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Entrevista/Música
Por: José Salucci – Jornalista
Merkato entrevistou um trio sertanejo raiz, de moda de viola, de ‘canturia boa’. Três vozes de coração simples, de linguagem interiorana, com o olhar de riacho e sorriso bucólico.
O “Som Caipira”, formado por Chiquinho Ferreira, Leo Renan e Fabrício Dias ecoam a musicalidade do sertanejo raiz, esbanjando uma sonoridade simples, um som limpo e agradável aos ouvidos e coração de quem gosta de ouvir canções que enaltecem a natureza, o amor e presta reverência ao criador dos céus e da terra.
Três vozes que nasceram no interior do estado do Espírito Santo: Chiquinho, natural de Colatina, criado no Córrego Frio; Leo, natural de João Neiva e Fabrício, de Afonso Claudio.
Neste abril de 2025, o trio sertanejo completa dois anos de formação musical. Mas outrora, Chiquinho e Leo já formavam dupla, inclusive ganharam o “Fest Viola Muniz”, em 2022, festival de música caipira no município de Muniz Freire.
Em dia de sol ameno, a entrevista aconteceu na última terça-feira (08), no Parque da Cidade, Serra, com mais de duas horas de papo e cantoria, onde a viola chorou. O trio, que pela primeira vez cedeu entrevista à imprensa, falou do trabalho musical que realizam em Vila Velha e Guarapari; dos festivais que já participaram, da formação do grupo, das origens do sertanejo, críticas ao modo industrial de se fazer música e muito mais.

Confira a entrevista com o Som Caipira! Quem é da cidade vai se apaixonar pela alma do campo, e quem é do campo já sabe o jeito de ser e ouvir um “Som Caipira”.

1 – Obrigado Som Caipira por ceder essa entrevista. Vamos começar apresentando vocês ao público. Cada um pode falar um pouquinho de si.
Chiquinho: Eu sou colatinense, mas fui criado até os 15 anos de idade em Córrego Frio, distrito de Novo Brasil. Gostaria de falar que tenho com minha família um laço simples e humilde. Somos em 13 irmãos. Meu pai é falecido, mas minha mãe está viva. Todos os momentos que eu passei na minha vida lá, até eu sair de lá, está guardado tudo na minha alma.
Leo: Eu nasci em João Neiva, hoje, moro em Vila Velha. Sou professor de viola e músico profissional no “Som Caipira”. Vivo de música, graças a Deus. Eu queria até deixar um fato importante aqui que, a minha relação com a música começou antes deu nascer. Meu pai era muito fã da dupla Leo Canhoto e Robertinho. E meu nome é Leo mesmo, né? Leo Renan. E o nome Leo veio do Leo Canhoto.
Então, antes deu nascer já estava predestinado. Meu nome veio de um artista e automaticamente, no futuro, me tornei um artista também.
Fabrício: Eu tenho 22 anos, nasci e vivi até a adolescência em Afonso Cláudio. Hoje moro em Vila Velha. Recebi o convite dos meus amigos pra trabalhar aqui no “Som Caipira”. São pessoas boas. Excelentes músicos. Pra mim foi uma honra.
2 – Vamos falar de influência musical. Como cada um iniciou no universo da música?
Chiquinho: Eu tenho uma família bastante musical. Minha mãe, Dona Hilda Sardinha da Conceição, tocava violão, concertina, um pouquinho de sanfona. Inclusive, tem CD’s gravados. Meu finado pai também tocava, meu avô materno tocava violão… aquelas coisas antigas… Verdadeira raiz que foi crescendo. Hoje, nós já estamos em outras gerações; meu filho Mateus toca bateria no “Som Caipira”.
Leo: Meu primeiro instrumento musical foi uma sanfoninha de oito baixos, ganhei do meu finado avô. Depois ganhei um violão do meu pai, eu tinha sete anos… Acompanhava as músicas que meu avô cantava de sertanejo raiz. Mas comecei a tocar viola por causa de um amigo. Ele comprou o instrumento e me deu, e me disse pra aprender algumas músicas pra depois ensinar pra ele. Na época eu morava com minha mãe, vida humilde, então pedia para os meus colegas de sala de aula para que baixassem músicas da internet pra me entregar, eu ouvia e comecei a pegar a viola; sou autodidata.
