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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Neste ano de 2025, conforme mencionado em artigos anteriores, o Rock’n’Roll comemora 70 anos, desde a sua eclosão em 1955. O entendimento sobre esse despontar do Rock leva em consideração não somente a música, como também a influência cultural e comportamental que esse estilo musical perpetrou sobre a juventude da época, cuja influência passou a desagradar uma parte considerável da sociedade, assim, a partir de 1959, a indústria fonográfica estadunidense passou a investir em artistas cujas letras de suas canções não refutavam os valores sociais e culturais há tempos estabelecidos.
Contudo, essa “domesticação” do rock teria o seu fim em 1964, com o advento conhecido como a “invasão britânica”, termo utilizado para retratar o período em que uma quantidade significativa de músicas de artistas provenientes do Reino Unido passou a ocupar as primeiras posições nas paradas de sucesso dos EUA.
As bandas que fizeram parte dessa chamada “invasão britânica” conquistaram o público juvenil em face dos ritmos e das letras de suas músicas, cujas letras se aproximavam do aspecto contestador característico do rock produzido na segunda metade da década de 1950.
Ainda no decorrer dos idos de 1960, uma parte significa dessas bandas britânicas passaram a incluir novos sons em suas músicas através do uso de instrumentos até então estranhos a uma banda de rock, como flautas, cravos e violinos, incluindo, ainda, instrumentos de origem indiana, como o sitar, a tambura e a tabla, o que fez surgir o subgênero do rock denominado de rock psicodélico.
Percepções psicodélicas
O escritor, Aldous Huxley, em seu livro “As Portas da Percepção”(1954), criou o termo “psicodélico” referindo-se à manifestação da mente. No livro, ele discorre sobre a sua experiência sob o efeito da mescalina, resultando na expansão de sua percepção, como a intensificação das cores e alterações na compreensão do espaço e tempo.
Posteriormente, o psiquiatra Humphry Osmond utilizou alguns dos conceitos do livro de Huxley como parte da terapia psicodélica. No entanto, tais experiências receberam muitas críticas negativas em face da subjetividade de seus resultados e do uso de alucinógenos. Logo foram criadas leis, tanto nos EUA como no Reino Unido, proibindo o uso de drogas alucinantes, ainda assim, não foram poucas as composições musicais que tiveram como base sons e imagens criadas pelo uso de tais substâncias, dando origem ao rock psicodélico.
Ao passo que o uso de substâncias que causavam a expansão da percepção teve a sua participação na estrutura do rock psicodélico, foi também um dos fatores responsáveis pelo seu fim, tendo em vista a morte de diversos artistas ocasionada pelo uso de drogas ilícitas, como no caso de Jimmi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, que morreram de overdose aos 27 anos de idade.
Novos sons
O rock psicodélico incorporou novos efeitos sonoros eletrônicos, efeitos de gravação, solos estendidos e improvisação. A canção instrumental de 1962 intitulada “Telstar”, do grupo The Tornados, provavelmente foi a primeira canção em que se utilizou sons atípicos, advindos de uma claviolina, que nada mais é que um sintetizador eletrônico analógico. Mas foi a partir de 1965 que houve uma expansão significativas do rock psicodélico, com destaque para o folk rock de Bob Dylan e a presença no cenário musical do sitarista Ravi Shankar, que influenciou diversos músicos britânicos, dentre eles, George Harrison, que no final daquele ano utilizaria o sitar na gravação da música “Norwegian Wood”, do álbum Rubber Soul dos Beatles.
No ano seguinte, “Shapes of Things”, dos Yardbirds, e “Eight Miles High”, dos Byrds, tornaram-se as primeiras músicas psicodélicas a alcançarem sucesso, tanto nos EUA, como no Reino Unido, entretanto, foi no ano de 1967 que o rock psicodélico atingiu o seu auge, sendo o som predominante tocado nas rádios destes países.
