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Coluna Letrados
Por Sueli Valiato – professora de Língua Portuguesa e Literatura.
Caríssimo(a) leitor(a), no último artigo que publiquei, formulei vários questionamentos sobre as possíveis causas da morosidade e veto à lei 14.767, de 22 de dezembro de 2023, que menciona a Pedagogia da Alternância (PA) como uma das possibilidades de implementação da Educação do Campo no território brasileiro. E, na medida do possível, discorrerei sobre alguns deles, a fim de problematizar e gerar reflexão a cerca das forças ocultas que regem o Sistema Educacional Brasileiro.
Dentre os quais, destacarei neste artigo, o temor referente a interlocução pedagógica que a PA faz no seu processo de formação com elementos, princípios e metodologias da Escola Comuna inaugurada por Pistrak, pois quero dialogar sobre a importância de se ter o trabalho como princípio pedagógico, principalmente, na Educação do Campo, aproveitando a vivência que tivemos na semana passada, no Centro de Familiar de Formação(CEFFA) de Japira, quando compusemos com os estudantes as comissões e grupos do sistema de auto-organização, que medeia a articulação do trabalho manual com o trabalho mental, em vista de um desenvolvimento humano que haja equilíbrio entre as ações do corpo e da mente, tendo o trabalho como um dos princípios pedagógicos balizares.
Talvez, você esteja se indagando: De onde vem os referenciais desse sistema de auto-organização? Como isso funciona dentro de um CEFFA?
Encontramos essas referências na abordagem marxista que conceitua o trabalho como produção humana numa relação dialética de transformação consciente da natureza, promovendo cultura, sociabilidade, visto sob forma historizada. Nesse sentido, o trabalho é tomado como atividade criativa, em que a pessoa não se reduz a objeto, mas por meio do qual torna-se capaz de transformar a realidade que o cerca. É meio de produção e reprodução da vida em seu caráter humano, isento da naturalização da alienação e da exploração.
Essa perspectiva, o trabalho e a educação se relacionam em suas interfaces, potencializando-se, à medida, em que se articulam o caráter formativo do trabalho e a ação humanizadora da educação, possibilitando à pessoa o desenvolvimento integral de suas potencialidades.
Foi a partir dessa premissa, que Pistrak organizou as experiências educativas soviéticas denominadas como “Escola Comuna”, inserindo o trabalho como um princípio pedagógico, permitindo às comunidades que circundavam a escola e aos estudantes construírem coletivamente o dia a dia da escola. Já que para esse, a escola é um centro cultural com potencial para participar em diferentes atividades sociais e deve conquistar o direito de controle social em vários campos, assim como o direito e o dever de expressar-se em relação aos acontecimentos, além do dever de modicar a vida para alcançar determinadas direções. Sendo assim, a atuação do educando e da escola assumem outro lugar social e a escola passa a ser um local de aprender e experienciar, estruturando dentro do processo educativo um sistema de auto-organização do coletivo escolar para o exercício da vida de grupo.
Essa forma de estruturar o processo educativo, é essencial na educação escolar, porque possibilita o encontro e a convivência de várias pessoas com interesses comuns, porém com experiências de vida diferentes, mantendo o respeito entre elas. Isso acontece por meio das normas de convivência, das ações da associação de estudantes, das comissões de articulação: finanças, disciplina, cultura e mística, tarefas, esporte e lazer e alimentação. Das atividades de manutenção: limpeza da sala de aula, louças do almoço, pátios internos, refeitório, banheiros e dos subsetores da propriedade: jardim, pomar, criações, horta medicinal, estacionamento e quadra, paiol e insumos, que permitem uma dinâmica de coordenar e ser coordenado, de projetar, planejar, executar e avaliar.
O sistema de auto-organização, adotado nos CEFFAs, tem o trabalho como princípio pedagógico e visa fomentar o desenvolvimento das habilidades de trabalhar e viver com os outros respeitando as suas diferenças; de superar pré-conceitos históricos relacionados ao trabalho, a gêneros e racismo, de liderar, ter inciativa, de organizar atividades no espaço e no tempo para atingir determinadas finalidades do coletivo e da coletividade.
Na Pedagogia da Alternância, o trabalho como princípio pedagógico impregna a escola da realidade, a torna viva, pois nela, o educando por meio da dinâmica do processo educativo, rompe com os muros e os sectarismos sendo educado na vida prática, real. O estudante não está sendo preparado para ser, ele já é um sujeito social. Ele não vai à escola para se preparar para ser integrado à sociedade. Ele já está vivendo nela como sujeito ativo e constitutivo da mesma. Mas para isso, a escola precisa estar alinhada com a realidade e a dialética para fomentar as transformações culturais primordiais a esta construção coletiva, uma vez que a educação é mais que ensino, e é por isso que um CEFFA é muito mais que uma escola e a PA é a pedagogia da vida.
*O texto é de livre pensamento da colunista*
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