Raul Seixas, o caminho para o sucesso

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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista

Olá, leitor(a) da coluna Letrados! No último dia 28, se vivo, Raul Seixas, o nosso “maluco beleza”, completaria 80 anos. Ele foi um dos maiores representantes do rock em terras tupiniquins, se não o maior, em face de sua extensa obra expressa em uma série de álbuns que, como bem observou o compositor e diretor de arte Bruno Leo Ribeiro, parecem coletâneas, dada a quantidade de hits contidos neles, além do fato de seu comportamento e
seu estilo de vida se apresentarem em consonância com a cultura rock desde a sua pré-adolescência.

Hoje, as músicas de Raul encontram-se largamente difundidas através de streamings e YouTube, dentre outros canais de reprodução, incluindo CD’s, que ainda são comercializados. De forma similar, também é possível conhecer a vida e trajetória musical desse renomado artista através de filmes, como o documentário “Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio” (2012), e livros, como “Novo Aeon: Raul Seixas no Torvelinho do Seu Tempo”, do escritor capixaba Vitor Cei, além de um sem número de reportagens, apresentações e entrevistas dadas para jornais, revistas e programas de TV e que hoje podemos encontrar na internet.

Diante do vasto material disponível a respeito da vida e obra de Raul, entendo ser interessante identificar alguns acontecimentos e fatores que não somente contribuíram para a sua ascensão como músico, mas que também moldaram a sua carreira até alcançar o sucesso perante o grande público, que se iniciou com o lançamento de seu primeiro álbum solo.

Sincretismo musical

Uma das características singulares das músicas de Raul está na fusão do gênero rock com a música nordestina, resultando num estilo próprio. No entanto, tal fato não se deu por acaso.
Raul Seixas nasceu e viveu a sua infância e adolescência em Salvador, o que lhe conferiu uma enorme influência da música nordestina, principalmente o baião. Contudo, o estilo predominante em suas músicas foi o rock, desencadeado em face de outro acontecimento que muito contribuiu para esse fato.

Em 1957, a família de Raul mudou-se para uma casa próxima ao consulado dos EUA, o que fez com que ele entrasse em contato com os rapazes do consulado, os quais lhe emprestaram alguns discos de Elvis, Little Richard e Chuck Berry, surgindo, assim, a paixão de Raul pelo Rock’n’Roll.

A influência musical da região em que vivia e a paixão pelo rock culminaria numa junção de gêneros, pois Raul conseguia identificar semelhanças entre o rock e o baião, chegando a chamar Luiz Gonzaga de “O Elvis do Sertão”. Esse sincretismo musical é facilmente percebido em canções como “Mosca na Sopa”, “Let Me Sing, Let Me Sing”, “Rockixe”, “Quero Ir” e no medley “Blue Moon of Kentucky / Águia Branca”.

Nascido para o Rock’n’Roll

Se viver a sua infância e adolescência em Salvador culminou no sincretismo musical de Raul, o fato de ter nascido em meados da década de 1940 fez com que ele desfrutasse do movimento Rock’n’Roll em sua plenitude, pois o ápice desse movimento ocorreu na década de 1950, justamente quando Raul estava entrando na adolescência.

Com o incentivo de seu amigo, Walter Serrão, Raul começou a ter uma vida social mais ativa, que, somado à sua paixão pelo rock, surgiram as tardes na loja de vinil Cantinho da Música, o Club dos Cigarros, cuja principal função era reunir os amigos, matar aula e ouvir música, e o Elvis Rock Club, que, na realidade, era uma gangue cometendo arruaças, como quebrar
vidros de janelas das casas, sendo que Raul só estava ali para permanecer conectado com o espírito aventureiro da época.

Esse período que reunia o comportamento despojado de ser, os topetes, as jaquetas de couro e a música que conquistara os jovens em toda parte do mundo, foi crucial para a formação artística/musical de Raul.