Os Beatles já haviam gravado “Tomorrow Never Knows”, música repleta de manipulação sonora, inclusa no álbum Revolver (1966), mas foi em 1967 que eles mergulharam no psicodelismo em praticamente todas as canções daquele ano, com destaque para Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, considerado o marco da psicodelia, o álbum traz sons que remetem ao vaudeville, como em “Being for the Benefit of Mr. Kite!”; à utilização de elementos de música clássica, como em “She’s Leaving Home”; e, é claro, ao uso de instrumentos indianos, no caso de “Within You, Without You”.
Os Rolling Stones também embarcaram no psicodelismo, pelo menos no álbum “Their Satanic Majesties Request” (1967), incorporando diversos instrumentos não convencionais para uma banda de rock, como saxofone, vibrafone, mellotron, harpa e tabla. Dentre outras grandes bandas que flertaram com o psicodelismo estão Pink Floid, The Doors, Jefferson Airplane, The Jimmi Hendrix Experience e Grateful Dead.
No Brasil, tivemos a Tropicália, que uniu o samba e a bossa nova ao rock psicodélico, como também influenciou o cinema e a arte. Embora o movimento tenha sido iniciado por músicos baianos, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, o estilo musical dos Mutantes, e posteriormente, dos Secos e Molhados, é o que mais se aproxima do rock psicodélico.
O movimento hippie
A ideologia da contracultura e a expansão da consciência configuraram-se como o elo que unia o movimento hippie ao rock psicodélico, que se manifestavam como um meio de expressão de ideais de paz, amor, liberdade e repulsa ao sistema vigente, sobretudo ao consumismo desenfreado. Eventos como o Verão do Amor, o Monterrey Pop Festival e o Festival de Woodstock fortaleceram a união entre o rock psicodélico e o movimento hippie.
Um outro ponto de identificação do rock psicodélico com os hippies consistia na utilização de cores vivas e intensas, como se via nas roupas dos hippies da época, simbolizando o jeito despreocupado de ser, e nas capas de álbuns como “Disraeli Gears” (1967), do Cream, e “Are You Experienced” (1967), do The Jimmi Hendrix Experience, que procuravam transmitir uma sensação de euforia e alucinação, com a utilização de formas distorcidas, permitindo uma percepção alterada da realidade.
Declínio e legado
Em que pese o fato de o psicodelismo e a contracultura terem moldado uma época, o declínio do movimento hippie e, por tabela, do rock psicodélico, ocorreu, não somente com o advento de leis que proibiam o uso de drogas e com a morte de diversos ícones do rock em face da utilização dessas substâncias, como também por acontecimentos que puseram os princípios de paz, amor e liberdade em contradição.
Dentre os acontecimentos que evidenciaram tal contradição e que muito contribuíram para o fim do movimento da contracultura estão a reação anti-hippie, em face do envolvimento da Família Manson, comunidade hippie liderada por Charles Manson, nos assassinatos brutais de Sharon Tate, Leno e Rosemary LaBianca, e a violência e mortes ocorridas durante o show de rock da contracultura, o Altamont Speedway Free Festival, realizado em dezembro de 1969, tendo sido, inclusive, filmado o assassinato de um adolescente negro pelos seguranças do evento, os Hell’s Angels.
Após o declínio do movimento hippie, outras manifestações contraculturais surgiram, como o movimento punk, o movimento verde e a Nova Era (New Age), sendo que muitos de seus princípios, como o viver em paz com o próximo e com a natureza, continuam presentes na sociedade.
Quanto ao rock psicodélico, muitas das bandas que tocavam este subgênero do rock, como o Soft Machine e Pink Floyd, instintivamente criaram o rock progressivo, obtendo enorme sucesso de renda e público na década seguinte através da venda de seus álbuns e de suas apresentações perante a uma juventude entusiasmada e fiel. E assim, o rock continuou conquistando os jovens.
*O texto é de livre pensamento do colunista*




