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O pássaro e a flor

(Imagem: Ideogram)

Invista no Jornal Merkato! – Pix47.964.551/0001-39.


Coluna Letrados/Conto
Por: Sueli Valiato – professora de Língua Portuguesa e Literatura

Certa vez um pássaro muito alegre, em um de seus voos viu uma linda flor, que estava em meio a milhares de outras flores. O pássaro teve sua atenção tirada pelo semblante triste e ao mesmo tempo encantador daquela flor.

O pássaro tentou voar noutros jardins, mas não esquecia o olhar daquela flor. Sempre voltava para ver se ela ainda estava ali. Parecia uma flor carente, sozinha, apesar de compor com milhares de outras flores um lindo jardim. Intrigado com o mistério da flor, o pássaro resolveu perguntá-la sobre o porquê de seu olhar tristonho. Em princípio ela desconversou, fingiu não entender a pergunta. Ele, então logo entendeu que a flor era bem reservada.  Olhou para ela e falou:

_ Eu me preocupo com você! Acho-te importante nesse jardim. Você é a flor mais bela e singela que já vi.

A partir daquele dia nem a flor nem o pássaro conseguiram fingir a importância de um para o outro. Todos os dias o pássaro pousava numa pedra ao lado de um riacho de águas claras e sussurrantes, onde  a flor estava plantada, e ali passavam os dias a conversar. Cantavam, observavam o jardim, as outras flores e os outros pássaros. O pássaro queria voar… Queria  levar consigo  a flor, pois para ele, ela era a única flor do mundo, a que mais lhe encantara até então.

O pássaro, então, começou a convidar a sua flor para voar, conhecer outros jardins. Ela por medo de sair de seu jardim,  fingia não entender os insistentes convites.  E o pássaro insistiu nos dias de chuva, nos dias de sol, em dias de temporal, e num dia muito belo de céu muito azul, ela aceitou.

Ainda sem saber como fazer para levar a  sua flor para conhecer outros mundos, o pássaro começou com seu bico, cuidadosamente, cortar o caule de sua preciosa flor. Quando doía ela demonstrava com seu olhar e, pacientemente, ele  conseguiu ter em seu bico a flor que tanto amava.

Em princípio, a flor ficou entusiasmada com tudo que via, e o pássaro de feliz que estava, não percebeu  que sem raízes para sustentá-la e nutri-la em breve ela pereceria. Para desespero do pássaro a sua flor começou a murchar. Nada que fazia era capaz de reanimá-la. Suas pétalas uma após a outra caíram… Restando somente o seu caule.

O pássaro levou consigo aquele caule que parecia secar a cada hora. Agora, era tudo que restara da amada flor, além das lindas lembranças, daquela que para ele era a única flor do universo. Em meio a tanta tristeza, ele pensou:

– O que farei com o que restou de amada flor? E chorava cada vez mais… Suas lágrimas umedeciam o solo e com seu bico cavou um buraco perto de seu ninho, onde sepultou aquele caule. Depois desse dia, o canto do pássaro entristeceu. Já não sobrevoava mais os jardins, porque nenhuma daquelas flores era como a sua flor amada.  Ao fim de cada voo, sempre voltava ao lugar onde sepultou o caule de sua flor. Não entendia aquela necessidade de retornar onde estava o caule. Lá chorava, chorava muito, as lágrimas caiam sobre a terra que cobria o caule, umedecendo-a…

De alguma forma o pássaro se questionava, por que quis levar a flor para voar com ele. Se não tivesse feito isso, talvez ela ainda estivesse lá no mesmo lugar, do mesmo jeito, linda!

O pássaro não sabia, mas as flores têm sementes, que quando depositadas na terra e regadas, germinam dando origem a outras plantas. Certo dia, quando voltou ao local onde sepultara o caule tamanha foi a sua surpresa.  Ele não acreditava ao ver que em vez de um caule seco, ali estavam dezenas de flores iguaizinhas a sua. Neste momento, o pássaro entendeu, que a sua amada flor só a deixou levá-la porque queria se multiplicar, e como conhecia o pássaro, ela sabia que o seu caule ele depositaria perto de seu ninho, e assim ela poderia ficar perto dele sem impedi-lo de voar.

*O texto é de livre pensamento da colunista*


Sueli Valiato*Reside em Jaguaré -Graduada em Letras – Licenciatura Plena em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa, pela UFES; pós-graduada em Educação do Campo pela FANORTE; professora de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II, no CEFFA de Japira, em Jaguaré-ES, integrante da Coordenação Geral e da Coordenação de Plano de Curso da RACEFFAES. / Foto: Divulgação.

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