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Coluna Letrados/Conto
Por: Sueli Valiato – professora de Língua Portuguesa e Literatura
Certa vez um pássaro muito alegre, em um de seus voos viu uma linda flor, que estava em meio a milhares de outras flores. O pássaro teve sua atenção tirada pelo semblante triste e ao mesmo tempo encantador daquela flor.
O pássaro tentou voar noutros jardins, mas não esquecia o olhar daquela flor. Sempre voltava para ver se ela ainda estava ali. Parecia uma flor carente, sozinha, apesar de compor com milhares de outras flores um lindo jardim. Intrigado com o mistério da flor, o pássaro resolveu perguntá-la sobre o porquê de seu olhar tristonho. Em princípio ela desconversou, fingiu não entender a pergunta. Ele, então logo entendeu que a flor era bem reservada. Olhou para ela e falou:
_ Eu me preocupo com você! Acho-te importante nesse jardim. Você é a flor mais bela e singela que já vi.
A partir daquele dia nem a flor nem o pássaro conseguiram fingir a importância de um para o outro. Todos os dias o pássaro pousava numa pedra ao lado de um riacho de águas claras e sussurrantes, onde a flor estava plantada, e ali passavam os dias a conversar. Cantavam, observavam o jardim, as outras flores e os outros pássaros. O pássaro queria voar… Queria levar consigo a flor, pois para ele, ela era a única flor do mundo, a que mais lhe encantara até então.
O pássaro, então, começou a convidar a sua flor para voar, conhecer outros jardins. Ela por medo de sair de seu jardim, fingia não entender os insistentes convites. E o pássaro insistiu nos dias de chuva, nos dias de sol, em dias de temporal, e num dia muito belo de céu muito azul, ela aceitou.
Ainda sem saber como fazer para levar a sua flor para conhecer outros mundos, o pássaro começou com seu bico, cuidadosamente, cortar o caule de sua preciosa flor. Quando doía ela demonstrava com seu olhar e, pacientemente, ele conseguiu ter em seu bico a flor que tanto amava.
Em princípio, a flor ficou entusiasmada com tudo que via, e o pássaro de feliz que estava, não percebeu que sem raízes para sustentá-la e nutri-la em breve ela pereceria. Para desespero do pássaro a sua flor começou a murchar. Nada que fazia era capaz de reanimá-la. Suas pétalas uma após a outra caíram… Restando somente o seu caule.
O pássaro levou consigo aquele caule que parecia secar a cada hora. Agora, era tudo que restara da amada flor, além das lindas lembranças, daquela que para ele era a única flor do universo. Em meio a tanta tristeza, ele pensou:
– O que farei com o que restou de amada flor? E chorava cada vez mais… Suas lágrimas umedeciam o solo e com seu bico cavou um buraco perto de seu ninho, onde sepultou aquele caule. Depois desse dia, o canto do pássaro entristeceu. Já não sobrevoava mais os jardins, porque nenhuma daquelas flores era como a sua flor amada. Ao fim de cada voo, sempre voltava ao lugar onde sepultou o caule de sua flor. Não entendia aquela necessidade de retornar onde estava o caule. Lá chorava, chorava muito, as lágrimas caiam sobre a terra que cobria o caule, umedecendo-a…
De alguma forma o pássaro se questionava, por que quis levar a flor para voar com ele. Se não tivesse feito isso, talvez ela ainda estivesse lá no mesmo lugar, do mesmo jeito, linda!
O pássaro não sabia, mas as flores têm sementes, que quando depositadas na terra e regadas, germinam dando origem a outras plantas. Certo dia, quando voltou ao local onde sepultara o caule tamanha foi a sua surpresa. Ele não acreditava ao ver que em vez de um caule seco, ali estavam dezenas de flores iguaizinhas a sua. Neste momento, o pássaro entendeu, que a sua amada flor só a deixou levá-la porque queria se multiplicar, e como conhecia o pássaro, ela sabia que o seu caule ele depositaria perto de seu ninho, e assim ela poderia ficar perto dele sem impedi-lo de voar.
*O texto é de livre pensamento da colunista*