Amor e Axé: casal vence o Torneio de Capoeira de Roda de Rua, em Jacaraípe

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Esporte/Capoeira
Por: José Salucci – Jornalista

Jacaraípe – Serra. O chão da Rua Dr. Francisco Otaviano Chaves, em Jacaraípe, transformou-se em um grande terreiro de axé e tradição. Ao som vibrante dos berimbaus, atabaque e pandeiro, a 2ª edição do “Torneio de Capoeira de Roda de Rua” provou que a alma da cultura popular brasileira está mais viva do que nunca. O evento, um verdadeiro manifesto cultural, atraiu atletas da Grande Vitória, do interior do Espírito Santo e de estados como Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Sergipe para celebrar a arte da malandragem, do equilíbrio e da expressão.

Organizada com afeto e dedicação por Mestre Boca Preta e Bruxa Viviane Melo, a competição não foi apenas sobre quem joga melhor, mas sobre fortalecer laços e valorizar a história de cada capoeirista. Com os olhos marejados, o idealizador do torneio expressou o sentimento que pairava no ar.

“Eu quero agradecer à minha filha, aos meus filhos espirituais, à minha esposa, a todos os capoeiristas que vieram e competiram, e aos que vieram para apoiar. Quero agradecer aos árbitros; ao Tico, que organizou o regulamento. O evento deu certo. Nós fizemos o evento para a valorização do capoeirista”, disse emocionado Mestre Boca Preta.

Outra voz importante não só no evento, mas no coração da capoeiragem é Mestre Barreto, que exerce mestria na vida do Me. Capeta, ou seja, avô de capoeira de Me. Boca Preta. “Capoeira é perigo constante. O evento relembra as raízes da capoeira”, fala marcante de Me. Barreto durante o evento.

À esquerda da foto, Me. Luiz Capeta. No centro da foto, Bruxa Viviane e Me. Boca Preta (boné). Ao lado, Mestre Barreto. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

Na roda e na vida: a ginga de amor de Sapecado e Abelhinha

Entre tantos talentos, uma história de amor e sintonia roubou a cena. Professor Sapecado e a capoeirista Abelhinha, ambos de Cachoeiro de Itapemirim, não apenas compartilham a vida como um casal, mas também dividiram a cena de campeões do torneio em suas respectivas categorias. O destino, ou talvez a própria ginga da vida, reservou a eles uma dupla honra, que, somada, rendeu um prêmio de R$ 2.400,00.

Para Aírton da Silva Paulo Júnior, o Professor Sapecado, de 27 anos, a vitória em sua primeira competição de rua teve um sabor especial de superação. “Para mim foi uma grande experiência, porque encontrei vários capoeiristas muito bons aqui, onde eu tive que me desafiar e lembrar de tudo aquilo que eu treinei para ver se eu conseguia me diferenciar, porque aqui tem qualidade de capoeira e foi muito cerrado”, afirmou o campeão, que é mecânico automotivo.

O sentimento foi compartilhado por sua parceira, Giovana Paula de Souza, a Abelhinha, de 21 anos. Com 10 anos de dedicação à capoeira, a vitória representou um reencontro com sua própria força. “Significa muita coisa, porque a capoeira faz parte da minha vida. Ter conquistado uma coisa que nem eu mesma acreditava que iria conquistar, foi muito significativo para mim, fez eu voltar a confiar mais no meu jogo”, revelou a estudante de marketing.

A celebração da cultura popular foi prestigiada também por autoridades, como o vereador de Vitória, Aloísio Varejão, que elogiou a força e a expressão do evento. Contudo, a bênção mais significativa veio de quem viu tudo começar. Mestre Luiz Capeta, mestre de Boca Preta, não poupou elogios ao seu discípulo. “A nota que eu dou é 10. Meu discípulo e toda a sua equipe trouxeram um sábado construtivo para o futuro da capoeira em Jacaraípe”, disse.

Ele ainda refletiu sobre a essência do jogo. “Os atletas disputaram, e não quer dizer que um é melhor do que o outro. O momento de cada um foi adquirido dentro da roda e venceu aquele que foi merecedor da capoeira, que se saiu bem durante o jogo”.

