Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Em alguns momentos de nossas vidas deparamos com entes queridos que se vão cedo demais. Amigos e parentes que nos deixaram ainda na flor da idade, com uma vida pela frente, como costumamos dizer. Obviamente, no meio artístico a morte prematura também ocorre. E são muitos os exemplos.
Poucos dias depois do lançamento nos cinemas do filme “Poltergeist: o Fenômeno” (1982), a atriz Dominique Dune, que participara do filme, foi estrangulada pelo seu ex-namorado que não aceitava o fim do namoro. Ela tinha 22 anos e interpretava a personagem Dana Freeling, irmã da personagem Carol Anne Freeling, interpretada por Heather O’Rourque, que, por sua vez, viria a falecer aos 12 anos de idade devido a um choque séptico fatal ocorrido durante uma cirurgia. Fernando Ramos da Silva, ator mirim que interpretou Pixote no filme “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1980), após uma troca de tiros com a polícia em virtude de um suposto assalto, acabou não resistindo aos ferimentos, vindo a falecer aos 19 anos de idade.
No universo da música, chama a atenção o acidente aéreo ocorrido em 3 de fevereiro de 1959, conhecido como o dia em que o rock morreu, que vitimou três grandes astros do rock: Buddy Holly, com a idade de 22 anos, Ritchie Valens, com 17, e The Big Bopper, nome artístico de J.P. Richardson, tendo 28 anos na época do acidente. No Brasil, em 1996, o acidente aéreo envolvendo a banda Mamonas Assassinas deu fim à vida dos cinco integrantes do grupo, cujas idades compreendiam entre 23 e 28 anos.
Em meio às muitas tragédias envolvendo celebridades, surgiu um fenômeno cultural relacionado a diversos músicos que morreram tragicamente aos 27 anos de idade, cujo fenômeno reforçou a teoria de que os artistas estariam mais propensos a falecerem com a referida idade. Essa teoria é refutada por alguns e alimentada por outros, oscilando entre realidade e mito.
Aos 27
A década de 1960 foi bastante prolífera para a indústria fonográfica, com o aparecimento de grandes bandas e cantores fazendo estrondoso sucesso perante o público. Dentre estes, estavam Brian Jones, multi-instrumentista e cofundador da banda Rolling Stones; Jimmi
Hendrix, líder da banda “The Jimi Hendrix Experience”, considerado por muitos o maior guitarrista de todos os tempos; Janis Joplin, dona de uma voz possante e inconfundível; e Jim Morrison, vocalista da banda The Doors, que unia poesia à música em meio às apresentações de sua banda. Esses artistas citados morreram entre os anos de 1969 e 1971, todos eles com 27 anos de idade, e por serem tão icônicos, suscitou-se a crença de que os artistas famosos tenderiam a morrer com essa idade. Assim surgiu o mito do “Clube dos 27”, o qual persistiu na cultura popular, apesar de diversos estudos científicos e sociológicos terem refutado tal crença.
A teoria do “Clube dos 27” ganharia reforço com a morte de outros astros do rock, desde o suicídio de Pete Ham, líder da banda Badfinger, em 1975, até a morte de Amy Winehouse, ocorrida em 2011, dando origem a outras teorias conspiratórias e superstições que relacionam as mortes a maldições e pactos, algo semelhante à lenda de Robert Johnson, a qual sugeria que ele teria vendido a alma ao diabo em troca de talento musical. Aliás, Johnson também morreu aos 27 anos de idade.
Outros famosos que morreram aos 27 anos estão Kurt Coubain, músico fundador da banda Nirvana, e Gary Thain, baixista da banda Uriah Heep, além de mais 60 outros músicos que também morreram com essa idade. Diversas canções fazem referência ao “Clube dos 27”, como as canções “Club 27”, das irmãs MonaLisa Twins, e “27 Forever”, de Eric Burdon.
O rap estadunidense, Mac Miller, na música “Brand Name”, declarou:
“To everyone who sell me drugs
Don’t mix it with that bullshit,
I’m hoping not to join the 27 club”
“Para toda a gente que me vende drogas
Não misturem com essa porcaria.
Espero não me juntar ao clube dos 27”.
Miller não entrou no fatídico Clube dos 27, pois morreu aos 26 anos depois de consumir comprimidos de oxicodona contendo fentanil.
Preço elevado
Se os estudos realizados revelam que não há uma causa científica que justifique a teoria do “Clube dos 27”, estes indicam que há uma menor expectativa de vida dos músicos famosos comparada ao público em geral, e até mesmo em relação aos músicos que não fazem sucesso.
Segundo o levantamento realizado pelo Hospital St Vincent, de Sidney, Austrália, astros que conseguiram alcançar a fama vivem cerca de cinco anos menos que os artistas que não são conhecidos pelo grande público e sete anos e meio menos que as pessoas que exercem outras profissões.
Dentre as principais causas da morte precoce de artistas consagrados pelo público estão a depressão e ansiedade, que, por sua vez, estão relacionadas ao abuso de álcool e drogas. Suicídio e doenças graves ocasionadas pelo estresse da fama e o estilo de vida intenso também se configuram como causas comuns da morte de artistas. A necessidade urgente de constantemente se deslocarem em face ao número elevado de apresentações, explicam as mortes ocasionadas por acidentes aéreos e automobilísticos.
Sem mistério
Se existe uma diferença na expectativa de vida dos artistas em relação aos anônimos, as sugestões para que o artista possa evitar os principais fatores que afetam negativamente o seu tempo de vida são deveras similares para qualquer ser humano.
Buscar apoio psicológico e terapia para lidar com a pressão da fama; adotar uma dieta saudável e nutritiva; procurar dormir, no mínimo, sete horas por noite; evitar substâncias nocivas à saúde, como cigarro e o consumo excessivo de álcool e outras drogas, além de definir barreiras claras entre a vida profissional e pessoal são, seguramente, praxes que podem proporcionar uma vida mais saudável e longínqua para todo e qualquer artista.
*O texto é de livre pensamento do colunista*