Fabrício: Quando eu tinha uns 10 anos, meu pai queria me ensinar, mas eu não queria. E daí, passou um tempo, eu acabei me interessando, aí eu pedi pra ele, mas ele disse que não ia me ensinar mais. Aí fui olhando algumas coisas na internet… Na verdade, meu pai toca, foi referência pra mim.
E… a música sertaneja raiz veio do meu coração, é o que eu escolhi pra mim… Não que eu não me identifique com outros estilos, mas foi com o que mais me identifiquei, me apaixonei mesmo foi pela música raiz.
3 – E a formação do Som Caipira, quantos músicos formam esse projeto? E como nasceu o trio e seu estilo musical?
Leo: O “Som Caipira” nasceu em abril de 2023, mas eu e o Chiquinho já trabalhávamos juntos desde 2015, temos 10 anos de parceria.
Nós tínhamos um outro projeto, com esse mesmo segmento, mas aí deu alguns problemas, né? Tínhamos um outro nome, só que o responsável desse nome faleceu e a família não quis deixar a gente dar continuidade ao nome. Então, trocamos o nome e continuamos trabalhando junto no mesmo sistema.
Chiquinho: Nossa formação pra shows e eventos, a equipe de músicos é maior. No caso, bateria, meu filho Mateus. Entra a sanfona, o Kiko Barbosa, um grande amigo nosso. Eu toco contrabaixo, faço primeira, segunda e terceira voz. O Leo toca viola, mas também violão e faz a segunda voz. O Fabrício toca violão, às vezes viola, e faz primeira voz e a terça. Somos uma mistura.
Leo: A gente fala que a gente pega dos anos 1960 a 1990: os medalhões, né? Os medalhões são as músicas mais conhecidas, colocando um repertório romântico, um repertório caipira e um repertório também dançante para o pessoal.
Música: Faça que não corta (Lourival do Santos/Moacyr dos Santos)
4 – No Brasil, o natural na música sertaneja é se apresentar em dupla. É muito raro você ver um trio sertanejo. Qual o desafio musical de manter a formação de um trio e o lado que pode ser explorado para dar aquele diferencial na música?
Leo: O nosso trabalho sempre foi diferencial porque a gente coloca uma pegada mais nossa, né? Mantendo a essência, mas também com uma pegada um pouco mais moderna, mais da juventude.
Igual no meu caso que sou mais novo, do Fabrício que tá recém-chegado no grupo, mas também tem uma pegada mais nova. A gente tenta se destacar e fazer algumas coisas diferentes, tipo, em algumas músicas colocar três vozes.
Chiquinho: Eu acho que o desafio também tá nisso aí. O desafio tá entre nós mesmos. Porque eu e eu Léo, a gente já tem 10 anos que tocamos e cantamos juntos. Então, já tem uma aproximação de voz muito mais presente do que de repente eu e o Fabrício, que vai completar um ano que tá com a gente.
Mas a gente vai se entrosando cada vez melhor, entendeu? Então, o desafio já tá entre nós. Isso aí leva a gente engrandecer mais ainda como músico. Porque se eu me destacar mais, automaticamente, o outro também tem que chegar junto. Isso aí faz com que o time cresça.
Leo: A gente brincava no outro trabalho nosso, né? Nós somos os três mosqueteiros, né? Um por todos e todos por um (risos).
Chiquinho: Esse desafio de fazer três vozes, eu acho muito bacana. Igual o Léo citou uns amigos nossos lá de São Paulo, já são um quarteto. E faz excepcionalmente muito bem as coisas. E nós aqui tem esse desafio: eu faço a primeira voz, a mais aguda. O Fabrício também faz a voz bem aguda e o Leo faz segunda pra mim… A gente já tem esse entrosamento…
Leo: Porque geralmente quem faz a primeira é o Chiquinho ou o Fabrício, e, eu já sou a segunda oficial do grupo, né? Geralmente quando o Fabrício faz a primeira e quando os dois cantam juntos, quem faz a segunda é o Chiquinho. As vozes predominantes são primeira e segunda. O Fabrício também faz a terça. O Fabrício ele entra com a terça, mas às vezes também entra com a primeira. Somos versáteis.
