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Coluna Letrados
Por: ¹Sueli Valiato e ²Samuel J. Messias – ¹Professora de Língua Portuguesa e Literatura – ²Me. em Educação.
Caro(a) leitor(a), este texto objetiva refletir as questões do currículo escolar. Iniciaremos com o pensamento de Elvira Souza Lima, pesquisadora em desenvolvimento humano, nas áreas de educação, mídia e cultura: “Para constituição de um conceito não é suficiente somente a construção de significado, mas também o estabelecimento de compreensão das relações múltiplas possíveis existentes entre os vários significados”.
De modo geral, quando se discute currículo na escola existem inúmeros fatores que precisam de ser repensados dentre os quais destaca-se: o perfil da formação acadêmica dos professores e professoras; a formação continuada, considerando os diferentes estágios de experiência; a valorização profissional no que tange à carreira e à remuneração; condições de trabalho, principalmente, no que se diz respeito à pesquisa, ao estudo, ao tempo de planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades desenvolvidas.
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É urgente repensar o modelo de currículo implementado na educação brasileira, e ressignificá-lo, adotando alternativas curriculares que considerem o perfil dos educandos desta era, no que se refere às características cognitivas, sociais, econômicas, familiares, religiosas, culturais, dentre outras, imprimindo nessa contextualização dos conteúdos, integração das áreas do conhecimento, organicidade e correlação com o cotidiano dos estudantes, de suas famílias e comunidades.
Nessa perspectiva, é preciso desconstruir o sentido da educação bancária, que predomina ao longo da história, nas práticas de ensinagem das escolas brasileiras, uma vez que, como bem definiu Paulo Freire, a educação bancária é um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador, o depositante. Ela nega o diálogo, a reflexão, a criatividade e a transformação, não considera a evolução do educando no seu processo de aprendizagem. Pois, o currículo precisa fomentar o protagonismo do estudante no seu processo de construção dos conhecimentos, numa relação em que todos ensinam e todos aprendem com todos, em todos os espaços e tempos, em que cada um tenha os elementos necessários para conceber-se enquanto sujeito social/histórico, compreender-se, e compreender a realidade a qual se insere o seu papel de docente e ao mesmo tempo aprendiz do discente.
É tempo de “descompartimentar” os conhecimentos no desenvolvimento do currículo escolar, uma vez que, cada vez mais, se torna evidente o aspecto multifacetado dos conhecimentos, conteúdos curriculares e realidades. Por isso, o currículo escolar deve ser integrado e permitir interações diversas, para possibilitar a compreensão de fenômenos por meio do diálogo das diferentes ciências e evidenciar a complexidade que permeia as questões e os fenômenos que compõe a realidade, para se revelar o que está além do óbvio. É preciso fomentar, considerar os diferentes pensares e olhares sobre um fenômeno, sobre uma mesma questão. Se faz necessário trazer para práxis educativa a construção do pensamento crítico e a autonomia do educando e do educador.
Mas a partir de que se integra e se dão as interações que fundamentam essa perspectiva de currículo escolar integral? A partir do projeto de mundo que se quer construir, da missão e o compromisso social que a instituição de ensino tem com a realidade em que está inserida. De acordo com a afirmativa acima, reitera-se o argumento nos princípios constitucionais da educação brasileira: igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; a promover do pleno desenvolvimento da pessoa; a preparação da pessoa para o exercício da cidadania e qualificação da pessoa para o trabalho.
Outro aspecto importante a considerar, quando se fala em repensar o currículo escolar, é possibilitar o conhecimento da história. Da história de cada sujeito do processo de ensinagem/aprendizagem, da comunidade, da sociedade, pois, é por meio da história que forma a consciência dos/nos sujeitos e de uma formação que se constrói num movimento dialético, em que os sujeitos se fazem e se refazem a partir da materialidade da vida, da vida real, da vida vivida.
Portanto, o estudo, a construção dos conhecimentos escolares deve se estruturar a partir de fenômenos que permeiam a realidade dos educandos, num contexto dialógico entre os sujeitos da formação, os conhecimentos historicamente construídos e os novos conhecimentos construídos, sob os diversos olhares da ciência, desvendando mistérios, premissas subjacentes nas visões, posturas, interpretações dos mundos que compõem as diferentes realidades, numa perspectiva de libertação.
Hilton Japiassu, professor doutor em filosofia, escreveu em 1979, no prefácio do livro Integração e interdisciplinaridade no ensino: efetividade ou ideologia, “A sociedade e a escola querem ocupar os cérebros dos alunos pela linguagem, pela instrução, numa palavra, pelo ensino. Como se o processo de educação pudesse ser reduzido ao ensino já sabido, à transmissão do já conhecido, à conformação com o já adquirido”.
Enfatizando, nessa ocasião, a necessidade urgente de se psicanalisar os educadores para que esses se tornem agentes que despertem, que provoquem, que levem a descobrir, a criar e recriar, “e não se limitem a desempenhar este odioso de disciplinadores intelectuais, de capatazes da inteligência ou meros revendedores de um saber-mercadoria, empacotados ou enlatados para fins ditos ‘pedagógicos’… Porque o mestre que não consegue ser aluno, deve ser aposentado”.
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Atualmente, muito mais urgente que antes, está a necessidade de ressignificar o currículo e a prática pedagógica da educação brasileira e que existem experiências muito bem sucedidas de currículo e práticas pedagógicas, muito apropriado e muito mais adequada a esta era. Aqui, citamos a Pedagogia da Alternância, com sua contemporaneidade, contextualização, organicidade e intensa relação e possibilidade de interação com o cotidiano dos estudantes, famílias e comunidades, com sua práxis dialógica e dialética, focada no processo, no aprender fazer, aprender conhecer, aprender ser e aprender conviver, possibilitando que todos ensinem e aprendam com todos, em todos os espaços e tempos da vida e da escola.
*O texto é de livre pensamento dos colunistas*