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Coluna Letrados
Por: Sueli Valiato – Professora de Língua Portuguesa

Certa feita, Dona Doloures, uma senhora muito distinta e cumpridora das leis e dos bons costumes, organizou-se com seus filhos e esposo para um passeio na capital do estado onde residiam. Fizeram as malas de acordo com a previsão do tempo e dias que ficariam fora. Pesquisaram locais badalados para visitar: museus, turismo de experiência, shopping, restaurantes, mirantes, passeios marítimos etc. Mal viam a hora de entrarem no carro e desfrutar a emoção de “turistar” pela capital. Algo dizia que aquele passeio seria diferente. Ah… E foi!

Hospedaram-se num lindo hotel, de frente para a praia. Dias depois, foram visitar um casal de amigos. Ocorre que, era tanto assunto e novidades para conversarem, que foram convidados para ficar mais um pouco na capital. A anfitriã os aguçou o desejo de estender um pouco mais o passeio, listando e mostrando fotos de locais que eles nem sabiam da existência. No dia seguinte, Seu Lindomar retornou e Dona Doloures ficou com os filhos até o domingo, quando retornariam de ônibus, para a cidade de origem.

Tamanha foi a alegria de Mary, a caçulinha da família: “Oba! Vou descobrir como é viajar de ônibus”! Mas alegria mesmo, ela manifestava quando pelo aplicativo, chamava o carro de aluguel, sempre escolhia padrão “confort”. Tudo foi alegria até a hora do embarque, no domingo à tarde…

Lá estavam Dona Doloures e seus preciosos filhos. Mary, aguardava ansiosamente o momento de entrar no coletivo executivo, semileito. Foi quando apareceu o “expresso azul” com nome de pássaro. Deu seta e parou. Preocupada e muito atenta para não esquecer nenhum dos filhos, tampouco as malas, a mãe foi logo apresentando a documentação de todos, para em sequência acomodar a bagagem. Tudo ia muito bem até a vez de Mary.

– “A Mary não pode embarcar.” – disse o motorista.

– “Como não pode embarcar motorista? – indagou Dona Doloures. E prosseguiu argumentando.

– “Aqui estão os documentos da Mary! Cartão de vacinação, CPF, Certidão de nascimento, comprovante de residência e até o protocolo da carteira de identidade!” – explicou D. Doloures.

– “Minha senhora, sem a carteira de identidade, a partir de 12 anos, não embarca! A senhora e as outras crianças podem subir…” – disse o motorista.

Ela olhou nos olhos do motorista e falou:

– “Isso é um desrespeito, meu senhor! Pois eu comprei essas três passagens, e só me solicitaram o número do CPF. Por que, agora, tenho que apresentar a carteira de identidade da Mary? E te digo mais, A Mary já tirou a identidade, meu senhor, porém ainda não chegou! Mas aqui está o protocolo! Será que custaria quanto a mais na passagem, para eu receber as informações necessárias para viajarmos! Quer  saber, manda os meus outros filhos descerem, por favor! – disse ela ao motorista.

Mary, era uma menina muito inteligente, “deu logo um google” e descobriu a resolução que versava sobre a documentação para embarque em transporte rodoviário citada pelo motorista. Deu uma olhada no crachá dele e foi logo falando:

– “Senhor fulano de tal, essa exigência proferida pelo senhor, se aplica a viagens interestaduais”. – disse Mary ao motorista. Mas nem assim, embarcou.

Dona Doloures ordenou que Mary chamasse um carro de aluguel pelo aplicativo, pensando que seria o último dessa viagem, sem ter ideia do quanto ainda o chamaria até conseguir voltar para casa. Foram direto para a rodoviária, achando que seria igual nos aeroportos.

No guichê, se repetiu a mesma argumentação de ambas as partes. Até que Dona Doloures indagou ao atendente: “Meu senhor, que a Mary não pode viajar sem carteira de identidade, isso é fato! Preciso saber o que tenho que fazer para eu voltar, de ônibus para minha casa levando comigo, minha filha de 12 anos?! Pelo menos me dê ou me indique onde posso conseguir uma informação qualificada!”

Permanecendo parada em frente ao guichê, rodeada pelos filhos e as malas, com um dos cotovelos apoiado no estreito balcão, Dona Doloures olhava fixamente para o atendente que não parava de pesquisar na internet. De repente, ele para… Olha para ela e recita a famigerada resolução mencionada pelo motorista. Mary sem titubear, aproxima-se do vidro e diz:

– “Gente, será que vocês não veem que isso se refere a viagens interestaduais!? FUHHH, Meu Deus!” – disse Mary.

– “Mas, se a senhora tiver uma autorização do juizado de Menores, consegue embarcar a Mary. – acrescentou o motorista.

Dona Doloures, respirou aliviada, indagando: “Por favor, informe-me onde fica o posto do juizado aqui na rodoviária?” E o alívio dela se desfez ao ouvir que na rodoviária não tem mais e que também não sabia informar onde seria… Mas a aconselhou a buscar essa informação na internet.

Mary, inicia imediatamente a pesquisa e a maratona de ligações não atendidas. Lá pelas tantas, ainda sem saber onde poderia conseguir a dita autorização, Dona Doloures liga para seus amigos, avisando-os do ocorrido e pedindo abrigo por mais um dia.