Também exploramos, como o Fabrício também toca viola… E, eu também toco violão, a gente às vezes inverte o instrumento, eu passo a viola pra ele, eu pego o violão. E a gente faz algumas coisas dobradas, né? Ele faz um arranjo, eu faço às vezes uma dobra no violão, os dois solando ao mesmo tempo… O sanfoneiro vem na onda e dobra com a gente.
Isso aí é muito bacana. Eu acho que é esse o diferencial do “Som Caipira”, né? A gente mantém a essência da música sertaneja do que a gente se propõe a fazer. E tendo esse diferencial de colocar coisas a mais.
5 – E falando de modelo de formação musical sertanejo, o mercado às vezes é cruel com o bom músico caipira. O sertanejo virou uma indústria cultural, como foi o Axé na década de 1990 e o pagode. Em dias atuais nota-se que, as composições desse sertanejo moderno ou universitário, as mensagens giram em torno de prazeres imediatos, bebidas alcoólicas, traição, balada, ‘pegação’, mudou completamente o sentido de sertanejo em sua origem. Como é que vocês encaram esse sertanejo, que é completamente o estilo diferente de vocês?
Chiquinho: Olha, falar de crítica é meio complicado, né? Mas assim, eu tenho uma opinião que, a música virou uma coisa meio descartável, né? É uma indústria, como você citou. Hoje em dia, se junta três, quatro compositores, vão fazer música e faz cinco, seis músicas, até 10 num dia só, ou em horas, que seja.
Mas são músicas que são descartáveis, ela vai fazer um universo ali e depois… Você pode ter certeza que todos esses aí dessas duplas sertanejas, o bloco do sertanejo de raiz tá ali. Da moda vai tá ali. É onde que a maioria dos shows o público vai. Então, querendo ou não, nós temos nosso lugarzinho cativo. A história tá ali, porque ali tem história.
Agora, as outras aí, assim, questão de criticar, meio complicado, né? Mas é o mercado que tá rolando.
Leo: Sobre essa questão de letras de música, eu acho que é natural, né? O tempo vai passando, as coisas vão ficando mais modernas. Você pega as músicas sertanejas de 1960, eles cantavam ‘nóis’, ‘vancê’ – tinha esse palavreado, depois foram acertando isso, jogando pra gramática normal. E, hoje chegando à modernidade com palavreado do momento que estamos vivendo.
E as letras, nem vejo como problema maior, no meu ponto de vista, porque se você pegar as músicas antigas, geralmente o assunto é o mesmo: mulher, bebida, a mulher largou, também tem muito isso.
Mas o que me deixa muito chateado na atualidade é a despreocupação com a qualidade. O pessoal mais novo tá se importando mais com a imagem, e não com a qualidade. Antigamente para você fazer sucesso, você tinha que ser bom. Você tinha que cantar muito bem, tocar muito bem, né? Você tinha que se garantir em pelo menos alguma coisa. Às vezes o cara não se destacava como cantor, mas se destacava como músico de gravação, de estúdio, compositor.
Mas o que tá deixando as coisas ir decaindo no sertanejo é essa despreocupação com a qualidade musical.
Fabrício: Ah, eu acho que, realmente, essas músicas sertanejas de hoje, elas realmente parecem que é uma coisa só porque os assuntos são sempre os mesmos. E aí a qualidade, que realmente precisa, não tem.
6 – Nessa questão de qualidade musical, qual os ritmos que vocês mais gostam de tocar?
