Evento no Hotel Senac Ilha do Boi marcou a conclusão do curso de 800 horas para 22 novos profissionais; painéis destacaram o potencial de comunidades como Jaburu e Jesus de Nazareth, São Benedito e Caratuira. (Foto: Jornal Merkato)
Cultura/Turismo
Por: José Salucci – Jornalista
Vitória – A formatura de 22 novos guias de turismo, do Curso Técnico em Guia de Turismo, do SENAC/EPHE, marcou a noite desta terça-feira (04), no Hotel SENAC Ilha do Boi, em Vitória. O evento, que celebrou a conclusão de uma formação de 800 horas, teve como ponto alto a apresentação de painéis escolhidos pelos próprios alunos, focados no Turismo de Base Comunitária (TBC) e de Base Local. Uma nova turma do curso também esteve presente.
“Não é um produto, é uma experiência”
O momento central do evento foi dedicado aos painéis, onde se apresentou um panorama histórico e conceitual sobre o Turismo de Base Comunitária (TBC). Os formandos destacaram suas origens, princípios e pilares fundamentais. A principal mensagem reforçada foi que o Turismo de Base Comunitária “não é um produto, é uma experiência”, fundamentada na convivência e na troca cultural.

Segundo a exposição, o TBC se sustenta em cinco pilares fundamentais: protagonismo e controle local, onde a comunidade deve ser o principal agente do processo, planejando e gerindo as ações; benefícios equitativos: a renda gerada deve ser distribuída de forma justa entre todos os participantes; sustentabilidade integrada, em que a conservação ambiental e valorização cultural caminham juntas. Outro ponto citado, a interculturalidade, que ocorre quando há troca de experiências entre visitantes e comunidade, com respeito mútuo. Por fim, a gestão transparente e cooperativa, que tem como modelo ideal o cooperativismo, pois garante decisões coletivas e uso consciente dos recursos.

O potencial econômico e a autoestima local
Presente na formatura, o presidente do Sindicato Estadual dos Guias de Turismo do Espírito Santo, Leonardo Lares, ressaltou o impacto social e econômico desta modalidade de turismo.
“O turismo hoje está tendo um crescimento muito grande. Nós estamos falando de um PIB de 8 a 10% em nível municipal, estadual, nacional e internacional. Quando se trabalha o turismo de base comunitária ou local, falamos sobre business, mas também sobre experiência — as pessoas querem viver o momento delas. E quando você transforma uma comunidade em turismo de base comunitária, o morador passa a ter autoestima, orgulho do seu lugar e se torna o primeiro a indicar os melhores locais”, disse Leonardo Lares.
A formação do guia: “O turismo é para todos”
A emoção marcou a fala das coordenadoras do curso, que acompanharam a trajetória dos formandos. Rosângela Surlo Gomes Ramos, pedagoga e coordenadora há 22 anos no Senac, falou sobre o desenvolvimento dos estudantes.
“Quando a gente vê a entrega dos alunos, o protagonismo deles, fazendo essa entrega, a gente se emociona, porque a gente participa desde a base”, comentou. Ela destacou que muitos alunos “chegam aqui sem saber exatamente o que querem, o que é turismo”, e que o curso transforma essas percepções.
“Eu trabalho com educação há 22 anos e, a cada entrega, eu me emociono, porque vejo o fruto do nosso trabalho, dos instrutores, de toda uma equipe envolvida”, concluiu.

Em seguida, a instrutora Andressa Bastos, do curso técnico de Guia de Turismo, do Senac, complementou a visão sobre a abrangência da profissão. “O turismo é para todos, ele é acessível, diverso e abraça todas as causas”, afirmou.
Andressa explicou que a formação é completa e prepara o profissional para diversos cenários: “O curso segue um plano com três viagens obrigatórias — regional, intermunicipal e interestadual — pois o aluno se forma como guia de turismo nacional.”
A instrutora comentou ainda que o tema do painel final foi uma escolha consciente dos estudantes, porque “foi um assunto que tocou o coração deles durante o curso”, concluiu Andressa.
Da teoria à prática: comunidades transformadas
O evento também abriu espaço para os verdadeiros protagonistas do TBC. Em outro painel, representantes e agentes políticos comunitários de Caratoíra, Jaburu, Jesus de Nazareth e São Benedito apresentaram seus projetos. Com fotos, imagens e vídeos, eles mostraram a transformação de áreas antes degradadas — como pontos de lixo, escadarias e vielas — em espaços de visitação turística.
Cosme, da comunidade de Jaburu, explicou como o turismo surgiu de uma necessidade local. “O Circuito Verde de Jaburu surgiu para resolver problemas na comunidade”, disse.

Cosme explicou que o projeto nasceu da necessidade de enfrentar desafios locais, como o acúmulo de lixo, e que a comunidade transformou esses pontos em espaços de lazer, hortas comunitárias e locais de memória — mostrando que o turismo ali começou como uma ferramenta de melhoria da qualidade de vida e valorização do território.


A força do TBC: “Resgate da alegria e autoestima”
Reforçando a importância da vivência prática, Leonardo Lares relatou uma visita técnica recente que exemplifica o potencial do TBC, unindo os novos profissionais ao conceito estudado.
“Realizamos nessa terça-feira uma visita técnica na comunidade de Jesus de Nazaré, com uma turma de guias de turismo formados em parceria entre Sebrae, Senac, Fecomércio e o Sindicato dos Guias de Turismo do Espírito Santo. Ali conseguimos identificar muito mais do que bolsões de pobreza — vimos a beleza do ambiente, a força do local e o resgate da alegria e da autoestima de cada morador. Isso só aqui na capital; imagina em todo o Estado e em todo o Brasil”, finalizou Lares.





Respostas de 2
A formação destes guias de turismo é de Excursão Nacional e Guia Regional Espírito Santo, vale lembrar!
Que espetáculo de apresentação e organização dos envolvidos. Senac sempre agregando no futuro dos profissionais no mercado de trabalho.