O velho Latim

(Imagem: Gemini)
Coluna Letrados
Por: Sueli Valiato – Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Caríssimo (a) leitor (a), o texto de hoje é dedicado às pessoas que são apaixonadas pela Língua Portuguesa  do Brasil: a língua mais rica,  mais bela e descolada do mundo.

Há muitos anos, numa região da Itália Central, chamada Lácio, vivia o velho senhor Latim. O velho Latim nasceu numa tribo latina e habitou nessa região, e depois os membros da tribo se espalharam por vários lugares do mundo.

O velho Latim construiu sua morada no lugar mais elevado do terreno, próximo ao campo onde as palavras se reproduziam. E de lá tinha visão privilegiada. Como era bastante observador e já estava idoso, passava os dias a observar tudo que acontecia nos arredores de sua residência, sentado numa cadeira de balanço na varanda.

Certo dia, quando olhava as palavras se relacionarem, trabalharem… Observou algo que lhe chamou a atenção. Viu que as palavras desempenhavam diferentes funções e que de acordo com a função que desempenhavam, formavam grupos.

Os dias passavam… E o velho Latim continuava observando atentamente as palavras desempenhando suas funções, anotando cuidadosamente suas conclusões num pergaminho. Ao final de cada dia, guardava esse pergaminho num baú dourado, no canto da sala de estar.

Depois de anos, o velho Latim concluiu que as palavras desempenham funções; que uma mesma palavra poderia desempenhar mais de uma função, e que isso depende do lugar e da intenção em que ela estava atuando. Observou ainda, que tinha grupos de palavras que eram de diferentes tamanhos, alguns enormes, outras bem reduzidos.

Com suas observações conseguiu concluir que as palavras trabalhavam dando nomes aos seres, às coisas; caracterizando-as; acompanhando e/ou substituindo as palavras que nomeiam os seres e as coisas; ligando palavras e orações, expressando ações, quantificando e ordenando; complementando, auxiliando as palavras que expressavam ações, ajudando definir ou indefinir as palavras que nomeiam as coisas e os seres. Mas um grupo chamou sua atenção de forma especial, devido a sua variação de postura. Era um grupo em que a emoção é quem determinava a ação.

Numa manhã de primavera, antes de tomar seu café matinal, o velho Latim escreveu uma mensagem e a entregou a sua filha, Língua Portuguesa, dizendo:

– Faça essa mensagem chegar a todos os lugares em que há pessoas estudando as palavras e suas funções. Mas primeiro, escreva um relato contando a minha experiência com as palavras, a partir do que escrevi no pergaminho.  Peço que termine o relato com a seguinte frase: “O velho Latim, que deixou a Língua Portuguesa como herdeira, pede a você, que agora lê esta mensagem, que procure, pesquise o nome que se dá a cada grupo de palavra e das palavras faça bom uso, construindo um mundo mais culto e fraterno!!!”.

Dizendo isso, o velho Latim debruçou-se sobre a mesa do café. Deu seu último suspiro e morreu com essa mensagem presa entre os dedos… Deixando toda riqueza para a sua filha Língua Portuguesa, que se aventurou, junto com os colonizadores, por inúmeros territórios de nosso mundo. Relacionando-se intimamente com as palavras desses lugares, aumentando infinitamente o seu patrimônio fonológico, morfológico, sintático e semântico. E foi assim que, em solos brasileiros, nasceu o seu  herdeiro mais rico,  mais belo e descolado: o Português Brasileiro.

*O texto é de livre pensamento da colunista*
Sueli Valiato – *Reside em Jaguaré *Graduada em Letras – Licenciatura Plena em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa, pela UFES; *Pós-graduada em Educação do Campo pela FANORTE; professora de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II, no CEFFA de Japira, em Jaguaré-ES, integrante da Coordenação Geral e da Coordenação de Plano de Curso da RACEFFAES. / Foto: Divulgação.
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