Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39
Coluna Letrados
Por Rodolfo Birchler – Artista Plástico.
Os dois suportes mais antigos para a pintura e desenho são: o corpo humano e superfícies parietais (rochas, muros, paredes), mas vamos falar aqui sobre as paredes, muitas vezes usadas para separar e dividir, porém ganham com a aplicação da arte a capacidade de fazer comunicar, onde, antes, a mensagem era apenas sua função, podendo acolher, aproximar (ou afastar) fazer sentir, afetar e refletir. Vestindo a função muro de outros significados.
As razões que levam a execução deste trabalho já foram das mais diversas ao longo da história, mas em linhas gerais temos na pré-história razões coletivas, expressivas e ritualísticas; na antiguidade as razões e motivações eram muitas vezes de ordem teocrática e a serviço dos monarcas, como o caso do Egito, Grécia e persas; no medievo, principalmente, o europeu tinha um foco prioritariamente religioso.
Essa característica coletivista do mural só veio a perder seu lugar de destaque com a crescente procura pelos menores formatos com o advento do método de consumo burguês, que passaram a levar a apreciação desses formatos para dentro das casas e galerias; de modo que a arte passou cada vez mais a ser vista como sinônimo desses pequenos formatos colecionistas e todo um mercado de arte se formou em torno disso.
“É óbvio que estamos fazendo um resumo histórico aqui; é óbvio que nada deixou integralmente de existir; os pequenos formatos existiam antes disso e os murais continuaram existindo depois, mas é importante fazer esse recorte histórico para chegar onde estamos no momento presente”.
O método de consumo burguês buscou cada vez mais interiorizar os grupos, famílias, espaços num movimento de individualização, que aconteceu na sociedade como um todo. Refletiu, inclusive na arquitetura, que outrora eram construídas de elementos rebuscados e cheios de construção estéticas, desde as casas mais populares até os prédios oficiais e religiosos.
Chegamos a um era dos “caixotões”, que nem eram preocupados com suas formas expressivas, como o Construtivismo, que trabalhava a forma geométrica com razões estéticas, mas somente com sua função: caixotes com uma utilidade dentro. Daí nascem os prédios em caixas, as casas em caixas, tudo bem encaixotado e cinza.
Nasceram, assim, as cidades modernas que dominam grande parte das metrópoles pelo mundo e cujas construções estão de pé até hoje em vasta abundância.
O movimento que buscou resgatar e ressignificar esses espaços urbanos impregnados de caixotes cinzas é um conhecido braço do HIP HOP na sua vertente de artes visuais: o grafite, que vem entre outras origens do idioma grego, a palavra vem de graphéin, que significa “escrever”. Movimentos que consistia em escrever as TAGs (assinaturas artísticas) dos autores e suas frases de denúncias, o que foi evoluindo com o tempo para outras estéticas.
Nascido nos anos de 1970, um movimento considerado recente para a história da arte, que buscou remontar à pré-história com a evolução das técnicas de afrescos, muito usadas na Idade Média, ancorados e experiências não tão distantes dos Murais de Miró, e os Painéis Gigantes de Picasso, Portinari entre outros. É em Nova York, principalmente, através de “Jean Michel-Basquiat”, um ícone do grafite nova iorquino e, da Pop Arte que, popularizou ainda mais essa expressão, pavimentando o caminho para as Artes Murais, dentro e fora do movimento hip hop, de modo geral ganham espaço nesse movimento que cresce desde então como uma expressão artística urbana colorindo os muros cinzas de concreto encaixotado.
Hoje, temos a Arte Mural com uma crescente forma de prestação de serviços para diversos tipos de clientes com demandas desde estritamente estéticas, passando por ambientes decorativos, lúdicos e muitas vezes até serviços de comunicação publicitária. E, também, voltado para espaços coletivos e públicos, a apreciação da arte, juntamente com a valorização do artista visual com profissional remunerado para tais trabalhos.
Em tempos atuais podemos afirmar que, essa já é uma realidade posta como forma de trabalho para artistas visuais. Ainda vivemos alguns tipos de preconceitos e falta de entendimento do grande público e muitos clientes desacostumados com o serviço, como por exemplo: a crença que fazemos esse tipo de serviço por hobby, achar que precisamos apenas de receber o material para trabalhar, achar que todo mural é um grafite ou que esse trabalho é algum tipo de vandalismo, apesar de muitas dessas possibilidades existirem, de fato, é em função de uma luta de defesa da nossa profissão que, como trabalhadores que fazemos algumas escolhas e nos apresentamos de formas contundentes para a população de modo geral:
1 – Se somos contratados para algo faremos pelo justo preço do contrato, um trabalho bem feito deve ter o preço de um trabalho bem feito.
2 – Tinta e alimentação é embutido no orçamento e não forma de pagamento.
3 – Meu hobby é ouvir música, arte visual é minha profissão.
4 – A arte pode ser uma forma de diversas expressões, mas de nada vale se expressar sem conseguir pagar as contas (se você consegue é porque alguém paga suas contas).
5 – Meu papel é criar sobre demanda, sim, eu consigo criar outras imagens fora do meu portfólio.
O trabalho com arte, de modo geral, por muito tempo enfrentará os julgamentos, como os pontos acima, mas digo com um certo otimismo que ‘vivenciamos um momento de melhora’ e que através do trabalho pedagógico, formação de público e posicionamento profissional dos trabalhadores da arte, conseguiremos cada vez mais fazer esse tipo de trabalho uma profissão para que mais e mais artistas visuais possam trabalhar com tal linguagem.
Nunca tinha ouvido falar ou nunca teve contato? Dizer que gostar de arte é importante e necessário, contudo, fica o convite: busque saber mais sobre quem são os artistas, estúdios e coletivos de arte próximos de você, quais serviços são prestados, indique e contrate artistas para esses e outros trabalhos, essa é a melhor forma de se valorizar a arte.
*O texto é de livre pensamento do colunista*
Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39