“Pé quente e cabeça fria”: a estratégia na final masculina

A grande final da categoria masculino foi um espetáculo de tirar o fôlego. De um lado, Professor Sapecado (Associação Cultural Educacional de Capoeira Filhos da Princesa do Sul); do outro, o ágil capoeirista Feijão, cerca de dez anos sem treinar capoeira, o torneio veio para resgatar o talento. Em dois tempos de 90 segundos, os corpos dos atletas se transformaram em um balé popular, movido pela vibração da torcida e pelo toque frenético de São Bento Grande.

O empate persistiu, forçando um tempo extra de um minuto e meio. O cansaço era visível, mas a técnica e a garra falavam mais alto. Novamente a luta terminou em empate. Em uma decisão baseada nos detalhes e na maior precisão técnica, os árbitros, Me. Zé Branco (Associação São Salvador de Capoeira e Cultura), Me. Santana (Grupo de Capoeira Axé – SP) e o juíz de centro, Professor Parede (Associação Capoeira Força Negra), declararam Sapecado o grande campeão.

De calça preta, Sapecado atento no jogo, olhando para o capoeirista Feijão, para não ser surpreendido com algum movimento de ginga. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

O campeão disse a reportagem a estratégia durante a final. “Foi manter a paciência, manter a cabeça fria. No meu grupo, a gente costuma falar que o capoeirista é pé quente e cabeça fria. Ou seja, qualquer situação difícil que a gente tiver na roda, não pode perder o controle. É respirar fundo e botar o jogo para rolar”, explicou. Sapecado também fez questão de honrar seu adversário: “Esse adversário foi massa, ele era rápido. Me esforcei bastante para desviar dos golpes dele porque eram certeiros, o cara foi preciso”. O segundo colocado levou pra casa um prêmio de R$ 800,00.

Resgatando tradições para conquistar a vitória

Na final feminina, Abelhinha enfrentou a capoeirista Princesinha em uma disputa igualmente acirrada, a diferença no resultado da pontuação foi de 0,5 pts.  Princesinha, por ter sido vice-campeã, ganhou o prêmio de R$ 800,00.

Na grande final feminina, pura técnica da Formada Abelhinha (esquerda da foto), discípula do Mestre Paulinho. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

Para superar a adversária, a jovem de Cachoeiro buscou em suas raízes a inspiração para vencer. Durante o minuto de descanso entre os tempos, a estratégia foi clara: conectar-se com os ensinamentos de seu grupo, a “Associação Cultural Educacional de Capoeira Filhos da Princesa do Sul”.

“Eu pensei mais em usar os movimentos que o mestre me passa para poder conseguir me sair bem e fazer o meu jogo, que é o que importa. Tentei resgatar as tradições do meu grupo”, contou a campeã. A tática funcionou, e ela levou para casa o prêmio de R$ 1.200,00.

E o que o casal de campeões fará com o dinheiro? A resposta de Sapecado une o sonho da capoeira à realidade do dia a dia: “Então, como qualquer casal, a gente tem conta, né? Esse dinheirinho vai servir para isso mesmo”.

Categoria Absoluto

A primeira edição do “Torneio de Capoeira de Rua”, em Jacaraípe, teve como campeão o capoeirista Cupim. No regulamento do atual evento, os vencedores das categorias masculino e feminino recebem a escolha se querem ou não enfrentar o vencedor da última edição. Na ocasião, a capoeirista Abelhinha se satifez com o atual título. Já Sapecado, topou o desafio de enfrentar a valentia e sagacidade de Cupim. O confronto ainda terá data marcada. O prêmio para o vencedor fica em R$ 1.000,00.

Capoeirista Cupim, à esquerda da foto, enfrentará seu cinturão contra o atual campeão do Torneio de Capoeira de Roda de Rua: Sapecado. / Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!

Mais que uma competição, o torneio em Jacaraípe foi a celebração de um povo, de uma arte que resiste e floresce no chão da rua, na praça, no coração de cada um que vive e sente o axé da capoeira. Vida longa ao casal campeão e à capoeiragem de rua.

Foto: Jornal Merkato. Clique na imagem!
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