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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Nesta semana, o movimento musical denominado rock’n’roll completa 70 anos, pois foi no dia 25 de março de 1955 que ocorreu o lançamento em todo os Estados Unidos do filme “Sementes da Violência” (Blackboard Jungle), primeiro filme a ter uma música do gênero rock inclusa em sua abertura, cujo efeito dessa inclusão fez com que o movimento e o gênero musical rock’n’roll tomasse proporções jamais vistas, inserindo-se, de vez, na cultura estadunidense, e que, não muito tempo depois, conquistaria a juventude de grande parte do planeta.
A música era “Rock Around The Clock” (Freedman/Myers), gravada por Bill Haley & His Comets em maio de 1954, mas só foi fazer sucesso no ano seguinte, logo após “Sementes da Violência” ter sido lançado, ficando no Pop Charts da Bilboard por oito semanas.
Portanto, assim como o cinema teve uma participação importante na propagação do carnaval e seus ritmos, como mencionei no meu artigo denominado “A propagação do carnaval através do samba e do cinema”, de forma similar o cinema teve uma forte participação na divulgação do rock.
Se podemos considerar que o movimento rock começou após o lançamento do filme “Sementes da Violência”, a música/gênero rock’n’roll, e até mesmo o significado de seu vocábulo, são carregados de indefinições e controvérsias em relação às suas origens.
O termo “rock’n’roll”
A origem e uso do termo “rock and roll” não é de fácil identificação, mas sabe-se que a palavra “rock” vem do inglês arcaico que significa “sacudir” ou “balançar”, enquanto o verbo “roll”, originário do latim “rota”, que significa “roda”, sempre esteve atrelado à realização de algum tipo de movimento, como rolar.
Na canção intitulada “Rock and Roll” (Clare & Whiting), interpretada pelas irmãs Boswell, cuja canção não possui relação direta com esse gênero musical, temos a junção dos termos “rock” e “roll” para descrever o movimento de um barco no mar, e isso fica claro quando no filme “Transatlantic Merry-Go-Round’, de 1934, as irmãs, estando dentro de uma simulação de um barco sobre as ondas do mar, interpretam a referida canção, em que cantam “Of the rollin’ rockin’ rhythm of the sea” (Do ritmo rolante e balançante do mar).
Essa conotação de movimento (rolar e balançar) seria largamente utilizada em diversas canções que viriam depois, como em Rockin’ Rollin’ Mama, de 1939, composta e interpretada por Buddy Jones, e na própria Rock Around The Clock, de Bill Haley and his Comets.
Há que se registrar que no início do século passado, o termo “rock’n’roll também foi utilizado como um ardor espiritual ou mesmo em analogia ao ato sexual.
O gênero rock’n’roll
Inspirado no sentido de balanço/movimento em que o termo “rock and roll” era empregado, e percebendo o frenesi causado pelo ritmo musical que vinha se formando, o lendário disc jockey Alan Freed tornou-se a primeira pessoa a utilizar esse termo como um gênero musical, e isso ocorreu em um dos seus programas de rádio no ano de 1951.
Dessa forma, temos que o gênero rock’n’roll foi estabelecido mesmo antes do filme “Sementes da Violência” ter sido lançado, entretanto, a influência desse gênero na sociedade, em particular no comportamento dos jovens, só iria ocorrer de forma abrangente alguns anos depois.
As primeiras músicas
Considerando que o rock’n’roll possui suas raízes no blues, country, jazz e gospel, é através das canções que representam tais gêneros musicais que encontramos a sua origem, contudo, a música “Rock the joint”, gravada por Jimmy Preston em 1949, é considerada o protótipo de uma canção rock’n’roll, enquanto a música “Rocket 88” de Jackie Brenston, gravada em março de 1951, é considerada o primeiro rock’n’roll.
