e guardas com vontade de fazer o bem, mas o próprio sistema não deixa: o sistema penal, as leis que protegem criminosos, essa vitimização do criminoso quando comete o crime.

Então o próprio sistema, ele limita os agentes de segurança pública de poder fazer mais. E mesmo com essas dificuldades, eu enfrento o sistema.

Entendo que, enfrentar o sistema não é fácil, porque quando você começa a ir de encontro ao sistema, você começa a ser perseguido. E, é o que está acontecendo comigo, de forma política e de forma invejosa.

2 – O que esses noves anos de agente civil pôde contribuir para que hoje o senhor exerça o mandato de vereador de forma consciente?

Me tornou uma pessoa mais paciente, mais estratégica, mais arisca para algumas coisas. Me trouxe uma confiança de poder falar o que eu penso. Eu não fico no meio do muro, e essa postura, eu trago lá de fora. Os meus nove anos de guarda municipal civil, é o que vem me facilitando em ser um vereador independente, e não oposição, porque eu tenho votado a favor de projetos feito pelo Executivo, que são bons para a cidade. Então, eu trouxe essa bagagem de uma confiança naquilo que eu acredito.

3 – Sobre o vereador fiscalizar lugares e situações mesmo que não esteja inserido como membro de alguma comissão, o que o senhor pensa?

O vereador é eleito pelo sistema democrático, ele representa uma parcela da sociedade. O vereador pode fiscalizar, mas o que vem tendo entendimento agora, é que, o vereador precisa de estar em uma determinada comissão: saúde, educação, enfim, para ele poder fiscalizar. Só que a palavra fiscalizar, ela também pode vir junta com a palavra representar.

Vou dar o exemplo do caso de estupro em Valparaíso. Se eu fosse um cidadão comum, eu poderia pedir mais segurança? Sim. Outra coisa é: eu posso, como vereador, não estando em numa comissão, convocar uma secretária ou ir na sala dela sem uma agenda, ou solicitar documentos de uma forma arbitrária? Não.

Então, eu acho que, o fiscalizar se confunde com o que eu chamo de representar. E, se confunde mais ainda quando o vereador tem uma relevância na rede social. O assunto repercutiu, e o vídeo da cena do crime começou a chegar até meu gabinete, no meu celular… um monte de gente, que votou em mim ou não, começaram a pedir uma providência, porque eu sou uma voz representativa, e isso incomoda.

4 – O vídeo que o senhor gravou em Valparaíso está sendo questionado por parte dos membros da diretoria comunitária, o que tem a dizer?

Existe um acordo de cavalheiros, que não está escrito em lugar nenhum, em que o vereador não fica entrando no bairro de outro vereador. Eu não faço parte desse acordo. Então, não tem como me cobrar algo daquilo que eu não faço parte. Vereador não entra em bairro de outro vereador… isso é uma prática na Serra… É um acordo de cavalheiros entre eles, em que não tem como fazer parte de um acordo em que não me beneficia em nada.

Criou-se na Serra, por anos de política, em que você era eleito através de uma liderança comunitária ou por um emaranhado de acordos políticos, essa era a forma de se fazer política.

Agora, chega o Agente Dias e o Pr. Dinho na Serra, em que se apresenta uma nova forma de fazer política, e que me desculpe a palavra: a gente não deve nada a ninguém. Eu não tenho um líder comunitário no meu quadro de assessores.

Eu só entendo que, não tenho que entrar em Valparaíso e mandar mensagem para uma vereadora, para fazer uma fiscalização, com todo o respeito que eu tenho a ela. Eu não acho que eu tenho que mandar mensagem para o presidente do bairro. Ainda mais tratando das minhas pautas de segurança pública.

5 – O que te feriu nessa história em que dizem que o senhor quer se promover com esses vídeos?

O que feri é o seguinte: o que que é autopromoção? Eu realizar o meu serviço é autopromoção? Porque se isso for autopromoção, então o médico não pode atender, o pedreiro não pode fazer uma parede perfeita. O que que é autopromoção?

Recentemente, numa sessão, aqui, na Câmara, o vereador foi muito infeliz dizendo que eu fui eleito pela minha farda. Então o Sérgio Vidigal foi eleito por que ele era médico? Entende? É complicado. Então, o que feri são as pessoas usarem esse argumento raso.

