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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Após apresentar alguns nomes e fatos históricos que contribuíram para o surgimento e posterior propagação do Cinema, que neste ano completa 130 anos de existência, chegamos à era do Cinema Clássico, estilo de produção cinematográfica que se iniciou durante o auge do cinema mudo (décadas de 1910 e 1920), período em que encontramos figuras mais conhecidas pelo público em geral, como Chaplin e Valentino.
A partir da década de 1910, as produções cinematográficas passaram a utilizar técnicas de edição ainda mais sofisticadas, permitindo a aproximação entre ficção e realidade, contribuindo para que as histórias se tornassem mais convincentes. Também, a partir dessa década, houve um aumento dos filmes de longa-metragem, que se caracterizou como um padrão a ser seguido.
Um pouco antes, havia se iniciado um processo gradativo de transferência do centro da indústria cinematográfica do Leste para o Oeste dos EUA, o que culminaria no surgimento de duas das maiores produtoras de cinema de Hollywood: Universal e Paramount, inaugurando um modelo de produção cinematográfica em que os principais estúdios possuíam o controle absoluto de suas produções.
Cinema estiloso
Nos primórdios da história do Cinema já se fazia uso da técnica de edição, como no filme “Come Along Do!” (1898), de Robert W. Paul, sendo este o primeiro filme a apresentar mais de uma tomada, como também no filme “As Quatro Cabeças Problemáticas” (The Four Troublesome Heads, 1898), dirigido por Georges Méliés, em que se utilizou uma câmera com manivela reversa, criada por W. Paul, a qual permitia a superposição de imagens objetivando criar uma cena com a junção de duas ou mais cenas.
Todavia, no intuito de se criar um estilo grandioso, foi na primeira metade da década de 1910 que nas produções cinematográficas passou-se a utilizar a técnica da edição de forma costumeira e apurada. A ideia era que a história se desenvolvesse de forma fluida, com a imperceptibilidade dos cortes e a eliminação de falhas técnicas, possibilitando que o público se envolvesse com a trama encenada.
Outro ponto importante para a evolução cinematográfica da época e que contribuiu na caracterização do Cinema Clássico, encontra-se no consenso de que as histórias precisariam ter um início, meio e fim bem definidos, tendo, preferencialmente, finais felizes. Tais pressupostos acabariam por servir de referência para o cinema mundial.
A conquista do Oeste
No ano de 1908 foi criada a MPPC – Motion Pictures Patents Company, um fundo de todas as principais empresas cinematográficas dos EUA, cujo intuito era produzir filmes mais bem elaborados e, assim, atingir as classes mais abastadas, contudo, estando de posse de grande parte das patentes, o fundo acabou por monopolizar a produção cinematográfica local, desse modo os produtores independentes passaram a produzir seus filmes no estado da Califórnia, cujo estado possuía leis mais flexíveis relacionadas às patentes, além de belos cenários naturais e variados propícios para gravações.
Foi lá, na Costa Oeste dos EUA, que em 1912 surgiram os grandes estúdios da Universal e Paramount, fundados poucos meses depois do Babelsberg, primeiro grande estúdio do mundo, situado em Potzdam, Alemanha. Nas décadas seguintes, ainda seriam construídos os estúdios da Warner Bros. (1923), MGM (1924) e 20th Century Fox (1935), todos próximos ao distrito de Hollywood, em Los Angeles, compondo, assim, os “Big Five” da produção cinematográfica da época.
Grandes produções e estrelas de cinema
O início do Cinema Clássico compreende a era de ouro do cinema mudo, cujo termo “cinema mudo” foi adotado somente após o advento do cinema falado. Nesse período, surgiram as grandes produções cinematográficas, bem como o glamour em torno dos atores e atrizes de cinema, criando um fascínio perante o público.
A indústria cinematográfica da época realizou grandes produções que contribuíram para a ascensão do Cinema Clássico, como os controversos “O Nascimento de Uma Nação” (The Birth of a Nation, 1915) e “Intolerância” (Intolerance, 1916), de D.W. Griffith, trazendo inovações na montagem e narrativa; “O Garoto” (The Kid, 1921) e “Em Busca do Ouro” (The Gold Rush, 1925), de Charlie Chaplin, filmes repletos de cenas icônicas e crítica social; “A General” (The General, 1926), de Buster Keaton e Clyde Buckman, considerado pela Biblioteca do Congresso dos EUA como culturalmente, historicamente e esteticamente significativo.
Vale destacar que nesse período surge o expressionismo alemão, cujos filmes eram caracterizados por distorções visuais, rejeição da realidade e cenários estilizados, além de outros aspectos. Considerados clássicos da cinematografia mundial, dentre os principais filmes alemães que representam o expressionismo estão: “O Gabinete do Dr. Caligari” (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920), Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens, 1922) e Metrópolis (Metropolis, 1927).
Quanto aos artistas que fizeram grande sucesso durante a era de ouro do cinema mudo, destacam-se os comediantes Buster Keaton, conhecido como o “Homem que Nunca Sorri”, e Harold Lloyd, cujos filmes eram repletos de situações de risco real; o ator Douglas Fairbanks, famoso pela a sua atuação em filmes de ação; as atrizes Gloria Swanson, Louise Brooks e Mary Pickford, tendo esta última iniciado a carreira como artista mirim; Rudolph Valentino, conhecido pelos seus papeis românticos e sedutores; e, é claro, ele: Charlie Chaplin, ator, comediante, diretor, roteirista, compositor e músico. Famoso por interpretar o personagem Carlitos, Chaplin ainda é o cineasta mais homenageado do mundo.
O fim do cinema mudo
O Cinema Clássico se perpetuaria por mais algumas décadas, mas não há como negar que a exibição do primeiro filme falado, intitulado “O Cantor de Jazz” (The Jazz Singer, 1927), que obteve um grandioso sucesso perante o público, pôs fim a era de ouro do cinema mudo.
Diversos atores e atrizes não se adaptaram ao formato do cinema falado, como o ator John Gilbert e as atrizes Marie Prevost e Nita Naldi, sendo que esta última optou por se aposentar das telas do cinema. Nesse sentido, o diretor de cinema, Billy Wilder, expôs essa incapacidade de adaptação ao cinema falado no filme “Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Boulevard, 1950) através do desabafo da personagem Norma Desmond, brilhantemente interpretada por Gloria Swanson, que se apresentava como uma estrela do cinema mudo que não se adequou ao cinema falado:
“Houve um tempo neste ramo em que eu tinha os olhos do mundo inteiro! Mas isso não era bom o suficiente para eles, ah, não! Eles precisavam ter os ouvidos do mundo inteiro também. Então, abriram suas bocas enormes e saíram falando, falando. FALANDO!”.
O fato é que a revolução do cinema falado estava apenas começando e novos clássicos viriam, rebuscados de som.
*O texto é de livre pensamento do colunista*




