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Coluna Letrados
Por: Magda Simone – Professora de Língua Portuguesa
O pistache é um fruto originário das regiões montanhosas do Oriente Médio. No Brasil, ele não é nenhuma novidade, mas, desde 2022, seu consumo triplicou, gerando um fenômeno que a mídia chama de “febre do pistache”. Está em todo lugar — nos mercados, nas padarias, nas redes sociais — e, como tudo que vira moda, ficou mais caro.
Mas não é sobre o preço do pistache que quero falar. É sobre o que ele representa: essa onda em que muita gente passa a desejar algo só porque está em alta, sem refletir se realmente gosta daquilo ou se apenas está sendo levada pela maré. Não há dúvidas de que o fruto é saboroso, mas a febre que se instaurou diz mais sobre nós do que sobre o pistache.
A massificação da informação não torna o produto acessível, apenas desejável. E o desejo coletivo, intensificado por redes sociais, parece nos empurrar para um consumo que muitas vezes não cabe no nosso bolso — nem no gosto.
Talvez esse “efeito pistache” não tenha a ver só com modismos, mas com um certo vazio difícil de preencher. A sensação de pertencimento, de estar “na mesma onda” que os outros, nos faz consumir, repetir e imitar. E nem percebemos. Quando tudo ganha sabor de pistache, é hora de perguntar: estamos escolhendo de verdade ou apenas obedecendo a uma tendência?
Nos lugares onde antes havia doce de leite, sorvete, bolo, agora tem doce de leite, sorvete, bolo com/de pistache. Nada contra, o fruto é muito saboroso, e, como falei, não estamos falando dele, mas sim sobre o que nos leva a essa globalização de sensações. Porque, no fim das contas, é tênue a linha entre escolha e imposição.
Vivemos em sociedade, é claro, mas isso não significa sermos cópias uns dos outros. Há beleza na diversidade de gostos, ideias e caminhos. Eu não preciso gostar do que todos gostam, nem seguir para onde todos vão. E talvez seja justamente isso que me torne — e nos torne — verdadeiramente humanos.
*O texto é de livre pensamento da colunista*
