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27 de julho de 2024

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Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39 Empreendedorismo/Networking Por: José Salucci – Jornalista e diretor do Merkato Conhecimento ou ambiente? Qual desses dois valores você

“Somos inclusão social”

Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39.


De crime nacional a xodó nacional, como diz o jornalista e historiador Eduardo Bueno. A capoeira é um patrimônio cultural e imaterial brasileiro.

A prática da capoeiragem, no Brasil, de 1890 até 1937, foi proibida por Lei, entre outras datas do Brasil Colônia. O Código Penal do Brasil, em seu Art. 402 penalizava com prisão celular, de dois a seis meses, o cidadão que praticasse a capoeira. Essa rasteira preconceituosa golpeia a intrínseca cultura brasileira até os dias de hoje, não mais na sagrada Constituição Federal, mas na lei do coração das pessoas.

Em 1936, com ginga e voadora no opressor, foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), o poeta Mário de Andrade, à época, sugeriu que a capoeira fosse tombada como patrimônio nacional. Em 1937, o Mestre Bimba fez uma apresentação capoeirística para o então presidente Getúlio Vargas, a arte caiu nas graças do estadista, e a partir daí se tornou um status de esporte no país.

Com esse ínfimo relato histórico, o Jornal Merkato abre a série “Capoeira Capixaba: relatos e vivências”. Na ocasião, aos sábados, durante o período de três meses, os mestres, contramestres e envolvidos na roda do mundo da capoeira, aqui do estado do Espírito Santo, serão entrevistados para que o leitor possa conhecer os feitos e efeitos dessa cultura que reúne arte, dança, luta, esporte, história, filosofia, religiosidade e muito mais gingas por aí.

Nosso primeiro entrevistado da roda, é o presidente da Federação Capixaba de Capoeira (Fecaes), Cleber Alvarenga Brasil, o Me. Nagô.

Entra na roda dessa entrevista, leitor! Na roda de capoeira, diante da sabedoria e ginga do Me. Nagô, o preconceito cai ao chão. Capoeira! IÊA!

1 – Seja bem-vindo, mestre Nagô, na roda dessa entrevista! Me fala um pouco sobre você, se apresente ao público.

Me chamo Cleber Alvarenga Brasil, nasci em Vitória em 1963. Tenho 59 anos, agora em 13 de setembro faço aniversário, completo 60. Nasci em Santo Antônio… Moro em São Cristóvão. Tenho dois filhos Contramestres de capoeira. Sou avô e casado com uma policial.

Em relação aos estudos, completei o segundo grau com curso técnico – Escola Técnica do Comércio Capixaba -, formei em Técnico em Administração… A gente sabia cantar o hino Nacional (risos)… E depois eu fui para o Exército… Fiquei 1 ano e 6 meses. Depois saí; me arrependo até hoje. Eu servi aqui no 38º BI – Vila Velha. Depois saí de lá… Comecei a trabalhar… Deixei o estudo de lado, à época… Casei aos 24 anos… Começaram as prioridades da família… Meu primeiro menino nasceu.

2 – E nesse tempo de Exército, quais são as lembranças, sentimentos, fatos marcantes, entre outras coisas?

Vivi coisas maravilhosas. Aprendi a questão do companheirismo, de estar junto com seu colega. E na questão da responsabilidade… Ter responsabilidade pra tudo que fizer em sua vida, e ter respeito com seu próximo; também a não colocar dificuldade em tudo. Isso foi importante pra gente.

Agora, o outro lado… Eu passei por perseguição no Exército. Encontrei um tenente, o Gilmar. Ele me perseguia, por mais que eu fizesse as coisas certas. Eu era soldado e estava pronto para ir pra Escola de Sargento de Carreira (EFSC). Eu olhei a inscrição na minha mão, lembrei logo do infeliz do tenente Gilmar e joguei a minha inscrição na lata de lixo.  Depois pensei na besteira que eu tinha feito.

3 – E depois disso, qual foi o rumo da sua vida?

Trabalhei na papelaria Gecore por 16 anos, como Consultor de Vendas. Também trabalhei na antiga Ferro & Aço, na área de segurança (vigilante). Meu pai, já falecido, deixou um legado pra gente. Respeito, moral, dignidade e trabalho. E uma coisa que ele falou pra gente: “Estudem! Eu fui peão e não quero que vocês sejam”. Segui o conselho e hoje sou formado em Educação Física e sou pós-graduado em Psicomotricidade e Educação Inclusiva.

4 – E sobre o universo da capoeira, quando e como iniciou em sua vida?

Comecei a praticar a capoeira aos 15 anos de idade, em 1975, em Santo Antônio, com meu irmão, no fundo de quintal da casa de meus pais, a sombra da mangueira em terra batida. Meu irmão fez aula com o Mestre Diabo Loiro, estilo de capoeira da Angola e depois praticou a capoeira do Me. Bimba, capoeira regional baiana. Meu irmão veio a falecer e eu não participei mais de grupo de capoeira… Só brincava… Em 1994 participei de um grupo chamado Liberdade, existe até hoje.