A família de classe média

Raul Seixas pertencia a uma família de classe média baiana. Seu pai, Raul Varella, era engenheiro de estrada de ferro, enquanto a sua mãe, Dona Maria Eugênia, dedicava-se às atividades domésticas. Embora não fossem ricos, a condição financeira familiar permitiu que Varella construísse uma extensa biblioteca em sua casa, o que motivou Raul a se interessar por literatura ao ponto de sonhar em ser escritor, apesar dos resultados pífios na escola.
Raul não somente criava e contava histórias fantásticas, repletas de lugares imaginários intitulados de “O Nada”, “O Tudo”, “Oceanos de Cores”, dentre outros, como também as interpretava, desenhava e vendia para seu irmão, Plínio. Geralmente as histórias não terminavam, o que “obrigava” o irmão a sempre comprar a próxima história.

Esse interesse pelo extraordinário, como também pela filosofia e a literatura, tiveram uma forte influência nas composições de Raul, sobretudo a partir da década de 1970.

Amigos e contatos-chave

Ainda na adolescência, Raul contou com a participação dos amigos Décio e Thildo Gama para formarem o grupo musical Relâmpagos do Rock, que posteriormente se chamaria The Panters, até chegar na sua formação clássica, já com a denominação Raulzito e os Panteras, tendo Raul e Eládio Gilbraz nas guitarras, Mariano Lanat no baixo e Carleba na bateria, com
todos revesando no vocal, exceto este último.

O grupo chegou a gravar um disco em 1967, lançado no ano seguinte, com direito a uma versão de “Lucy in the Sky with Diamonds”, com o título em português de “Você Ainda Pode Sonhar”, porém o álbum não obteve uma boa vendagem. Contudo, nesse período, Raul conheceria aquele que foi fundamental para a sua entrada e permanência na indústria fonográfica: o cantor Jerry Adriani foi o artista que primeiro reconheceu o talento de
Raul, mesmo quando este era apenas um dos integrantes da banda.

Adriani costumava convidar Raulzito e os Panteras para tocarem como banda de
apoio, cuja experiência muito contribuiu para a comunicação de Raul com o público, conforme ele próprio revelou. Não muito tempo depois, Adriani convenceu Evandro Ribeiro, então presidente da CBS, a empregar Raul como produtor musical. Após alguns bons trabalhos de produção, o próprio Adriani convidou Raul para produzir o seu próximo disco, o que se repetiu nos próximos álbuns do cantor lançados em 1970 e 1971, os quais continham algumas músicas compostas por Raul.

A partir de então, Raul passa a escrever uma quantidade absurda de músicas para outros artistas vinculados à CBS, algumas fazendo um enorme sucesso, como “Doce Doce Amor”, interpretada por Jerry Adriani, e “Ainda Queima a Esperança”, cantada por Diana. Ambas as músicas foram compostas em parceria com Mauro Mota.

Apesar de terem participado de um projeto que não deu muito certo, o álbum temático denominado “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez”, Sérgio Sampaio foi outro nome importante para ascensão de Raul como músico, pois foi Sérgio que o convenceu a participar do Festival Internacional da Canção cantando “Let Me Sing, Let
Me Sing”, aquela mesma em que há a junção entre rock e baião, e Raul ainda compõe “Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo”, canção interpretada por Lena Rios & Os Lobos, sendo que ambas as músicas chegaram na fase final do Festival e obtiveram sucesso de crítica e público.

A partir de então, Raul é contratado pela gravadora Philips, sendo que na mesma época ele conhece Paulo Coelho, que viria a contribuir na composição de algumas das músicas do primeiro álbum de Raul, como “Al Capone” e “Rockixe”, bem como em outras inclusas em álbuns posteriores.

“Krig-ha, Bandolo!”, expressão utilizada por Tarzan nas histórias em quadrinhos, cujo significado é “Cuidado, o inimigo está próximo”, é o título do primeiro álbum solo de Raul, lançado pela Philips em 1973. Impulsionado por faixas como “Ouro de Tolo” e “Metamorfose
Ambulante”, o álbum recebeu reconhecimento da crítica e do público, sendo considerado um dos melhores álbuns da história da música brasileira, projetando Raul nacionalmente. A partir daí, ainda que em meio a percalços dos mais variados tipos e situações, Raul inicia uma longa carreira de sucesso que muitos de nós conhecemos.

*O texto é de livre pensamento do colunista*


Giovandre Silvatece – *Reside em Vitória/ES *Roteirista *Servidor Público. / (Imagem: Divulgação)

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