Kessy Borges, a tatuadora guerreira

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Entrevista
Por: José Salucci – Jornalista

De estilista renomada a uma das mais respeitadas tatuadoras do Espírito Santo. Kessy Borges personifica a união entre arte, design e um profundo compromisso social. Ela se destaca não apenas pela versatilidade de seu talento, mas por um trabalho que vai muito além da estética redefinindo beleza e esperança: a reconstrução de aréolas para mulheres que venceram o câncer de mama.

Nas horas vagas, ou não tão vagas assim, a capixaba de 46 anos, natural de São Gabriel da Palha, é vocalista da banda Darlin’ Doll, esposa do Michael, mãe da Martina e mãe de pet.

Merkato conversou com Kessy Borges, em seu estúdio na Praia do Canto, com um clima harmonioso, humorado, divertido, cheio de curiosidades e histórias de resiliência e muito trabalho e, claro, também teve emoção ao lembrar do período de sua gestação, dando a luz à Martina.

Conheça a trajetória profissional e os trabalhos desenvolvidos por Kessy Borges, uma mulher simpática, humorada, corajosa, resiliente, afetuosa, empreendedora e ligada nos 320 volts de criatividade. Como tatuadora, já foi se apresentar na Convenção de Nova Yorque, 2017 e 2018. Além de ter viajado por vários lugares do Brasil e ter sido jurada de competição de tatuagem.

O trabalho profissional e social de Kessy Borges, é um testemunho do poder transformador da arte, um farol de esperança e um exemplo de como a paixão profissional pode se traduzir em um impacto social inestimável.

1 – Kessy Borges, em primeiro lugar, se apresente ao público.

Eu sou uma pessoa que faz mil coisas ao mesmo tempo, só que são todas coisas que eu amo muito fazer. Então, eu tento me dividir um pedacinho de cada kessy: a empreendedora, a tatuadora, a mãe, a mãe de pet, esposa, amiga.

2 – Kessy, você tem um humor marcante em sua personalidade, em que você acaba imprimindo isso em seus trabalhos, e a arte sobra em sua vida, de onde vem essa marca?

Eu tenho a veia humorística do meu pai, que é muito forte, e isso me ajuda no dia a dia com os clientes. Minha mãe pintava quadros, então essa união aí resultou nisso que você tá vendo. Eu entendo que, não só o humor faz arte, porque a dor também produzir arte, assim como o amor.

3 – Sua primeira profissão foi estilista, por que moda?

Era um sonho desde criança, e outra coisa, eu tenho que agradecer a minha mãe por ela ter dado vazão para esse sonho de trabalhar com roupa. Com 12 anos, eu já desenhava muitas roupas para boneca, cortava o pano, já cortava até cortina.

Eu fui cortando para fazer uma saia e quando eu vi, eu tinha cortado uma cortina, mas a mamãe ela sempre incentivou. Claro, ela não gostou de ter a cortina despedaçada, né? Mas ela logo me levou nessa idade numa costureira para que eu a explicasse como que eu queria aquele vestido, e mandou fazer.

Outra coisa que eu fazia, eu assistia a Xuxa na TV, aquelas roupas muito loucas. Eu achava tudo lindo. Eu desenhei uma boneca da Xuxa de papel, pegava um papel transparente, botava em cima do corpinho da Xuxa e desenhava várias roupas no corpo da Xuxa, e mostrava para minha mãe, ela achava lindo! Em tudo me apoiava. Eu tenho até hoje esses desenhos.

Então, cresci com esse sonho bem definido de ser estilista.

4 – Aos 21 anos você vem à Vitória para estudar, se formou em 2003 em Gestão de Negócios da Moda, como era sua rotina de trabalho?

Eu queria mesmo era prestar serviço para as fábricas. Então, eu acredito que por conta de ser muito versátil, eu trabalhava em quatro lugares ao mesmo tempo: uma empresa que eu fazia roupa para stripper, era vendido tudo nos Estados Unidos; depois eu fazia jeans wear; fazia roupa de ginástica, e terminava a semana fazendo uma linha para evangélico. Eu falava assim: ‘Nossa, segunda eu começo no inferno, sexta-feira eu termino dentro da igreja’ (risos). Caramba, qual é o nome do curso que se dá para quem se forme em moda? Era moda e gestão de negócios da moda. Me formei em 2003.

“Eu comecei tatuando em cima de cicatrizes.” (Kessy Borges). / Foto: Arquivo Pessoal. Clique na imagem!

5 – Agora, me explica o seu trabalho na moda como empreendedorismo, e em sequência, a migração para a tatuagem.

A questão de empreendedora, ela veio já na moda mesmo, porque eu cheguei a criar minha marca, eu cheguei a vender na Rua Oscar Freire, em São Paulo, vendi em cidades daqui do Espírito Santo, mas com a crise econômica de 2012, eu decidi trocar de profissão, acabei com tudo, antes que me desse algum tipo de prejuízo financeiro. A crise na confecção e me levou para buscar outro caminho, porque os estilistas foram os primeiros a serem demitidos.

Então, comecei a finalizar as atividades e procurar outra profissão. Eu cheguei na tatuagem também sem saber, ninguém podia me garantir que iria dar certo. É persistência. É vontade de fazer acontecer. Eu encontrei esse caminho na tatuagem, não planejei ser empreendedora.

6 – Conte-me o início do trabalho na tatuagem, os desafios, as curiosidades.

Eu pensei em fazer algo que eu desenhasse. Pensei em pintar quadro, só que, o reconhecimento vem depois que você morre (gargalhadas). E eu queria conseguir ganhar dinheiro viva (risos).