As gravações do final da década de 1940 e início da década de 1950, ao mesmo tempo que há um relativo consenso de que são a base do rock, também suscitam dúvidas de que realmente fazem parte desse gênero, como no caso do músico Ike Turner, que não considerava “Rocket 88” como um verdadeiro rock’n’roll.
As primeiras gravações de músicas que representariam, de fato, o gênero rock’n’roll, ocorreriam a partir de 1954, mas que só fariam sucesso a partir do ano seguinte, o que nos leva ao dia do lançamento do filme “Sementes da Violência”, que, conforme já mencionado, impulsionou o sucesso de “Rock Around The Clock”, primeira canção do gênero a obter um sucesso estrondoso perante a juventude da época.
O filme “Sementes da Violência”
Ao assistir o filme “Sementes da Violência”, o que se vê é uma trama ambientada numa escola em que o professor Richard Dadier, interpretado por Glenn Ford, tenta acalmar os ânimos de um grupo de adolescentes hostis e, em alguns casos, perversos, entretanto, o professor entende que pode mudar aquela situação, apesar dos demais educadores deixarem claro que não possuíam qualquer esperança que isso pudesse acontecer.
A trama, portanto, correlaciona o rock ao comportamento rebelde dos personagens, tendo em vista que ambos se apresentam como uma via de expressão para os jovens, catalisando os seus sentimentos de insatisfação, desilusão, frustração e anseio.
Apesar da abertura ao som de um legítimo rock’n’roll, ocorrida pela primeira na história, e a rebeldia dos jovens estudantes retratados no filme, tais elementos consistem nos únicos, porém relevantes, relacionados ao rock, quer seja sob o aspecto comportamental ou como gênero musical.
Durante todo o filme, nenhuma outra música do gênero rock foi reproduzida. Não existem as baladas dos sábados à noite, como também não existem jovens do sexo feminino, nem na escola ou fora dela. Portanto, para quem deseja assistir ao filme, sugiro que não espere algo que se assemelhe a “Loucuras de Verão” ou “No Tempo da Brilhantina”.
Um dos pontos fortes do filme são os atores. O filme traz atores consagrados, como o já mencionado Glenn Ford, e outros de renome, mas que na época estavam no início de carreira, como Vic Morrow, que teve uma carreira de relativo sucesso, mas que morreria após um acidente envolvendo um helicóptero nas filmagens de Twilight Zone: The Movie, de 1983, e Sidney Poitier, que alguns anos depois interpretaria Mark Thackeray, o professor do inesquecível “Ao Mestre com Carinho”, de 1967.
É bom entender que a visão que se tem do filme ao assistirmos hoje, não reflete, nem de longe, o que ele realmente representou para os jovens estadunidenses naquele início de primavera de 1955, pois não nos encontramos envolvidos nas situações e contexto da época. Para exemplificar, segundo a revista Rolling Stones, a tensa ambientação da produção do filme “Sementes da Violência” gerava atos de vandalismo nos cinemas, algo difícil de se imaginar que tal fato tenha ocorrido para quem assisti ao filme no momento presente, afinal, filmes muito mais violentos foram posteriormente produzidos pela indústria cinematográfica no decorrer das décadas seguintes.
Após a eclosão do rock’n’roll
No cenário musical, logo após o sucesso de “Rock Around The Clock”, vieram os grandes expoentes do Rock’n’Roll. Nada mais, nada menos, que Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Buddy Holy, dentre outros, apresentando as suas músicas, cujas letras convergiam com o espírito contestador dos jovens da época.
Já no fim dos anos de 1950, atendendo ao apelo de uma sociedade preocupada com a influência do rock no comportamento juvenil, a indústria fonográfica procurou promover artistas cujas letras de suas músicas não representavam “perigo para os jovens”, sendo comumente romantizadas.
Contudo, na década seguinte, as inquietudes dos jovens voltariam a ser canalizadas através do rock, reiniciadas através de outro movimento denominado de “A invasão britânica”, mas isso é outra história.
*O texto é de livre pensamento do colunista*
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