5 – Nagô, você possui o título de Mestre na capoeira, como se deu essa formação?

Eu fui confirmado como mestre em 2010. Treinei com o professor Torpedo, no Grupo Besouro, por 16 anos. A sede fica no Parque Moscoso, Vitória. À época, era o Me. Batata. O professor Torpedo saiu do Grupo Besouro e criou o Barra Vento… Fiquei com ele mais 14 anos. Por incompatibilidade de ideias, eu já contramestre, saí do Barro Vento e formei a Associação Desportiva Cultural de Capoeira Renascer. Ela é registrada como entidade pública estadual. Porém, como Contramestre, precisava de um mestre pra me dar um suporte.  Então procurei o Me. Michael, da Associação Palmares, ele me formou em 2010, como disse.

O mandato de presidente da Federação Capixaba de Capoeira, do Me. Nagô, segue até 2026. / Foto: Divulgação.

6 – Associação Desportiva Cultural de Capoeira Renascer, quais são  os seus ensinamentos?

A nossa intenção, ao formar o Renascer, foi trazer toda a cultura da capoeira. Minha formação não é destinada para atletas, é mais para professores. Trabalho mais nesse quesito e disseminar a cultura da capoeira. Este ano faz 14 anos que formo capoeiristas e cidadãos. Hoje tenho 25 alunos, mas já formei mais de 300, entre crianças, homens e mulheres. Meu trabalho é social. Dou aula em Tabuazeiro há 28 anos.

7 – Agora vamos mudar a ginga da roda. Qual o seu projeto mais significativo para a Fecaes na Grande Vitória?

Um dos grandes objetivos, além do nosso pleito por um espaço de prática capoeirística no Complexo Viário, em Carapina, pretendo trazer cursos profissionalizantes para o capoeirista. Nós temos dentro do nosso estatuto 400 horas de cursos pra que nós possamos tornar o capoeirista um especialista no ensino da capoeira. Outra coisa, trabalhar em cima da inclusão social, da luta da discriminação racial e religiosa. E também tem os campeonatos… Já estou na tratativa de um campeonato para o ano que vem… Fazer uma seleção para que possamos participar de campeonatos nacionais e internacionais que estão acontecendo, que, infelizmente, nós não estamos podendo participar.

8 – Como presidente da Fecaes, você julga como sendo forte o movimento da capoeira aqui na Grande Vitória?

Hoje ela não está forte como já foi um dia, infelizmente. Porque a antiga gestão fez com que a nossa federação perdesse, totalmente, a sua confiabilidade. A gestão passada fez coisas que rebaixou a imagem da federação. Muitas coisas ruins, que foram feitas pelo ex-presidente, como muitos do meio sabem. Hoje nós estamos resgatando aos poucos a imagem da Fecaes. E com todo esse problema, a capoeira aqui na Grande Vitória, enfraqueceu.

9 – Mestre, faça uma crítica ao movimento da capoeira na Grande Vitória, e me diga o que ela tem de bom que precisa de ser mantido?

Primeiro no que precisa manter. Precisamos de manter a nossa intenção da tradição oral (a papoeira) que está ficando extinta. Precisamos de manter mais a cordialidade entre nós, e precisamos de melhorar o companheirismo.

Quanto a crítica, precisamos de ir nos eventos pra que a gente possa caminhar, porque hoje tá muito restrito a determinados grupos, e também precisamos de melhorar a participação em projetos, porque muitos de nós não sabemos o que vem a ser um projeto. Fazer um projeto formalizado para empresas privadas e, também, para o setor público. Tem muito projeto sendo lançado de cultura e esporte, e a capoeira alcança a Sesporte e a Secult.

10 – Presidente, deixa um recado para os capixabas capoeiristas e admiradores dessa arte, que é ginga cultural em todo o Brasil.  

Essa parte filosófica é mais fácil (risos). A ginga é tudo, não só dentro da roda de capoeira. Nós precisamos de ter esse entendimento que essa discriminação que a gente sofreu, até pouco tempo marginalizados, isso falta o brasileiro dar mais importância aquilo que é nosso. Como diz o nosso poeta Jorge Aragão: “Nem tudo que é bom vem de fora”. O povo brasileiro precisa entender aquilo que é nosso.

O povo sem cultura é facilmente dominado, né? O povo sem raiz é facilmente massacrado. É saber que a capoeira é uma arte que já foi marginalizada. Dizer pras pessoas que nós somos da cultura afro-brasileira e que somos inclusão social. Somos a favor da liberdade do corpo, da mente e da alma. Entendendo isso, ficaria mais fácil pra todos nós.


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