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Por Magda Simone – professora de Língua Portuguesa.
Você consegue imaginar o que significa para uma professora de português como eu conhecer outro país que fala essa língua? Como será a comunicação? Será tranquila?
Carlos Drummond de Andrade uma vez disse, em um de seus maravilhosos poemas, que “o português são dois, o outro, mistério”. Ele se referia à diferença entre a língua formal, da gramática, e aquela “breve língua entrecortada do namoro com prima”. Mas percebi que isso se aplica também, de certa forma, à diferença entre o português do Brasil e o de Portugal.
Sempre sonhei em conhecer Portugal, acabei de realizar esse sonho e quero compartilhar com você, leitor, minha experiência com a língua que acreditei não ter nenhuma dificuldade para compreender.
Logo na chegada ao aeroporto, fomos procurar a agência de aluguel de carros e nos deparamos com placas indicativas de “aluguer (com R mesmo) de viaturas”. Para nós brasileiros, viaturas são carros oficiais, não o carro de passeio e “aluguer” definitivamente soa estranho.
Passei então a reparar mais nas placas de trânsito e numa ciclovia encontrei o seguinte aviso: “circule com precaução, o peão tem prioridade”. Quem será o peão? Aqui, a palavra peão se refere ao trabalhador menos remunerado, lá significa pedestre.
Por toda a cidade, placas indicando a “paragem do autocarro” ou a estação mais próxima do “comboio” para Porto. Demora algum tempo e pesquisa no Google para descobrir que “paragem do autocarro” é o ponto de ônibus e que comboio é trem, meio de transporte mais indicado por lá, já que o trânsito é um caos organizado (opinião minha, que me considerei uma motorista muito inexperiente para encarar tal trânsito, com meus míseros 26 anos de carteira).
Em outra oportunidade, ao tratar dos detalhes da hospedagem numa guest house muito bem avaliada, perguntaram se desejávamos o pequeno-almoço no outro dia. Eu, certa de que queria madrugar para desfrutar dos passeios pela cidade de Lisboa, respondi que não íamos almoçar lá. Ainda bem que a pessoa compreendeu o mal-entendido e explicou que pequeno-almoço é o que chamamos no Brasil de café da manhã.
Não tive muita dificuldade em usar a internet, pois adquiri um chip virtual para o meu telemóvel. E também não tivemos dificuldade em pagar a propina na portagem, pois a viatura já veio com a tag. Entendeu? Vou traduzir: telemóvel é o celular, propina na portagem é a taxa do pedágio.
Em determinado ponto da viagem, eu já estava misturando o português com o inglês, já que é muito comum eles se comunicarem com os turistas nessa língua. Se eu não sabia a origem da pessoa, perguntava “Do you speak portuguese?” e, em caso de negativa, buscava a informação com outra pessoa. Se estou em Portugal, me nego a falar inglês.
Brincadeiras à parte, apesar de algumas diferenças, foi muito bom viajar sem me sentir travada em relação à língua. Voltei satisfeita, mas com a certeza de que, na verdade, o português são mais que dois.
*O texto é de livre pensamento da colunista*
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