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Cultura / Capoeira
Alegria, comunhão, honra, fé, gratidão e muita capoeiragem marcaram o segundo dia do evento “6° Encontro de Capoeira do Grupo AAZIZ”. Na ocasião festiva, troca de graduações e formatura de dois instrutores aconteceram, ontem (02), no turno matutino, no Parque Botânico da Vale, em Jardim Camburi. Na noite de sexta-feira (01), o evento foi inaugurado no núcleo de Novo Horizonte-Serra, nas dependências do projeto “Mãos que Amparam”.
Participaram do grande evento da capoeiragem as famílias dos formandos, amigos, grupos de capoeira da Grande Vitória e grupos de capoeira do interior do Espírito Santo, além de personalidades da capoeira. Destaque para o Instituto de Capoeira Cultura Negra, de Colatina, representado pelo Mestrando Geléia; a Associação de Capoeira Arte e Recreação Berimbau de Ouro, do Contramestre Roberto, de Aracruz; o grupo Elite dos Negros, de Santa Tereza. O evento, também, teve a participação do Mestre Paulista, de Itapemirim-ES e a ilustre visita do Grão-Mestre Toyota, que veio direto de Campos do Goytacazes (RJ).
Um encontro repleto de história, musicalidade, ritmos e expressão corporal, tudo isso coroou os participantes do evento, desde os capoeiristas até o público, seja a ala dos convidados ou dos curiosos, que não resistiram ao som do berimbau, pandeiro e atabaque; ficaram com os olhos fixos na mágica da capoeira.
O “6° Encontro de Capoeira do Grupo AAZIZ” promoveu apresentação cultural de capoeira infanto-juvenil e adultos, além da graduação e troca de graduações e formatura de instrutores. Neste último, finalizou-se o evento com uma linda roda de capoeira, onde o toque do berimbau trouxe para o jogo da capoeiragem mestres e alunos, com uma ginga corporal emotiva, com grandes gritos de júbilos musicais de capoeira, abraços e festejos ritmados com palmas fortes. Os formandos e mestres estendiam os certificados com as mãos, acima da cabeça, enquanto os músicos tocavam um São Bento Grande. Uma verdadeira celebração!
Nesse contexto de festa, é peculiar que as culturas antropológicas façam seus participantes passarem por rituais, onde acontecem as aprovações dos indivíduos, de acordo com suas conquistas diante de esforços. Quem sentiu o gosto de ser reconhecido pela comunidade capoeirística AAZIZ, é o novo Instrutor, Filipe Rodrigues, conhecido como Índio. Ele comenta sobre o assunto de ter sido reconhecido para um grau de responsabilidade que gera ainda mais compromisso com a capoeira.
“O sentimento que eu tenho é de reconhecimento. A capoeira é uma arte marcial que você tem que conquistar uma graduação e depois aprender com essa graduação. Cada graduação traz uma orientação. Chega um certo momento na capoeira que o que é cobrado deixa de ser, somente, ser um bom capoeirista, mas passa a ser que você seja um exemplo pra comunidade, inspirar novas pessoas. Se eu tô recebendo essa graduação, é porque a comunidade capoeirística, principalmente, o meu mestre, e o meio que eu estou inserido, eles estão me reconhecendo como tal. Eu fico muito gratificado por entender que eu consegui atingir essa expectativa”, disse com satisfação o Instrutor, que também é psicanalista.
Graduandos
Na turma dos graduandos, aqueles que trocam de corda após passarem por um ano de treinamento, são alunos e alunas ainda novos no mundo da capoeiragem, mas os futuros mestres e mestras já receberam a direção de seus mentores em que caminho devem trilhar na vida. O graduando Yuri Costa da Silva, há sete anos no AAZIZ, do núcleo em José de Anchieta, comentou o que está aprendendo com a capoeira e mostrou muito bem que já sabe o caminho.
“Eu peguei o exemplo do meu irmão, entendeu? Me incentivou muito a fazer capoeira, porque tenho um irmão que mexe com droga, né! Pra ele não deixar eu entrar nessa vida, ele me colocou na capoeira. E eu vejo que eu tenho um exemplo, um caminho pela frente sendo capoeirista. A capoeira me ensina a ter mais responsabilidade”, disse com simplicidade o menino, que é irmão do Instrutor Índio. O jovem capoeira pegou a segunda corda de graduado, a verde-azul.
Mestres
E para testificar toda essa celebração, a voz dos mestres, aqueles que abrem o caminho da capoeira para a nova geração, se fez presente durante o evento. Em um cenário de conselhos e gratidão, os mestres se orgulharam do que assistiram, ali, no Parque da Vale, não só a técnica, a ginga dos capoeiristas, mas o coração revelado com boas práticas respeitando a ética da capoeira.
E começando com os mais experientes, o Me. Toyota, 67, que veio de Campos (RJ), uma lenda viva da capoeira nacional, deixou o seu comentário de reconhecimento pelo trabalho realizado do Grupo AAZIZ. “Pelo carinho, respeito, consideração, conhecimento que eles tão tendo dia a dia pela capoeira”, disse.
