O que te motiva?

Coluna Criativos
Por: Samuel J. Messias – Professor e Consultor Empresarial


Caro, leitor (a), neste artigo desejo explorar o quadro psicológico, filosófico e prático da motivação humana. A pergunta “O que te motiva?” é uma das mais fundamentais e complexas da experiência humana. Ela ecoa em nossas escolhas de carreira, em nossos relacionamentos e na busca por um sentido para a vida.

A motivação é a força propulsora por trás de nossas ações, o motor que nos impulsiona a sair da inércia e a perseguir objetivos, desde os mais básicos, como saciar a fome, até os mais transcendentes, como a autorrealização.

Longe de ser um conceito monolítico, a motivação é um fenômeno multifacetado, explorado por diversas áreas do conhecimento. Este artigo se propõe a investigar a natureza da motivação humana sob três prismas principais: o psicológico, que nos oferece modelos teóricos para entender nossos impulsos; o filosófico, que aprofunda a questão do propósito e do sentido; e o prático, que analisa os desafios e as novas dinâmicas do mundo contemporâneo. Ao final, busca-se oferecer uma visão integrada que auxilie na reflexão sobre nossas próprias fontes de motivação.

As fundações psicológicas da motivação

A psicologia dedicou-se extensivamente a decifrar os mecanismos que governam a motivação. As teorias clássicas forneceram as bases para a compreensão dos fatores que energizam e direcionam o comportamento humano. Entre as mais influentes, destacam-se a Hierarquia das Necessidades de Abraham Maslow e a Teoria dos Dois Fatores de Frederick Herzberg. Maslow postulou que as necessidades humanas se organizam em uma pirâmide, onde a satisfação de necessidades mais básicas (fisiológicas e de segurança) é um pré-requisito para a busca de necessidades de nível superior (sociais, de estima e de autorrealização).

Herzberg , por sua vez, focando no ambiente de trabalho, distinguiu entre “Fatores Higiênicos”, cuja ausência gera insatisfação (como salário e condições de trabalho), e “Fatores Motivacionais”, que efetivamente promovem a satisfação e a motivação (como reconhecimento e crescimento pessoal).

A Hierarquia de Maslow demonstra que a motivação progride hierarquicamente, onde necessidades superiores só emergem após a satisfação das inferiores. Já a Teoria de Herzberg revela que prevenir a insatisfação não é o mesmo que promover a motivação, sendo que a verdadeira motivação vem de fatores intrínsecos ao trabalho.

Complementando essas visões, a Teoria da Autodeterminação, de Edward Deci e Richard Ryan, aprofundou a distinção entre motivação extrínseca (impulsionada por recompensas ou punições externas) e intrínseca (impulsionada pelo interesse e prazer na própria atividade).

Eles argumentam que a motivação intrínseca, mais poderosa e sustentável, floresce quando três necessidades psicológicas inatas são satisfeitas: autonomia (o desejo de controlar o próprio destino), competência (a necessidade de se sentir eficaz) e relacionamento (o anseio por conexão social). Essa perspectiva se contrapõe diretamente às abordagens behavioristas, como a de B.F. Skinner , que enfatizavam o poder dos reforços externos para moldar o comportamento, mas que se mostram insuficientes para explicar a complexidade da criatividade e do engajamento humano.

A busca filosófica por sentido e propósito

Se a psicologia nos ajuda a entender o “como” da motivação, a filosofia nos convida a refletir sobre o “porquê”. A corrente existencialista, em particular, oferece uma perspectiva profunda sobre a motivação ao colocá-la no centro da condição humana. Filósofos como Jean-Paul Sartre argumentaram que, para os seres humanos, “a existência precede a essência”. Isso significa que não nascemos com um propósito predefinido; somos “lançados no mundo” e condenados a ser livres. Essa liberdade radical implica que somos inteiramente responsáveis por criar nosso próprio sentido e, consequentemente, nossa própria motivação.

O existencialismo investiga, portanto, a existência humana, sendo esta concebida como os mais diversos modos de ser humano no mundo, com condições e possibilidades previamente determinadas e limitadas.

Nessa visão, a motivação não é algo a ser encontrado, mas algo a ser construído através de escolhas e ações autênticas. A angústia existencial, o sentimento de desamparo diante da infinidade de possibilidades e da ausência de um guia externo, torna-se um catalisador. É o peso da liberdade que nos impulsiona a agir, a nos comprometer com projetos e a definir quem somos.

A motivação autêntica, para o existencialismo, emerge da confrontação com nossa finitude e da decisão de viver uma vida que seja nossa, em vez de seguir passivamente as expectativas sociais ou as normas preestabelecidas. Essa busca por uma existência autêntica, defendida também por pensadores como Karl Jaspers, é a mais alta forma de motivação, pois alinha nossas ações com nossos valores mais profundos.

Motivação na prática: desafios do século XXI

O mundo contemporâneo, com suas rápidas transformações tecnológicas e sociais, reconfigurou o cenário da motivação, especialmente no ambiente de trabalho. O pesquisador Daniel Pink argumenta que o modelo tradicional de motivação, baseado em recompensas e punições (a “cenoura e o chicote”), tornou-se obsoleto e até contraproducente para as tarefas criativas e conceituais que dominam a economia do século XXI. Através de experimentos como o “Problema da Vela”, ficou demonstrado que incentivos financeiros podem estreitar o foco e bloquear a criatividade, em vez de estimulá-la.