Um líder comunitário, pode ser eleito se ele fez um bom trabalho em seu bairro. Um guarda municipal, ele pode ser eleito porque salvou vidas. Agora, se as pessoas olham para o meu trabalho e falam que eu estou me promovendo por causa disso, eu não sei mais o que eu posso fazer.

Eu gosto de debater ideias, agora falar que eu estou me autopromovendo num caso de estupro, ao qual é uma situação que atendo diariamente no meu serviço, entre casos da Maria da Penha, tráfico de drogas, assalto, enfim. Isso para mim é rotineiro atender.

Por isso, quando eu levo uma mensagem para as pessoas que esse terreno está abandonado e que ele é um possível local para arrastar uma mulher e cometer qualquer atrocidade com ela, se isso é autopromoção, me desculpa. Eu vou ficar me autopromovendo pelos quatro anos aqui como vereador.

6 – Qual a proposta para os bairros que possuem terrenos particulares que estão abandonados, trazendo risco para ações de criminosos, como resolver essa situação?

Nós temos uma grande questão de legislação em que a Prefeitura não pode entrar em num terreno particular e limpá-lo. Mas, já está sendo feito um projeto de lei, aqui, para Câmara de Vereadores, de autoria do Executivo, em que autoriza a Prefeitura a limpar esses terrenos particulares e depois cobrar 1% do valor venal do imóvel. E, com certeza, esse projeto vai passar na Câmara.

Como que eu voto contra o Executivo só por questões ideológicas, ou porque eu sou um vereador independente? Não tem como.

Semana passada, eu estava chamando a atenção por terrenos que estão com mato alto, eu estava pedindo a Prefeitura para autuar os proprietários e as autuações não estava resolvendo, então a Prefeitura olhou para essa situação e vai enviar um projeto para cá que eu já estou lendo, destrinchando-o todo, porque na minha visão, o projeto é muito benéfico para a sociedade.

Terrenos que estão sem murar, a Prefeitura poderá murar e cobrar do proprietário, ou utilizar cerca, um dos dois. E isso vai fazer com que a gente diminua os riscos de criminalidade. O criminoso só vai cometer crime mediante oportunidade.

7 – Gostaria de deixar alguma palavra para se aproximar da liderança comunitária de Valparaíso?

Sim. Estou com o diálogo aberto com a liderança. Proponho que o centro comunitário seja um local para abrigar os agentes da Guarda Municipal em horário de almoço, lanhe e janta. Para que o próprio agente também possa usar o banheiro, inclusive este vereador que vos fala, tá de escala durante a semana dentro do bairro de Valparaíso, eu conheço o bairro. Ainda atuo como agente, e ao mesmo tempo como vereador.

Eu faço meu horário de almoço na região do Civit. Eu poderia estar almoçando em Valparaíso, vai ter uma viatura ali pelo menos por uma hora, que é o horário que eu tiro para eu almoçar desde que não chegue a ocorrência.

Também proponho ao presidente do bairro em fazer um mutirão, pintar o centro comunitário, eu cedo alguns móveis, coloco um ar-condicionado, a gente vai ter uma viatura ali constantemente e um local de referência para aquela população quando precisar da guarda municipal. É o meu primeiro sinal com o líder comunitário.

Sugiro a comunidade que esse espaço seja um ponto de apoio para os agentes, em que, nesse local, constantemente terá viatura parada e, logicamente, se eu tenho um local para fazer uma alimentação, usar um banheiro, eu vou estar naquele local. Então, vou estar mais perto de Valparaíso.

Hoje, a ronda da guarda municipal vai até meia-noite. O prefeito Weverson Meireles precisa cumprir a promessa de campanha dele: disponibilizar por 24 horas a guarda municipal. Então, se isso ocorrer, no turno da madrugada, os agentes vão ter que parar em algum lugar.

Então assim, se a comunidade e o presidente aceitarem, eu acho que seria o primeiro diálogo. Valparaíso teria ponto de referência de segurança pública. Porque hoje, o agente não tem esses espaços nem pra almoçar. E aí sabe para onde eu vou? Para dentro de empresa.


Colabore com essa informação! Pix47.964.551/0001-39.

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *