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7 de junho de 2025

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Capoeira: combate à discriminação, ao racismo e ao preconceito

(Imagem: jornal Merkato)

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Coluna Letrados
Por: Eleandro da SilvaProfessor de Educação Física/Contramestre de Capoeira.

No dia 02 de junho de 2025, foi publicado um artigo de opinião no Folha Portal, da cidade de Ibiporã (PR) (https://www.folhaportal.com.br/noticia/prefeitura-de-ibipora-anuncia-gastar-r-1-7-milhao-com-grupo-de-capoeira-para-preencher-grade-de-educacao-fisica), com uma série de críticas destrutivas, infundadas, discriminatórias e preconceituosas em relação a prática da capoeira. Detalhe, o artigo foi removido do ar, por que será?

No Brasil há mazelas estruturais formatadas pelo vetor histórico, cultural, econômico e social. Nesse contexto, discriminação, racismo e preconceito surgem por causa da predominância de poderes ideológicos hegemônicos, contribuindo assim para uniformização de padrões de condutas, costumes, saberes e conhecimento de um modo geral.

Diante desse sistema, a capoeira senti suas angústias, as quais são evidenciadas no decorrer da história do Brasil: a prática de capoeira já foi considerada crime em nosso país, em 1890, pelo Código Penal Brasileiro. Em dias atuais, ela continua sendo marginalizada por uma parte da sociedade.

O Brasil possui múltiplas culturas na formação de seu povo, ou seja, não é Brasil, e sim “Brasis”, como dizia o escritor e sociólogo brasileiro Darcy Ribeiro, que analisou a formação étnica e cultural sob o olhar de termos diversas identidades. A capoeira está inserida nesse contexto identitário e de resistir aos atos discriminatórios, de racismo e de preconceito. A própria história da capoeira permite-nos dialogar acerca das referidas mazelas sociais advindas de estruturas de poder.

Para rechaçar e combater o texto da Folha Portal, primeiro quero citar os pontos-chave explicitado pelo autor do texto. A primeira crítica diz respeito aos mestres, por muitos não possuírem uma garantia na formação em educação física, sendo a maioria autodidata, que isso seria um perigo para as crianças.

Ora, desde quando o movimento humano é uma prerrogativa dos professores e profissionais da Educação Física? Iremos privatizar, agora, a cultura corporal? Apenas o conhecimento científico é considerado como verdadeiro e único? Os saberes populares e tradicionais não valem nada?

A Capoeira é uma manifestação cultural que faz parte do Patrimônio Cultural do Brasil e da Humanidade, capaz de levar a mensagem de paz e de tolerância ao mundo, a partir dos seus gestos e movimentos, da musicalidade que divulga língua portuguesa, por exemplo, não devendo, portanto, ser submissa a qualquer outro conhecimento ou área. Certamente, dialoga com outras áreas, como a Educação Física, a História, a Geografia, a Antropologia, mas não é menos importante, e nem deve ser pré-requisito a exigência da formação acadêmica.

A segunda crítica diz respeito aos “padrões de comportamento e cognição não saudáveis entre os próprios praticantes” da capoeira. Além disso, faz uma diferenciação em relação ao judô, em que “traz na sua bagagem uma filosofia nobre, não arraigada a violência ou marginalidade”.

É perceptível o preconceito em relação à prática da capoeira no argumento acima, citado pelo autor, de forma consciente e tendenciosa. Ora, como se chegar a uma conclusão de padrões de comportamento e cognição não saudáveis? Quais os fundamentos históricos, científicos, antropológicos e sociais para se chegar a tal conclusão? Preconceito, apenas.

Outra reflexão que faço é: do que o autor chama de filosofia nobre do judô, a influência do código de ética do samurai? Onde a honra, a conduta, a lealdade e o respeito são (ou deveriam) ser pressupostos da referida modalidade, criada pelo japonês Jigoro Kano?

Quando o autor diz “filosofia nobre”, obviamente, desconsidera todo o contexto histórico e social da construção do próprio Brasil, de fato, arraigado de muita violência e tortura, haja vista que o país foi o último a abolir a escravidão. Lembrem da ideia de Darcy Ribeiro que escrevi no início do artigo.

Por fim, concluo de forma simplista. A partir do diálogo acerca da capoeira, temos uma dúvida e uma certeza:

A dúvida é: estaria o autor dizendo sobre si mesmo, quando diz sobre padrões de comportamento e cognição não saudáveis? A certeza é: o autor não entende de educação, de judô, de educação física e muito menos de capoeira!

*O texto é de livre pensamento do colunista*


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Eleandro da Silva – *Residente em Cariacica- ES *Contramestre de Capoeira/Grupo Beribazu *Bacherel em Educação Física/UFES.
*Licenciado em Educação Física/Faculdade Mário Schenberg *Especialista em Educação Física Escolar/ Instituto Superior de Educação de Afonso Cláudio. / Foto: Divulgação.

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