Eu procurei o Kadu, amigo tatuador, por dois meses ele me ensinou algumas técnicas, e foi de graça. Logo depois, já comecei a tatuar em casa.

E, pra treinar eu comprava a barriguinha do porco no supermercado e ficava tatuando ali, por ser bem semelhante a pele humana. E aí eu falava que eu ia guardar todas essas peles para poder fazer uma fábrica de bacon tatuado (gargalhadas).

Mas, no início, foi bem difícil, tanto que eu tentei alugar um ponto, aqui, na Praia do Canto, e na hora que eu falei com o dono do ponto por telefone que gostaria de alugar a sala, ele me perguntou o que eu iria montar, respondi: ‘um estúdio de tatuagem’. Ele desligou o telefone na minha cara.

7Mas internamente, você já tinha interiorizado a ideia de que tatuagem era uma arte ou ainda não tinha codificado isso? Como foi aprender a tatuar?

Não, eu não tinha codificado, com certeza. Estava primeiro procurando uma maneira de sobreviver.

Me lembro de sentir desespero (risos), de ir para o banheiro, fazer uma oração e pedir pelo amor de Deus para me fazer parar de tremer, de tanto nervoso. Porque ali era um traço que não tem como reverter. Na peça de roupa, eu só estou cortando, eu posso consigo jogar fora e pegar outro tecido, agora a pele humana, não. O peso da responsabilidade veio tão forte, que eu precisei de entrar na terapia para cuidar desse lado inseguro e conseguir conversar com essa parte minha para explicar para ela que é possível fazer o trabalho.

“A gratidão de devolver um pedaço da autoestima”, sobre a reconstrução da aréola mamária. / Foto: Elo Comunicação. Clique na imagem!

8 – E as conquistas com o trabalho de tatuadora?

Bom, em primeiro lugar, e cheguei nesse estúdio em 2018, hoje tenho uma equipe de sete pessoas, isso é uma conquista. Também viajei para algumas convenções de tatuagem: Paris e Nova York. E nessas viagens eu já fui ensinar técnicas de tatuagem. Me especializei em “fine line”, que é o estilo de precisão de linhas finas. É… me especializei em “ip shading”, que é o estilo de sombra que forma um granulado, fica muito bonito.

9 – Continuando a falar de tatuagem, porém não mais do lado empreendedor, mas da ação humanizada. Você faz tatuagem em mulheres que passaram por um câncer de mama, onde você redesenha a aréola mamária, como começou e por quê?

Eu comecei tatuando em cima de cicatrizes, enfrentei o desafio que foi tatuar numa pele, onde teve um carcinoma e enxerto de pele, que complicou ainda mais. Então eu tatuei mediante a um laudo médico, que eu pedi para cliente. Depois que eu fiz esse trabalho entendi que eu precisava de conhecer um pouco mais da pele. Então eu fiz um curso com uma dermatologista e o estúdio inteiro também. Começaram a surgir casos e vi que era muito mais complexo.

E comecei a oferecer o serviço de forma gratuita, porque as mulheres que chegam no final do tratamento tão fragilizadas… É uma mulher ajudando a outra mulher. E, minha mãe teve câncer de mama. Poder fazer essa reconstrução estética, não tem preço, porque não é pra quem vê, é para a mulher se vê.

10 – Outra coisa que te emociona muito é o seu lado materno. Me conta essa história da Martina ser uma guerreira, o espelho da sua alma.

Eu fui para Nova York para uma convenção de tatuadores trabalhar, eu estava grávida e não sabia. Chegando lá, eu subi três andares de escada com uma mala que devia ter cinco vezes o meu peso. Eu carreguei uma maca sozinha por duas quadras, fui para o show do Iron Maiden e bebi cerveja… Eu tinha acabado de perder uma gravidez… Não achava que iria engravidar de novo. Então descobri que estava grávida e liguei para meu marido, ele pensou em colocar o nome de Luiza, e eu queria Martina. Nem sabia o significado, até que minha prima me falou que significava ‘pequena guerreira’, aí comecei a chorar… Pensei: ‘Se essa menina sobreviveu, porque ela é guerreira mesmo’.

Os filhos são a extensão dos pais… Eu me considero uma guerreira, e nesse caso então está escancarado (disse chorando).

11 – Kessy, muito obrigado por ceder a entrevista ao Merkato. Fale seus planos para o futuro e deixe seus agradecimentos?

E tenho um curso que chama “A Tatuagem a Partir do Zero”, que tá disponível no meu site. Eu dou mentorias individuais para tatuadores que já atuam. Isso eu gosto de fazer bastante, eu gosto de ensinar.

E eu acho que ampliar os meus horizontes, porque já fui tatuar muito fora, já fiz visitas nas convenções de Paris, de Milão, de Nova York. Então, eu quero continuar ampliando esses horizontes.

E, o recado maior que eu tenho, é para essas mulheres: venham reconstituir e buscar a autoestima aqui.

Não tenham medo, eu sou muito legal (risos). Estou disposta a contribuir um pouco com essa autoestima dessas mulheres que de alguma forma perderam um pedaço da mama, eu tô aqui para elas. E agradecer ao meu marido maravilhoso, que me ajuda, que tá todo dia comigo aguentando a parte boa e a parte ruim.

Agradecer aos clientes, tudo isso só existe por causa de vocês. E, obrigada a você também.

Editor do jornal Merkato, José Salucci e o ícone da tatuagem, Kessy Borges. / Foto: Elo Comunicação. Clique na imagem!

 


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