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Texto: *Daiane Obolari, José Modenesi, Kamily Rodrigues e Paulo Victor Barcellos são alunos do curso de Jornalismo da Faesa, sob supervisão da professora de Projeto Integrador V (2023/2), Lara Rosado, em parceira com o Calango Notícias, mídia comunitária no Território do Bem.
Quando se fala em Território do Bem, o que vem à sua mente? As comunidades que fazem parte, em especial o Jaburu, que vamos conhecer agora, tem muito a nos ensinar. Chegou a hora de resgatar boas memórias e construir novas! Por isso, te convidamos a mergulhar nas histórias a seguir.
Realizar sonhos e incentivar os moradores da comunidade a irem atrás de seus objetivos. Essas são algumas das tantas atribuições de Sebastião Luiz Castro, presidente da Associação de Moradores do Jaburu. Residente do bairro desde os 14 anos, ele é um dos responsáveis por ajudar a levar melhorias habitacionais e estruturais ao bairro.
“Como presidente da Associação, além de buscar melhorias habitacionais, lazer, saúde e educação, a gente atende casos pessoais. Se tem uma família passando dificuldade precisando de uma cesta básica, a gente busca ajuda. Quando alguém fica sem luz, a gente vai até o local pegar o número da lâmpada e um ponto de referência, para que o técnico consiga encontrar e assim nós somos demandados”, explica.
O que é feito hoje pela Associação, é reflexo do que começou há 76 anos. Antônio Leal foi o primeiro presidente do Jaburu e fala sobre o assunto com muito orgulho. “A prosperidade da comunidade começou em 1947, quando eu vim morar no manguezal. Daqui, fiz o rascunho do que veio a ser o primeiro mapa da comunidade. Em 1950, Getúlio Vargas veio aqui e a prefeitura o biografou. Criei também o Conselho de Ética e hoje temos uma comunidade boa e bem-sucedida. Quando inteirou 58 anos de mandato, eu deixei a presidência”, conta.
Com toda a estrutura deixada, o Jaburu se tornou um bairro que se importa com o bem-estar da comunidade, que valoriza o sentimento de pertencimento e que cultiva, no coração dos moradores, o amor pela vizinhança e pelo local.
A comunidade como segunda família
Todo o trabalho realizado pela Associação de Moradores ao longo dos anos, reflete na comunidade até os dias de hoje. Um exemplo é Alci da Penha, comerciante local que descreve com brilho nos olhos como é bom pertencer ao bairro Jaburu.
“Aqui eu me sinto em casa, é a minha segunda família, tenho muitas amizades boas. É um ajudando o outro, é muito bom”, destaca.
O comerciante, que cria os filhos mais novos com o esforço do seu trabalho, já teve uma quitanda de hortifrúti e, atualmente, é proprietário de um bar no Jaburu. Ele conta que abriu o próprio negócio após a empresa que ele trabalhava como porteiro fechar no Espírito Santo. Alci até foi convidado para permanecer na empresa, trabalhando em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, mas o amor pelos filhos e pela família falou mais alto.
“Não fui pela minha família. Tudo que eu faço é pensando nos meus filhos, o que eu ganho aqui, vai para dentro de casa. O filho é a base de tudo, é a força da gente, tenho que pensar no futuro deles”, afirma emocionado.
A paixão pelo bairro é tanta, que ao falar do Jaburu, Alci faz questão de destacar que se mudar não está nos seus planos e que deseja partilhar o pouco que tem com os amigos e vizinhos.
Uma história de superação
Para além de tudo o que já contamos, nunca é demais falar sobre o quanto o Território do Bem tem moradores que lutam dia a dia por um futuro melhor.
Chegou a hora de conhecermos Maria Julia Rodrigues, que já foi vendedora ambulante e hoje é proprietária da “Padaria e Lanchonete Depois do Culto”, também localizada no Jaburu.
Bem-humorada, ela faz questão de explicar o motivo de ter escolhido esse nome para o empreendimento. “Quando saem das missas e dos cultos, os irmãos e os católicos vêm para cá lanchar. Por isso dei esse nome”, esclarece
Com o crescimento da lanchonete, atualmente Maria Julia conta com o apoio de duas funcionárias e de sua filha, mas nem sempre foi assim. Ela relata que pelo fato de ser uma mulher negra, já perdeu muitas vendas quando ainda atuava como vendedora ambulante de cachorro-quente.
“Nem todo mundo vinha na barraquinha comprar porque a maioria tinha preconceito com a minha cor. Já ouvi dizerem que não era para comprar comigo porque ‘se é preta deve ser porca’. Tive vontade de desistir, mas segui em frente pela minha filha, ela é a maior inspiração da minha vida, a realização de um sonho.”
E, com alto-astral, ela deixa uma mensagem que gostaria de dizer para os amigos da comunidade. “Não desista, a sua persistência pode te levar a lugares que você nunca imaginou”, pontua.
Periferia: uma potência empreendedora
Histórias de sucesso como a de Alci da Penha e Maria Julia Rodrigues, não são casos isolados. Uma pesquisa realizada pelo Data Favela, aponta que comunidades periféricas são berços de oportunidades econômicas.
Isso porque, no Brasil, 50% dos moradores de comunidades possuem o próprio negócio. Além disso, quando o assunto é potencial de consumo, as favelas atingem a marca de quase R$ 10 bilhões por ano em diversos setores.
Para o líder comunitário Cosme Santos, essa potência empreendedora é muito importante para o desenvolvimento econômico local. “Uma comunidade que tem um comércio forte, gera renda ao contratar funcionários, além de promover uma qualidade de vida melhor para os moradores”, explica.
Circuito Verde e Núcleo de Memórias
Se você chegou até aqui e gostaria de visitar o Jaburu, temos uma boa notícia. Você pode conferir o Circuito Verde! Por lá você encontra hortas coletivas e jardins que são mantidos pelos próprios moradores.
> VEJA MAIS: “Circuito Verde Jaburu” – Horta comunitária nas favelas de Vitória
Criado no início deste ano, o projeto começa no Mirante do Jaburu e finaliza no Núcleo de Memória de Jaburu (NUME). Inaugurado em 2022, o NUME conta a história do bairro do Jaburu, por meio de fotos e vídeos com depoimentos dos moradores mais antigos do bairro. “O NUME veio para resgatar a grande história da fundação da comunidade”, destaca Sebastião Luiz, presidente da Associação de Moradores do Jaburu.
O objetivo do Núcleo de Memórias é resgatar os pontos fortes da comunidade do Jaburu, para que ela passe a ser enxergada por outros olhos, que não sejam de violência, mas sim de um lugar próspero, que é polo de empreendedorismo e de união.
Para conhecer o circuito, basta agendar a visita pelo Instagram @circuitoverdejaburu.
Confira a reportagem em áudio
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