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27 de julho de 2024

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Nossa educação é ideológica?

Imagem: Divulgação. Professor Samuel J. Messias.

Este artigo trata do problema da ideologia na educação. Baseado na abordagem de Deleuze e Guattari, os autores discutem a educação como um processo ambíguo, que se situa entre a subjetivização e a singularização.

Procura, ainda demonstrar que tanto a pedagogia tradicional, quanto a renovada, são essencialmente ideológicas.

As relações que permeiam a construção dos currículos apresentam uma âncora de hegemonia ideológica, ou seja, um aspecto de poder que analisa, constrói, instrumentaliza as múltiplas faces existentes em um currículo.

Neves (2014), ao interpretar Foucault (2012), analisa as construções de poder presente nas diferentes esferas da humanidade: hospitais, penitenciárias, fábricas, forças armadas, e inclusive, a escola, ambiente no qual se forma a identidade do sujeito.

Essa ideia se aplica à construção do sujeito em suas diversas fases e etapas no processo de seu desenvolvimento, inclusive a prática. Apenas para esclarecer, sem aprofundar o tema da hegemonia, pois não é a proposta desse texto, para fixar a relação de poder, entende-se que a hegemonia coexiste à conquista de um consenso e da liderança cultural e político-ideológica de uma classe ou bloco de classes sobre as outras. A hegemonia não se dá apenas no campo econômico, mas numa esfera intelectual, ideológica e modelos de autoridade.

Para nós que pensamos filosoficamente a educação, esta problemática parece-me basilar, já que a possibilidade de uma formação para a liberdade implica em como se trabalhar com o fenômeno ideológico. A partir de Deleuze e Guattari, podemos afirmar que os processos educativos podem estar voltados para uma subjetivação que territorializa os indivíduos num determinado panorama ideológico, mas também podem ser a base de uma singularização, a partir da qual cada indivíduo pode construir-se livremente.

Procurarei aqui retomar as relações entre ideologia, subjetividade e educação, para depois poder deter-me na discussão de um processo educativo voltado para a singularização e a construção da liberdade.

Entendo a estrutura da subjetividade como fundamentalmente a estrutura da consciência explicitada pela fenomenologia existencial de Sartre. A subjetividade e a consciência são duas realidades justapostas, complementares e simultâneas: a descoberta da consciência dá-se através do reconhecimento da subjetividade – “eu sou!” -, e a subjetividade só tem sentido enquanto fenômeno consciente – eu me reconheço como eu mesmo. Podemos assim dizer, como afirmava Sartre sobre a consciência, que a essência da subjetividade reside na transcendência: ela só pode ser apreendida no conjunto dos atos que pratica, no perpétuo processo de autoconstrução a que se entrega.

A subjetividade não é uma entidade abstrata, uma “essência” de homem que se manifesta em cada um dos indivíduos, mas uma estrutura concreta, indissociável do corpo. Obviamente, a subjetividade não se esgota na corporeidade, mas no que é transcendente.  Entretanto, a subjetividade é impensável sem o concurso do corpo; a ideia de uma subjetividade pura, desprendida da corporeidade, pairando livre sobre o mundo e sobre o homem é absurda.

Desse modo, ela só existe como ação e como relação entre o homem e o mundo, mediada pela corporeidade. Mas como seria o processo de formação da subjetividade? Nessa abordagem fenomenológica deve ficar claro que a subjetividade é pura liberdade e possibilidade: por ser um vazio de ser ela abre-se para o mundo, para o processo de sua perpétua construção – o que tenho chamado, como Sartre, de transcendência. Isso faz com que cada subjetividade seja um processo único, absolutamente singular: cada estrutura de agenciamento subjetivo – que possibilita a ação sobre o mundo e a reflexão sobre essa ação – poderia preencher-se com as significações que construísse em sua caminhada única.

Por outro lado, o processo de construção do “si mesmo” nem sempre é encarado naturalmente pelos indivíduos. Espera-se, frequentemente, uma constituição heterônoma, recebida, e não uma constituição autônoma, construída pela própria pessoa. No desespero de perceber-se pré conscientemente um nada, a grande maioria dos indivíduos entrega-se a uma “prostituição de ser”: entregando-se ao mundo, esperam receber de fora aquilo que não foi encontrado no seu interior.

É nesse momento que ganha a cena o fenômeno da má-fé. O indivíduo lança-se ao teatro, à representação de papéis na busca de sua Identidade, de seu reconhecimento e de sua apresentação ao mundo como um isso e não como um nada. A má-fé é a forma de preencher o vazio de ser da subjetividade. Como será a minha ação na sociedade, como agirei sob o olhar inquiridor do outro? Ora, posso agir como um garçom, desde que assuma o estereótipo de garçom, e todos me reconhecerão como tal; terei a minha tão sonhada identidade.

Para tomar outro exemplo, o que é ser professor? Como colocar em prática o processo de educação? O que fazer” com os alunos, aquele conjunto de subjetividades que se abrem para o coletivo e a exterioridade, esperando daí receber suas significações? É infinitamente mais fácil assumir um estereótipo de professor, reproduzir uma série de práticas tradicionais, que possibilitarão o reconhecimento e o decorrente status de professor, do que dedicar-se à pesquisa e à reflexão sobre a educação, e à coragem de assumir posturas e práticas que a sociedade possa não reconhecer como “pedagógicas”, tendo a pessoa sua identidade heterônoma negada, sendo destruída frente aos outros, tragada pelo “buraco negro de ser” de sua subjetividade.

É através do fenômeno da má-fé que a ideologia pode entranhar-se na estrutura mesma das subjetividades. Se a subjetividade é um agenciamento vazio de significações que deve construir-se em seu próprio ato de relação com o mundo, a ideologia apresenta-se como um agenciamento pleno de significações, as significações construídas pela máquina de produção. Toda máquina de produção, todo sistema social, presume uma lógica de funcionamento; a ideologia é justamente essa lógica de funcionamento da máquina social, do processo social de produção material disseminada por toda e qualquer produção, a desejante, a amorosa, a artística.

À medida em que qualquer ato material, por mínimo que seja, constitua-se em um agenciamento análogo àquele da produção material, o sistema reproduz-se nos indivíduos, que por sua vez o reproduzem a cada momento, garantindo a sua perpetuação.
Um dos saberes fundamentais da prática docente é a consciência de que toda educação é ideológica, e que a força dessa ideologia é ainda mais intensa quando ela fica oculta sob a máscara da neutralidade.

 

**O texto é de livre pensamento do colunista**


Samuel J. Messias – *Mestre em Educação ( Florida University- USA) – *MBA em Estratégia Empresarial – *Especialista em Políticas Públicas – *Especialista em PNL – *Especialista em Empreendedorismo Circular – *Gerente de Projetos Especiais na ADERES – *Prof. Convidado na Florida University – USA.

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