Leo: A gente tem muito a música sertaneja raiz da região de São Paulo, onde é o forte da viola caipira hoje no Brasil. Temos a referência de Goiânia, né, que é o sertanejo mais romântico. Em questão de ritmo mesmo nós tocamos de tudo: vanerão, pagode de viola. O pagode de viola é o recortado que o Tião Carreiro criou. Tocamos cururu, cateretê, toada, querumanas, moda de viola. A moda de viola para quem não sabe, é um estilo específico onde são duas vozes que cantam e a viola ponteia.
Nós também temos muita influência do pop, né? Porque o sertanejo romântico tem muito pop, rock também. Tem umas levadas mais americanas. Temos referências paraguaias, como guarânia. Também tocamos polcas, huapango, carrilhão. Também temos referências do Nordeste com o forró, aquele forró pé de serra, shots, né? Enfim. Se o pessoal pedir, a gente abrange também esse repertório no show.

7 – E a agenda de shows e eventos?
Leo: Tocamos na Grande vitória em geral em festas, casamento, eventos particulares, barzinhos. Toda segunda-feira nós estamos no “Tô Chegando” no bairro Jockey, Vila Velha.
Tocamos também na “Reserva do Gerente”, em Guarapari. E tocamos lá no primeiro domingo do mês. A gente também tem ido muito para o Sul do estado.
8 – Um destaque nesses dois anos de trio?
O “Som Caipira” participou do Córrego do Bom Jesus, no Sul de Minas. Nós fomos para um festival, em 2024. Tinha 25 duplas e ficamos em oitavo lugar… O nível é muito difícil lá.
Lá, tipo assim, as duplas que ganharam, do primeiro até o décimo, foi coisa de um décimo de diferença da pontuação, para você ter ideia.
Tinha dupla lá que, particularmente, eu gosto muito de ver tocando e chegar nesse festival e ficar na frente de algumas dessas duplas para nós, já foi uma vitória, né? Porque a gente foi pra lá pra conhecer a galera, conhecer o festival. E se der alguma coisa, beleza, mas se não der nada, também tá tudo certo. E ficamos em oitavo, então, pra nós foi uma alegria muito grande ter se destacado.
9 – Planos para o futuro? E pensam em morar fora do estado do ES?
Léo: Pensamos em gravas nosso álbum, com base numas oito a dez músicas. Lançar nas plataformas digitais, e depois com o tempo ir trabalhando uma música por vez, a que fizer barulho a gente pensa em fazer um clip.
Eu tenho algumas composições, outras em parceria com o Fabrício, parcerias com outros amigos também.
E sobre sair do estado, cara, no momento não. Já me veio essa ideia um tempo atrás, né? Mas aí eu teria que separar deles. Na época não tinha o Fabrício ainda. Começamos aqui. O negócio tá legal aqui. Então, tipo assim, se for para um dia sair, tem que sair todo mundo.
10 – Som Caipira, foi um prazer realizar essa entrevista e poder aprender sobre música sertaneja raiz. Vamos para os agradecimentos.
Chiquinho: Primeiro agradecer a você por ter proporcionado para gente essa entrevista, é mais um passo que a gente tá dando na nossa carreira. Muito obrigado por ter aceitado a gente conversar e mostrar um pouco da nossa qualidade. É bem simples, mas é de coração para todos as pessoas que vão ver a nossa entrevista. Obrigado mesmo.
Leo: Primeiramente agradecer a Deus por mais uma oportunidade de estar mostrando nosso trabalho, né? Dessa vez de uma forma diferente, nunca tinha dado uma entrevista para jornal. O Som Caipira é a minha vida, tudo que eu tenho sai daqui, eu pago as minhas contas por meio do Som Caipira. Tô grato demais com esse convite, pela sua generosidade de ter apoiado a ideia também. Muito obrigado.
Fabrício: Agradecer a Deus também e, agradecer a você também pelo espaço aqui pra gente poder mostrar um pouquinho do nosso trabalho, as pessoas conhecerem também como é o nosso som.
Contato pra show: (27) 99782-6726.
Instagram: @somcaipiraoficial
Instagram: clique para assistir vídeo do Som Caipira no @jornalmerkato
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