Em seu lugar, Pink propõe um novo modelo baseado em três pilares que ecoam a Teoria da Autodeterminação:

1 – Autonomia: O desejo de ter controle sobre nosso trabalho, tempo e técnica.

2 – Domínio (Mastery): O anseio por nos tornarmos melhores em algo que importa, através da prática deliberada.

3 – Propósito: A necessidade de conectar nosso trabalho a uma causa maior que nós mesmos.

Essa nova abordagem reconhece que, uma vez que as necessidades básicas são atendidas, os seres humanos são movidos por forças intrínsecas. A era digital, ao mesmo tempo que oferece ferramentas sem precedentes para a autonomia e o domínio, também apresenta novos desafios. A sobrecarga de informação, a pressão por produtividade constante e a tênue fronteira entre vida pessoal e profissional podem minar a motivação e levar ao esgotamento.

Portanto, gerenciar a motivação no século XXI exige não apenas a criação de ambientes que fomentem autonomia, domínio e propósito, mas também o desenvolvimento de habilidades de autogestão, foco e resiliência para navegar na complexidade do mundo moderno.

Motivação, direção e governança: a tríade do sucesso organizacional

A compreensão da motivação humana torna-se ainda mais complexa quando analisada no contexto organizacional, onde se entrelaça com os conceitos de direção e governança. Esta tríade forma a base para o sucesso de qualquer organização, seja ela empresarial, governamental ou do terceiro setor. A direção empresarial pode ser definida como o processo de liderar, tomar decisões e orientar uma organização rumo aos seus objetivos, alinhando recursos e pessoas . Já a governança refere-se aos mecanismos, processos e estruturas pelos quais as organizações são dirigidas e controladas, garantindo transparência, responsabilidade e eficácia na tomada de decisões.

A motivação atua como o elo fundamental que conecta direção e governança. Líderes eficazes compreendem que sua capacidade de motivar equipes está diretamente relacionada ao estilo de direção adotado e às estruturas de governança implementadas. A pesquisa em comportamento organizacional demonstra que diferentes estilos de liderança impactam significativamente a motivação e o clima organizacional . A liderança autocrática, por exemplo, pode gerar resultados imediatos através de controle rígido, mas frequentemente mina a motivação intrínseca dos colaboradores a longo prazo. Em contraste, estilos de liderança mais participativos e transformacionais tendem a fomentar maior engajamento e motivação sustentável.

A governança corporativa moderna reconhece que o engajamento das lideranças é fundamental para o sucesso organizacional, mas é crucial distinguir entre engajamento e motivação . Enquanto a motivação é um estado emocional e psicológico interno, o engajamento é um aspecto mais cognitivo que envolve o comprometimento consciente com os objetivos organizacionais. Uma governança eficaz deve criar estruturas que não apenas motivem os indivíduos, mas também os engajem de forma sustentável através de propósito claro, autonomia adequada e oportunidades de desenvolvimento.

No contexto da direção empresarial, a motivação manifesta-se através da capacidade dos líderes de inspirar suas equipes a perseguir objetivos comuns. Isso requer não apenas competências técnicas, mas também inteligência emocional e compreensão profunda dos fatores que movem cada indivíduo. A direção eficaz reconhece que a motivação não é um fenômeno uniforme – diferentes pessoas são motivadas por diferentes fatores, e cabe à liderança identificar e nutrir essas motivações individuais dentro do contexto organizacional maior.

A governança, por sua vez, deve estabelecer políticas e estruturas que suportem essa diversidade motivacional, criando ambientes onde tanto a motivação intrínseca quanto a extrínseca possam coexistir de forma produtiva.

A jornada para responder à pergunta “O que te motiva?” nos leva a uma profunda exploração de nós mesmos e de nosso lugar no mundo organizacional e social. Ela começa com a satisfação de nossas necessidades básicas, como apontou Maslow, mas rapidamente evolui para uma complexa interação entre fatores internos e externos. A psicologia nos ensina que a motivação mais duradoura e significativa é a intrínseca, nutrida pela autonomia, competência e conexão. A filosofia existencialista nos eleva, mostrando que a motivação última pode ser a criação de nosso próprio sentido em um universo indiferente. A análise do mundo contemporâneo nos alerta que os velhos paradigmas de recompensa e punição são insuficientes para a complexidade do trabalho e da vida no século XXI.

Por fim, a compreensão da tríade motivação-direção-governança revela que nossa motivação individual não existe no vácuo, mas se manifesta e se desenvolve dentro de contextos organizacionais que podem tanto nutri-la quanto sufocá-la. Líderes e organizações que compreendem essa dinâmica estão mais bem posicionados para criar ambientes onde a motivação humana pode florescer, resultando em maior satisfação individual e sucesso coletivo. Compreender essas múltiplas camadas é o primeiro passo para que cada indivíduo possa, de forma consciente e autêntica, construir sua própria resposta e, assim, direcionar sua vida com propósito e paixão, seja como líder ou como colaborador em qualquer contexto organizacional.

*O texto é de livre pensamento do colunista*


Samuel J. Messias – *Reside em Vitória/ES *Consultor Empresarial *MBA em Estratégia Empresarial *Bacharel em Ciências Contábeis *Me. em Educação ( Florida University- USA). (Foto: Divulgação)

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