O mestre ainda mencionou uma sabedoria em forma de conselho. “Abaixe ao pé do berimbau, sem maldade, sem imaginar ser vencedor, sem imaginar ser melhor do que teu adversário. Mas ser você, um belo e um excelente capoeirista!”, disse sorrindo.
Outra visita ilustre que o “6° Encontro de Capoeira do Grupo AAZIZ” recebeu foi a presença do Me. Paulista, vice-presidente da Federação de Capoeira do Espírito Santo (Fecaes). “É uma satisfação enorme sair da minha residência, deixar minha família, pra estar no meio dessa irmandade capoeirística, pessoas que eu vi dar os primeiros passos na capoeiragem. A minha satisfação é saber que eu fiz parte da caminhada desses meninos. Eles têm uma referência em nós mestres, isso é gratificante, estamos deixando um legado. A gente sabe como é difícil fazer esses trabalhos sem apoio político; o lugar em que o poder público não vai, nós vamos com a capoeira. Nós entramos dentro das favelas, entramos nos guetos. Mas, aqui, está uma grande resposta pra todo mundo, que, daqui saia advogados, juízes, promotores, que sai de tudo. Pra mim é um grande prazer”, comentou o fundador da Associação Desportiva e Cultural de Capoeira Navios de Angola.
Representando a capoeira do interior do estado do Espírito Santo, vindo de Colatina, o Cultura Negra, do Mestrando Geléia, participou com honra e gratidão do grande dia. “Gostaria de agradecer de estar, aqui, nesse evento de inclusão social, onde têm várias crianças. Eu só tenho a agradecer a capoeiragem por isso. Quando o convite chega, a gente vem. E a gente vem pra somar. Abraço a todos!”, agradeceu.
Líderes de casa
Entre tantas falas de Contramestres, Mestrando, Instrutores, alunos e participantes, a liderança do Grupo AAZIZ se manifestou para marcar esse tempo ritualístico, que reconhece os capoeiristas na comunidade do AAZIZ, mas sempre enfatizando o aspecto humano e social do indivíduo, uma base para todo o frutificar da técnica de capoeira, a técnica não pode ser superior ao caráter do humano. “Nós somos agentes de transformação… É isso que a gente quis transmitir hoje nessa roda de capoeira”, disse o Mestre Antônio, conhecido como Me. Abençoado.
Logo após essa fala, o berimbau puxou um toque de Angola, um ritmo cadenciado. Nesse instante, o Instrutor Índio, agachado ao pé do berimbau, diante do seu Mestre, o Coringa, começou a cantar:
“Jesus Cristo não morreu. Jesus Cristo não morreu, oi, iá,iá
Sua história não tem fim
Ele está em toda parte e vive dentro de mim”…
A canção continuava com cantos de adoração a Cristo e Deus Pai. O côro veio junto e a congregação capoeirística entoava uma adoração ao Criador. No momento reflexivo, Filipe acabou de cantar. Começou a jogar com seu mestre, um ritual de reconhecimento e batismo na capoeira. Mestre e aluno dando sequência a geração da capoeira.
Finalizando o evento, entre agradecimentos, abraços e fotos, o Contramestre Pastor, do Grupo AAZIZ, dirigiu grande parte do evento, comentou que o grupo AAZIZ é um conjunto de amigos, onde ele faz parte desde 2001.
Ao ser perguntado sobre o sentimento de ter essa família de capoeira e toda essa vibração, ele respondeu: “A capoeira tem essa praticidade. Eu, particularmente, já tive uma experiência de passar trinta dias no Afeganistão, juntamente com a capoeira. Então, vê esses meninos fazendo isso, pra gente é uma honra, porque queremos passar esse bastão, porque já estamos no nosso ciclo de mestrado, e agora, é a vez deles: professores e graduados fazerem com que a capoeira chegue mais longe do que nós já levamos”, disse.
Turistas
No meio de tanta gente brasileira e capixaba, um casal de colombianos, da cidade de Bogotá, que estão há dois anos estão viajando de bicicleta o Brasil, foram convidados por um mestre de capoeira para participarem da festa.
“Já cruzamos o Equador, Peru, Bolívia, e agora estamos, aqui, curtindo o Brasil. Estamos, aqui, no Espírito Santo duas semanas”, disse Sebastian Perez, 27, esposo de Lorena Rodrigues.
A esposa, que é capoeirista, Lorena Rodrigues, 28, disse que conheceu a capoeira há 11 anos na Colômbia. Segundo ela, é o amor de sua vida. “A gente ama capoeira. A gente gosta da família capoeira, é muito abençoado. É muito legal fazer parte dessa comunidade. Aqui, no Espírito Santo, o Mestre Mauro está me estendendo a mão, ele é do Rio de Janeiro, mas tá morando aqui”, confirmou a história a Camaleoa, nome de batismo na capoeira.
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