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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Nos artigos anteriores, procurei identificar as datas que melhor representam o início e o fim do rock, ou melhor, do movimento musical e cultural rock’n’roll.
A variedade de ritmos que deu origem ao gênero rock’n’roll impede que se defina com precisão em que momento esse estilo musical foi criado, contudo, entendendo o rock’n’roll como um movimento cultural ocorrido na segunda metade dos anos de 1950, é possível identificar que a sua eclosão sucedeu com o lançamento do filme “Sementes da Violência” (Blackboard Jungle) por todos os Estado Unidos, no dia 25 de março de 1955, contribuindo de forma significativa para a consolidação do gênero rock’n’roll e do movimento cultural atrelado a este.
Devido a diversos infortúnios envolvendo os principais astros do rock da época, sobretudo o trágico acidente aéreo que vitimou Buddy Holy, Ritchie Valens e The Big Bopper, ocorrido em 3 de fevereiro de 1959, a indústria fonográfica não mais resistiu à pressão de uma sociedade insatisfeita com o fato do movimento rock’n’roll opor-se a valores sociais e culturais há tempos estabelecidos.
A indústria fonográfica e a mídia da época passou então a produzir e propagar canções de artistas cujas letras não contrariavam a ordem social vigente, daí a ideia de que o rock’n’roll “morreu” a partir do movimento de “domesticação” que se estabeleceu a partir daquele ano de 1959, desse modo o rock’n’roll deixa de se apresentar como um instrumento catalisador dos sentimentos de insatisfação, desilusão, frustração e anseio dos jovens da época.
Ainda que o movimento musical e cultural rock’n’roll tenha terminado no final da década de 1950, a juventude voltaria a se encantar com o gênero rock em meados da década seguinte em face de um outro movimento conhecido como “a invasão britânica”.
O início da “invasão”
Os grandes representantes do rock’n’roll, em sua esmagadora maioria, eram naturais
dos Estados Unidos, como Chuck Berry, Elvis Presley e Little Richard. Ainda que já houvesse uma larga expansão do rock pelo mundo, para um artista estrangeiro entrar no mercado estadunidense era algo deveras desafiador, mesmo para aqueles que já possuíam um considerável sucesso em seu país, como no caso dos britânicos Cliff Richards, Tommy Steele e a banda The Shadows.
As exceções ficaram por conta de um número ínfimo de artistas, como o escocês Lonnie Donegan e a banda instrumental inglesa The Tornados, que conseguiram furar a bolha do mercado fonográfico dos EUA, emplacando algumas de suas músicas no top 10 daquele país. No entanto, o marco da invasão britânica ocorreria um pouco depois, com a histórica aparição do grupo The Beatles no lendário programa de auditório, The Ed Sullivan Show, na noite de 9 de fevereiro de 1964, alcançando até então a maior audiência da TV estadunidense da história, com 73 milhões de espectadores.
Fator motivador para a “invasão”
Os Beatles já faziam sucesso no Reino Unido desde o final de 1962, cujo sucesso teve seu início com o lançamento do single “Love Me Do” (com a canção P.S. I Love You figurando no lado “B”), como também já haviam lançado dois álbuns em 1963, “Please Please Me” e “With The Beatles”, além de diversos outros singles, porém foi com o lançamento do single “I Want To Hold Your Hand” (com duas canções no lado “B”: “This Boy” e “I Saw Her Standing There”) que os Beatles conquistaram o mercado estadunidense.
Com o single lançado em 26 de dezembro de 1963 nos EUA, “I Want to Hold Your Hand” chegou ao topo das paradas daquele país em 1º de fevereiro do ano seguinte, até ser substituída pela canção “She Loves You” que, na realidade, havia sido gravada no Reino Unido e lançada nos EUA anteriormente a “I Want to Hold Your Hand”, porém só chegou ao topo das paradas estadunidenses no mês seguinte ao da quase que inevitável aparição do grupo no programa de Ed Sullivan.
A partir de então, os Beatles passaram a obter um estrondoso sucesso nos EUA, culminando no auge da “Beatlemania”, movimento que já havia se iniciado no Reino Unido no ano anterior, destravando o mercado fonográfico estadunidense para que as bandas britânicas divulgassem suas músicas perante e este novo público.
Chegada de reforços
Uma semana depois de “I Want to Hold Your Hand” entrar no Hot 100 da Bilboard, a canção “I Only Want to Be with You”, interpretada pela cantora londrina Dusty Springfield, entrou na mesma lista de sucessos, chegando a ocupar a posição de número doze, dando, assim, prosseguimento à denominada “invasão britânica”, o que culminou numa enxurrada de grupos de rock advindos do Reino Unido, cujas músicas acabaram ocupando as primeiras posições das paradas de sucesso da revista Billboard, como também de sua concorrente, a Cash Box.
Dentre os grupos britânicos que adentraram no mercado fonográfico estadunidense estavam The Animals, Manfred Man, Rolling Stones, Herman’s Hermits, Kinks, Yarbirds e The Who, e cantores como Donavan e Petula Clark, além de muitos outros. O estilo musical desses artistas se dividia entre um som mais influenciado no rock’n’roll, como no caso dos Beatles e The Who, e outro com uma vertente mais para o blues, como os Rolling Stones e os Yarbirds. Ambos os estilos possuíam seu grupo de admiradores em meio à juventude da época.
Além das belas melodias, o som mais agressivo e as apresentações intensas desses artistas fizeram o diferencial entre o rock trazido pelos britânicos e o som que se ouvia após o declínio do rock’n’roll, gerando uma maior identificação com o público juvenil da época.
Ao passo que a “invasão britânica” contribuiu para a internacionalização do rock, o largo espaço ocupado pelos seus representantes culminou no enfraquecimento do surf music instrumental e de grupos vocais femininos, como The Shirelles, The Ronettes e The Marvelettes, bem como diminuindo significativamente a presença de artistas locais no cenário musical.
Legado musical e cultural
A “invasão britânica” influenciou o comportamento e a cultura dos EUA, como também de grande parte do mundo, através do cinema, televisão, literatura e moda. Também revitalizou o rock, com músicas e letras mais bem elaboradas, associadas ao comportamento irreverente e transparente de seus intérpretes, devolvendo, assim, a essência do rock à juventude da época.
Além de resgatar o verdadeiro espírito do rock’n’roll, a “invasão britânica”, aliada à
evolução tecnológica dos aparatos musicais e ao uso de instrumentos até então desassociados ao rock, como a cítara, conforme se observa em álbuns como “Rubber
Soul”, dos Beatles, e “Out of Our Heads”, dos Rolling Stones, ambos de 1965, contribuiu para a diversidade de estilos musicais que surgiram durante e após esse fenômeno, servindo de base para gêneros como o rock progressivo e o hard rock.
Ao resgatar o aspecto crítico da sociedade da época, a “invasão britânica” também
contribuiu para o ressurgimento da contracultura, que embora tenha tido o seu marco
inicial na década de 1940 através do existencialismo de Jean-Paul Sartre, foi na década de 1960 que ela chegou ao seu ápice, opondo-se aos valores e normas estabelecidas pela sociedade da época, algo que se assemelha ao que ocorrera na segunda metade da década de 1950.
No entanto, esse apogeu da contracultura esteve mais atrelado a outro movimento que
viria após a “invasão britânica”, qual seja, o psicodelismo, o qual teve forte influência
na música e na moda e que, por sua vez, serviu de base para outro fenômeno, o chamado movimento hippie, sobretudo no que se refere ao comportamento desprovido de apego material, característica primordial desse movimento.
*O texto é de livre pensamento do colunista*
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