De volta à casa dos amigos, esses a sugeriram que fosse na “Casa do Cidadão”. No dia seguinte, bem cedo, lá foi Dona Doloures e sua prole, em busca da necessária autorização foram muito bem atendidos, a moça do guichê ouviu atentamente a história, mas ao final disse que, ali, não se oferece o referido serviço. Mas, que achava possível que o caso dela poderia ser resolvido no Juizado da Vara da Infância e Juventude.  Dona Doloures, respirou profundamente e perguntou: “Você sabe onde fica?” E a educada moça apontou para o outro lado da rua, dizendo que era no prédio bege. Caminharam até lá esperançosos, porém ao chegarem ao portão de entrada, defrontou-se com um comunicado: “Aberto ao público a partir de 12 horas”. Olharam no relógio: 8 horas e 20minutos… E a agência de carro por aplicativo ganha mais uma corrida.

Com medo de que algo a mais desse errado, pararam num posto da empresa do ônibus para trocar as passagens. A moça do guichê, que também prestava serviço para uma agência bancária, demorou um pouco, mas iniciou o procedimento de troca das passagens. Essa olhando para Dona Doloures e seus inseparáveis filhinhos, informou com muita naturalidade, que o sistema tinha caído e que já tinha aberto chamada. Entretanto, não tinha a menor ideia de quando o serviço voltaria.

Mary, menina ligeira, sugeriu a mãe de fazerem a troca das passagens no site da empresa. Ao acessarem no site a opção de troca, surge a seguinte mensagem: “Essa passagem não pode ser trocada”.  Dona Doloures, já quase sem paciência, balbuciou: “A é, não pode ser trocada não, né… Mas eu quero ver se não pode ser comprada!” Pegou seu celular  e comprou as três passagem no débito, só por desaforo.

Respirou bem fundo, ergueu os ombros, estufou o peito e disse a meninada: “A-go-ra nós va-mos an-dan-do pois preee-ci-so espairecer a mente… Organizar minhas ideias, pois sempre imaginei que na capital os serviços de atendimento funcionassem melhor que no interior… Nossa, eu estava muito enganada!”

Até que enfim, ouviu-se ao longe as 12 badaladas do relógio da catedral. Dona Doloures e os seus filhos já estavam defronte ao portão do Juizado. Ao chegarem à recepção e enquanto faziam a contextualização da demanda à recepcionista, aproximou-se um simpático servidor, educadíssimo, de falar receptivo e de palavras bem articuladas e bem selecionadas, que mesmo estando de saída retornou à sala e atendeu Dona Doloures e seus filhos dignamente.

Explicou que o juiz estava de férias e que para conseguir a referida autorização ele teria que montar um processo e isso demoraria, talvez, até alguns dias. Mas, ele a orientou a solicitar a impressão da carteira de identidade da Mary, no departamento de perícia da Polícia Civil, que presta serviço de identificação em situações emergenciais: viagem e questões de saúde.

Enquanto ele agilizava as providências referentes ao caso, começou a conversar trazendo um clima de descontração. Dentre uma instrução e outra que passava a Dona Doulores, perguntou a Mary se ela já pensava em alguma faculdade e/ou profissão. E a menina respondeu com voz empostada: farei direito e serei advogada criminalista!

De posse de informações qualificadas, se dirigiram até a delegacia da Polícia Civil, onde a carteira de identidade da Mary foi impressa e Dona Doloures e seus filhos também foram tratados com o merecido respeito. Agora pasmem! A referida delegacia, onde o problema foi resolvido, se situava no quarteirão de trás da casa dos amigos de Dona Doloures. Vocês acreditariam? Pois, era!

Às 16 horas e 30 minutos, surge na grande reta o expresso azul. O motorista para e com muita educação solicita a apresentação das passagens e dos documentos. Mary, toda sorridente entrega a ele a sua carteira de identidade novinha. Entra no ônibus, senta e respira aliviada.

Seu Lindomar, já estava se organizando para resgatar a família na capital.

– “Meu bem, conseguiu a autorização?” – pelo celular, perguntou a sua esposa.

– Amor, já estamos a caminho de casa! – Dona Doloures respondeu.

– Então, conseguiu a autorização? – perguntou o marido.

– Claro que não! Eu consegui a Carteira de Identidade! – respondeu a esposa.

– Agora que eu não entendi, foi é nada… – disse Lindomar.

– Amor… Pois eu entendi e descobri que na capital para se conseguir uma informação qualificada se gasta tempo e custa caro! E que sempre tem alguém que lucra com a desinformação. No nosso caso, quem lucrou foi a empresa do expresso azul que tem nome de pássaro, porque em vez de três passagens compramos seis. Ah… A empresa de carro por aplicativo, também!  Nunca é o povo…  Disso, eu tenho certeza! – encerrou Dona Doloures.

*O texto é de livre pensamento da colunista*


Sueli Valiato – Graduada em Letras – Licenciatura Plena em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa, pela UFES; pós-graduada em Educação do Campo pela FANORTE; professora de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II, no CEFFA de Japira, em Jaguaré-ES, integrante da Coordenação Geral e da Coordenação de Plano de Curso da RACEFFAES. / Foto: Divulgação.

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