Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39.
Por Sueli Valiato – professora de Língua Portuguesa e Literatura.
Certo dia, me contou o curupira, a seguinte história:
Numa floresta não muito grande, existia uma serpente gigante. Ela morava numa gruta de pedra próximo ao riacho. Local onde todos os bichos da floresta passavam para beber água e banhar-se em dias de calor. A serpente quase nunca saía de sua toca. Mas, sempre ficava com a cabeça para fora, observando tudo e a todos. Na maioria das vezes em silêncio…
Era conhecida, gostada e respeitada por todos na floresta. Muitos se aconselhavam com ela. Ocorre que numa noite de verão, apareceu na floresta uma onça, de outro lugar. A onça sem nada conhecer do território que adentrara e acostumada a ser “a Tal” na floresta que habitava, foi logo chegando à procura de água e local para ficar.
Foi até o riacho e enquanto se refrescava, avistou a toca da serpente e pensou:
– Ah, encontrei meu novo lar!
E a passos largos, seguiu em direção à gruta se sentindo a dona da floresta. Durante o percurso, do riacho até a gruta, fez muitos planos… Com muita empáfia, parou diante da entrada da gruta e disse:
– Esta será a minha nova morada, meu novo abrigo!
Foi quando ouviu uma voz:
– O que disse? Quem é você? O que faz no meu espaço?
– Quem é você? Pergunto eu!!! Eu sou a onça! Sou uma onçaaa! Ouviu?!
E a serpente, enrolada numa depressão que havia no chão, do lado esquerdo da entrada da gruta, disse com voz calma:
– Sabia que eu nasci aqui, senhora?
– E eu com isso!!
– Peço que respeite o meu espaço. Você não percebeu que quando chegou, eu já estava aqui?
– Problema seu! Eu vou ficar aqui! Esse lugar é meu!
E convicta de que moraria ali para sempre, a onça tentava de todos os jeitos, adentrar a gruta da serpente. E a cada dia ficava mais obcecada nesse propósito. Ela julgava o tamanho da serpente, somente pela parte que via. Julgando-se invencível, superior a ela.
Os dias foram passando, e a onça se esmerava cada vez mais em fazer coisas que dessem visibilidade a sua grandeza, de maior felino da fauna brasileira.
Alguns animais interviram, alertando a onça sobre a insanidade de suas ações. Entretanto, essa os ignorou completamente.
Foi quando, convencida de que ela era a merecedora daquele espaço, mesmo ele estando habitado pela serpente, saltou para dentro da gruta, esturrando e rasgando o chão com suas unhas afiadas.
A serpente assistia àquela cena bizarra, como se tivesse assistindo a um espetáculo, sem nenhuma reação aparente. A onça certa de que já tinha conseguido o que desejava, olhou para a serpente e falou com arrogância e deboche:
– Agora, eu também estou aqui!!!
E sem nada dizer, a serpente deu um bote enrolando-se no pescoço e no corpo da onça, imobilizando-a. Neste momento, a onça se deu conta do tamanho e da força daquela serpente que tanto importunara.
A serpente começou a apertar a onça lentamente… Quando essa já estava quase desfalecida, totalmente imobilizada, a serpente se virou e olhando profundamente nos olhos da onça, perguntou:
– E agora poderosa, de que jeito prefere morrer? Asfixiada ou esmagada?
E se arrastando com a onça para fora da gruta, olhou fixamente nos olhos dela… Começou a se desenrolar calmamente e aproximando-se da orelha da onça, disse:
– Aqui não. Respeite o meu espaço.
Após dizer isso, deixou a onça na parte externa da gruta e retornou tranquilamente para dentro de sua toca, aconchegando-se em seu buraco.
Neste instante, o curupira silencia-se e perde o olhar no horizonte…
Quebrando aquele mórbido silêncio… Perguntei:
– A onça morreu, curupira?
– Nããão… Ela se levantou e saiu em disparada, com o rabo entre as pernas… Desapareceu!
E o curupira continuou:
– É… Espero que aquela onça, cheia de soberba e arrogância, tenha aprendido a lição! Se bem… Que diante de tudo que a vi fazer, ela me pareceu ser uma onça de pouca inteligência. Mas… Se ela não aprendeu, eu aprendi: nunca tente entrar num espaço que já esteja ocupado por alguém; não saia para o confronto com quem você não conhece, nem mesmo por não saber o tamanho e a força que essa pessoa possui; jamais pense que sabe de tudo. E tenha muito cuidado com a soberba e falta de noção! Elas podem deixar qualquer um completamente desmoralizado… Para mim, aqui na floresta, isso virou norma!
E dizendo isso, o curupira se transformou num grande redemoinho e desapareceu.
*O texto é de livre pensamento da colunista*
Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39.