Rock complexo e intenso

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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista

Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Considerando que neste ano o Rock completa 70 anos, em artigos anteriores procurei identificar os principais movimentos envolvendo esse gênero musical que até os dias de hoje encanta a juventude, praticamente, em todo o planeta.

O rock, após a sua eclosão, ocorrida em 1955, transcendeu o fato de ser apenas mais um gênero musical, tornando se uma fervorosa ferramenta de expressão cultural e exercendo uma forte influência no comportamento dos jovens, por vezes caracterizando se por liberdade, questionamento e rebeldia, o que veio a desagradar boa parte da sociedade da época. Assim, após uma série de eventos que culminaram no desaparecimento dos maiores ícones do rock da segunda metade da década de 1950, ainda que para alguns destes de forma temporária, a indústria fonográfica não resistiu a pressão desta parte da sociedade e, já no final daquela década, passou a investir em artistas cujas letras de suas canções iam ao encontro dos valores sociais há tempos instituídos.

Essa “domesticação” do rock teria o seu fim em 1964, com o advento conhecido como a “invasão britânica”, quando se viu uma quantidade significativa de artistas provenientes do Reino Unido ocupando, com suas canções, as primeiras posições nas paradas de sucesso dos EUA, sendo que algumas destas canções traziam consigo algum tipo de insubmissão aos preceitos da época.

Já na segunda metade da década de 1960, diversas bandas introduziram em suas músicas instrumentos que até então não possuíam qualquer relação com o gênero rock, desde cravos e violinos, até mesmo instrumentos de origem indiana, como o sitar e a tabla, nascendo, assim, o rock psicodélico.

O psicodelismo esteve bastante atrelado ao movimento hippie, assim, com o enfraquecimento deste último, o rock psicodélico foi perdendo espaço para o rock tradicional, contudo, algumas das bandas que tocavam esse subgênero do rock acabaram por criar o rock progressivo, enquanto outras migraram para o hard rock.

A transição

Conforme assinalei no artigo denominado Rock Psicodélico, a canção instrumental do grupo The Tornados intitulada “Telstar”, gravada em 1962, foi, provavelmente, a primeira canção em que se utilizou sons anômalos ao rock, advindos de um sintetizador eletrônico analógico conhecido como claviolina, podendo ser considerado como o primeiro rock psicodélico. Contudo, esse subgênero do rock se expandiria a partir de 1965, sendo que a música “Tomorrow Never Knows”, do álbum Revolver (1966) dos Beatles, apresenta-se como um exemplo clássico do uso de uma expressiva variedade de sons que caracterizou o rock psicodélico, utilizando-se de “musique concréte” (junção de partes completas ou fragmentos de sons do ambiente, ruídos ou instrumentos musicais), manipulação sonora eletroacústica, instrumentos indianos (tambura e sitar com efeito drone), loops de fitas, efeitos de guitarra invertidos, piano de pregos (tack piano), mellotron e pandeiro, além de instrumentos comuns a uma banda de rock.

Essa variedade de sons também pode ser percebida nos primeiros álbuns de bandas como Moody Blues, King Crimson, Pink Floid e Soft Machine, associando essas bandas ao cenário psicodélico da época. No entanto, com o esmorecimento do rock psicodélico, tais bandas, dentre outras, acabaram por criar o rock progressivo, incorporando em suas músicas um maior grau de complexidade, profundidade e experimentalismo.

O que é rock progressivo?

O rock progressivo é um gênero musical que se desenvolveu a partir da segunda metade da década de 1960, atingindo o seu ápice durante a primeira metade da década seguinte, tendo sido implementado por bandas que originalmente tocavam rock psicodélico, as quais procuravam ampliar o rock tradicional com composições mais bem elaboradas, arranjos complexos e letras introspectivas, além de manter a diversidade instrumental característica do rock psicodélico.

As bandas de rock progressivo intercalaram o rock ao folk, ao jazz e até mesmo à música clássica, como também fizeram uso incessante da tecnologia de forma a criar novos sons e, desse modo, elevar a música à condição de “arte”, sendo impensável a criação de músicas destinadas somente à dança.

Isso tudo desaguou na composição de músicas longas, com diferentes escalas e ritmos dentro de uma mesma canção, dando origem a álbuns conceituais, ou seja, álbuns que contam uma história ou tratam de um mesmo tema através das músicas neles contidas, tendo como exemplo clássico o álbum “The Wall” (1979) do Pink Floyd, que conta a história de um astro do rock que se isola do mundo.

Apesar do enorme sucesso das bandas de rock progressivo perante ao público, por vezes álbuns inteiros eram considerados pela crítica como pretensiosos e extravagantes, especialmente no que se refere à longa duração de suas músicas, ou mesmo trechos instrumentais com solos “intermináveis”, aparentando sobrepor a técnica ao sentimento.

No Brasil, as bandas de rock progressivo sofreram forte influência de bandas internacionais, mas também incorporaram elementos da música brasileira, soul e música erudita. O Terço, Som Imaginário e O Som Nosso de Cada Dia foram bandas que se destacaram no rock progressivo nacional, além dos Mutantes, que após a saída de Rita Lee, passaram a explorar canções mais longas e complexas, o que pode ser constatado nos álbuns “O A e o Z”, gravado em 1973 e lançado em 1992, e “Tudo Foi Feito pelo Sol”, gravado e lançado em 1974.

Outro destino: o hard rock

Se algumas bandas que flertavam com o rock psicodélico praticamente criaram o rock progressivo, outras perfizeram o caminho de volta ao rock tradicional ou se embrenharam no hard rock, subgênero do rock que apresentava vocais agressivos, guitarras distorcidas com solos intensos, além de uma bateria com batidas potentes, utilizando se de mais tambores e pratos que o padrão.

Diferente do rock progressivo, que pode ser considerado uma evolução do rock psicodélico, as bandas de hard rock não necessariamente possuíam suas raízes no rock psicodélico, no entanto, bandas como Status Quo, migraram, de forma direta, do rock psicodélico para o hard rock.

O apogeu do hard rock ocorreria no final da década de 1960 até meados da década de 1970, tendo como representantes bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Alice Cooper Group, Uriah Heep e uma variedade significativa de outras bandas que também fizeram considerável sucesso, culminando numa quantidade impressionante de álbuns excepcionais produzidos nesse curto período de tempo, como “Deep Purple in Rock” (1970), “Led Zeppelin IV” (1971) e “Love It to Death” (1971), de Alice Cooper Group, além de muitos, muitos outros.

No Brasil, Bixo da Seda e O Peso, que lançou somente um disco de estúdio, são algumas das bandas que representaram o hard rock nacional da década de 1970, contudo, muitas vezes esse estilo musical resumia se em uma ou outra música de determinada banda, como no caso da canção “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer” (1972) dos Mutantes, e em alguns poucos álbuns, como “Casa de Rock” (1976), da banda Casa das Máquinas.

Para nunca mais

A partir da segunda metade da década de 1970, o rock progressivo entrou em declínio devido a diversos fatores, dentre os quais estava o fato das bandas tornarem se

extremamente caras e complexas, culminando em derrocada comercial, ao ponto de sua popularidade nunca mais ter sido plenamente recuperada.

Quanto ao hard rock, o entendimento geral é que esse continuou a evoluir nas décadas seguintes, e de fato muitas bandas boas surgiram, entretanto, a farta produção de grandes álbuns como aqueles do início da década de 1970 jamais se repetiria.

*O texto é de livre pensamento do colunista*


Giovandre Silvatece – *Reside em Vitória/ES *Roteirista *Servidor Público. / (Imagem: Divulgação)

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