O projeto social “Crianças Futuro da Nação” funciona nas dependências da EMEF Professora Maria Istela Modenesi. / Foto: Merkato.
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Cultura, esporte e educação. Essa tríade acontece no projeto social “Crianças Futuro da Nação”, regido pelo Me. Boca Preta e pelo Me. Boca, toda terça-feira e quinta-feira, às 19 horas, no bairro das Laranjeiras, em Jacaraípe.
A iniciativa de acolher crianças e adolescentes em risco de vulnerabilidade social, por meio da capoeira, é marca registrada desses mestres que ‘lavam os pés’ de seus discípulos e ensinam o caminho da disciplina e educação. Ao todo, o projeto recebe 70 beneficiários, tendo o mais novo praticante com três aninhos de idade, indo ao mais velho, 18 anos.
“A disciplina é uma educação nesse projeto. É a ética, a responsabilidade, o compromisso da formação de cidadão dessas crianças”, disse o idealizador do projeto, Luciano Santos Freitas, 44, o Me. Boca Preta, baiano de Ilheus, radicado no Espírito Santo desde 2004.
Para que esse projeto de capoeira viesse ecoar seu berimbau, o mestre conta com a magia de sua esposa, Viviane Santos Melo, 43. A presidente do projeto explica o motivo da existência desse projeto, que não se trata só de capoeira, mas de inclusão e sonho de infância.
“Meu sonho era mexer com projeto com as crianças. Isso sempre mexeu comigo desde a infância… Ter contato na comunidade… E sempre tá fazendo ações com eles… Trazendo um futuro melhor pras crianças. Eu conheci a capoeira com meus amigos, aqui na Serra. Vejo na capoeira uma confraternização, onde existem educadores resgatando crianças da comunidade”, disse a presidente, que também é magista.
A arte da capoeira é vista pelos seus praticantes como um esporte e movimento cultural muito completo, porque envolve a música, a dança, a ginga, a luta, a defesa pessoal, entre outros elementos históricos e filosóficos. O projeto “Crianças Futuro da Nação” funciona há três anos na quadra da EMEF Escola Maria Istela Modenesi, no bairro das Laranjeiras, em Jacaraípe. Essa parceria entre cultura e educação tem tudo a ver com a inclusão e oportunidade.
“Através de amigos, nós fomos convidados pela escola para fazermos uma apresentação no dia da Consciência Negra. Fizemos a primeira apresentação. Falamos sobre o interesse maior do projeto que era trazer uma união entre os pais, a escola e os mestres da capoeira na educação das crianças”, contou a presidente Viviane.
A capoeira é um mecanismo de educação para auxiliar as atividades pedagógicas da escola. A diretora da rede, Marciele Tellarolli, 47anos, comenta a interação sólida nesse movimento entre cultura e educação. “Esse tipo de projeto ajuda nossa comunidade escolar a entender melhor sua identidade. Desta forma, através do esporte combate o racismo e o preconceito”, disse a diretora do Maristela, que atua há 27anos na educação como professora de Geografia e cinco anos como diretora.
Essa parceria, a qual poderia ser bem mais investida pelo poder público, tem seus desafios testados diariamente, tanto pra escola e para o projeto.
“Esperamos do projeto uma ajuda no ser pensante. Que nossos alunos entendam que eles fazem parte de um todo social. E que se tornem cidadãos ativos, conscientes e presentes na sociedade futura”, declarou a diretora Marciele.
Com a tônica bilateral: formação de atleta e formação de cidadão, Luciano, o Me. Boca Preta, esclarece seus objetivos no projeto quando o assunto é a prática da técnica da capoeira e a formação da mentalidade dos beneficiários.
“Me preocupo com os dois, em geral. Mas a técnica de capoeira, principalmente. Quero formar atletas. Competidores dentro da capoeira. E, também, formar cidadãos, que a amanhã se tornem mestres, professores, educadores sociais, que possam conseguir dar aula nas escolas, através da capoeira e que possa levar a capoeira como exemplo e poder chegar lá e dizer: foi dentro de uma escola… Na quadra da escola que conheci educadores de capoeira e que me deram formação”, pontuou o mestre, que iniciou suas práticas na capoeira aos nove anos de idade.
Capoeira e cidadania
O projeto social “Crianças Futuro da Nação” é sustentado pelos seus idealizadores, e sempre conta com parcerias e doações. E pra que toda essa educação cultural e social aconteça, é necessário que escola, família, mestres, alunos e alunas também colaborem para o processo de ensino aprendizagem. Isto é o que acontece na vida do pupilo Luan Lino Pereira, 15.
“Antes eu ficava em casa mexendo no telefone. Encontrei o mestre na rua e ele me convidou para treinar. Eu entrei e comecei a aprender a ética, a educação, a prestar atenção mais nas coisas, me ajudou nos deveres de escola, nas obrigações de casa, me deu conselho na vida, foi isso que eles mais me ensinaram”, relatou o beneficiário, que está há oito meses no projeto.
Na parte familiar, a voz de um pai, que é grato pelo projeto, em acolher o seu filho, harmoniza e testifica o quão é importante o trabalho em conjunto dos entes envolvidos no projeto.
“O projeto tá fluindo e tá muito bom. É muito bom ver as crianças se ocupando e aprendendo alguma coisa legal, de experiência pra vida e com certeza vai ser útil lá na frente”, disse Mauro Cesar, 39, pintor, que tem um filho de 14 anos beneficiado pelo projeto.
No meio de tanta parceria e motivação de trabalho, existe o companheirismo. Elemento fundamental para todo tipo de processo ser contínuo e leve. E quem traz esses ingredientes no projeto, é o Me. Boca, braço direito do Me. Boca Preta.
“No projeto, eu aprendo cada dia mais com as crianças. É muito bom estar ensinando as crianças o respeito, a moral, a disciplina e, automaticamente, aprendendo com elas… porque são crianças boas e frequentam a escola. É muito gratificante poder passar pra essas crianças o que a gente aprendeu. Tô muito feliz de estar no projeto”, disse Paulo Francisco da Silva Júnior, o Me. Boca, que está na vivência da capoeira há 30 anos.
E fechando a roda de escrita dessa reportagem, fiquem com o depoimento de uma menina de coração simples, de olhar humilde, esperançoso e grato pelo projeto social poder lhe ensinar a arte da capoeira.
“Eu gosto de gingar, mas as vezes é complicado, mas eu consigo. Eu consigo fazer movimentos de rabo de arraia, a ginga. Aqui, aprendo respeito, educação e também me fez prestar atenção que a capoeira é um espaço cultural. No meu primeiro dia, eu já vi o mestre, tipo… Eu já vi que ele é muito agitado, aí eu já comecei a prestar atenção pra ser mais rápido, porque no outro dia, já ia ensinar outro momento”, disse com simplicidade Letícia Vitória, 12, que está há um mês e meio no projeto.
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