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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Há 50 anos foi lançado “Tubarão” (Jaws, 1975), filme que se tornou um clássico do cinema mundial, inaugurando a era dos “blockbusters”, termo utilizado para uma obra de grande investimento, sucesso comercial e popularidade. Dirigido por Steven Spielberg, o filme foi escrito pelo roteirista estadunidense Carl Gottlieb, que por sua vez baseou se no livro homônimo do escritor Peter Benchley, que também colaborou na construção do roteiro.
Quanto ao gênero, o filme “Tubarão” é reconhecido como “um clássico do terror” em face da assustadora presença de um animal implacável e aterrorizante, entretanto, apesar da tensão e da sensação de angústia que o filme provoca no público, assemelhando se aos dos filmes de terror, “Tubarão” carece do elemento sobrenatural.
Na tentativa de se definir o gênero de um filme, deparamos com a sensação que o filme provoca e as características intrínsecas que o correlaciona a um determinado gênero cinematográfico, sendo que tais características são o que, de fato, indicarão o seu gênero.
Decidindo ou evitando o que assistir
Os inúmeros filmes já produzidos pela indústria cinematográfica em todo o planeta podem ser classificados em categorias distintas, agrupando filmes cujo tema, cenário e estrutura narrativa apresentam uma certa correlação e particularidade, segregando, por conseguinte, daqueles que não possuem tais aspectos em comum.
Para o público em geral, essas classificações apontam para a experiência que lhe será entregue, proporcionando ao espectador decidir, a partir do gênero, qual o tipo de filme deseja assistir, tendo como base a sua predisposição em vivenciar ou não tal experiência.
Filmes dos gêneros drama, comédia e aventura costumam ser os mais procurados, enquanto os do gênero terror tende a atrair um público específico (e fiel), embora também possa provocar o sentimento de repulsa, tanto em face da história contada, caracterizada por uma narrativa que procura gerar medo e apreensão, quanto ao aspecto visual, onde encontramos o sombrio e o grotesco.
Não são poucos os casos em que a aversão aos filmes de terror já se encontra incorporada no íntimo do espectador, ao ponto da simples classificação por gênero tornar–se suficiente para que ele evite assistir a qualquer filme inserido nessa categoria.
Gêneros e subgêneros
Dentre os principais gêneros cinematográficos estão: ação, aventura, comédia, drama, ficção científica, fantasia, terror, romance, faroeste e musical. Contudo, alguns filmes unem mais de um gênero, quando, por exemplo, há uma farta inclusão de cenas cômicas em filmes de ficção científica e terror, como em “O Jovem Frankenstein” (Young Frankenstein, 1974) e na saga que se iniciou com o filme “Todo Mundo em Pânico” (Sacary Movie, 2000).
Além da junção de gêneros, existem ainda os subgêneros. A comédia romântica deixou de ser uma junção de dois gêneros (comédia e romance) para se tornar um subgênero da comédia, enquanto os filmes de espionagem configuram–se como um subgênero do gênero aventura. Desse modo, seguem–se diversos subgêneros para cada gênero, até mesmo no caso dos documentários, que podem ser subdivididos em documentário observacional, poético, expositivo, participativo, performático e reflexivo.
O difuso mundo da fantasia e do terror
A confusão maior em se definir o gênero ocorre entre os filmes de fantasia e ficção científica, bem como entre os filmes de terror e suspense. A ideia de um futuro
tecnologicamente avançado, como em “2001 — Uma Odisseia no Espaço” (2001 –– A Space Odyssey, 1968), contrasta com um futuro caótico, como encontramos em Mad Max (Mad Max, 1979); apocalíptico, como em “O Dia Seguinte” (The Day After, 1983); e distópico, como em “O Planeta dos Macacos” (Planet of the Apes, 1968). Dessa forma, utiliza–se o gênero fantasia como aquele que abarca estes últimos.
Alguns filmes do gênero suspense, como o filme “Psicose” (Psycho, 1960), que possui um cenário sombrio e um mistério envolvendo o protagonista doentio e sua mãe, nos faz remeter aos filmes de terror, contudo, assim como no filme “Tubarão”, não há o elemento sobrenatural, o qual se configura como uma caraterística fundamental para os filmes de terror.
Vale ressaltar que o inverso também ocorre. O filme francês “O Vale do Amor” (Valley of Love, 2015), escrito e dirigido por Guillaume Nicloux, e tendo no elenco Gérard Depardieu e Isabelle Huppert, é classificado pelo site Imovision como drama, porém encontramos, tanto no visual como em sua própria história, elementos sobrenaturais, possibilitando que o classifiquemos como um filme do gênero terror.
Ficção especulativa: ficção científica, fantasia e terror
O termo “ficção especulativa” apareceu pela primeira vez na revista Lippincott’s Monthly Magazine, em 1889, tendo sido amplamente utilizado nos anos de 1960, porém caiu em desuso na década seguinte, vindo a ser resgatado nos tempos atuais.
Segundo a escritora mexicana, Andrea Chapela, a ficção especulativa é um termo polivalente para se referir a gêneros não realistas, tendo em vista que toda ficção se pergunta: “o que aconteceria se” e imagina mundos diferente do nosso.
Os filmes de ficção científica, fantasia e terror tratam de mundos imaginários, recorrendo ao escapismo ou retratando expectativas futuras, ou simplesmente apresentando elementos assustadores, como no caso dos filmes de terror.
Em face dessa exploração de elementos e possibilidades fora do mundo real que os filmes dos gêneros ficção científica, fantasia e terror têm em comum, passou–se a utilizar o termo “ficção especulativa” para o gênero cinematográfico que engloba os três anteriores.
A classificação dos filmes por gênero contribui para que busquemos aquilo que melhor nos agrada assistir. Contudo, sugiro que voltemos o nosso olhar para filmes que possam nos satisfazer mesmo não pertencendo aos gêneros de nossa predileção. Alguns desses filmes podem surpreender positivamente.
*O texto é de livre pensamento do colunista*




