Os movimentos sociais surgiram na década de 1960, mas se empoderaram nos anos de 1970 em toda América Latina, preponderantemente em oposição às ditaduras. No Brasil, os movimentos sociais foram protagonistas no cenário sócio-político nas décadas de 1970 e 1980, contribuindo para avanços de conquistas sociais democráticas em tempos que o regime militar agia como um déspota.
No ano de 1988, a Constituição Federal reelaborou suas leis com um viés democrático e grande parte deste processo de mudança e conquista foi protagonizado pelos grupos de pressão, que nortearam suas demandas por meio de atividades de manifestação política. Compreende-se assim que movimentos sociais se traduzem em demandas, seguidas por reivindicações, por meio de uma ação coletiva (CASTELLS apud GOHN, 2000).
Entende-se que os movimentos sociais são grupos articulados politicamente, que se opõem a grupos hegemônicos, nascem de uma inquietação social e buscam novos modelos de vida. As mobilizações sociais são de extrema importância para se construir uma sociedade igualitária e mais democrática.
Segundo Peruzzo (2013, p. 162) movimentos sociais populares são “articulações da sociedade civil constituída por segmentos da população que se reconhecem como portadores de direitos e se organizam para reivindica-los, quando, estes não são efetivados na prática”.
Uma definição mais ampla de movimentos sociais é citada por Gohn (2000, p. 251):
“são ações sociopolíticas construídas por atores sociais coletivos pertencentes a diferentes classes e camadas sociais, articuladas em certos cenários da conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força social na sociedade civil…”
Para compreender o empoderamento dos movimentos sociais na comunicação é válido salientar a ideia do que é hegemonia e contra hegemonia, buscando compreender este conceito dentro da esfera de um jornal comunitário, em relação a imprensa tradicional.
Charon (2002) conceitua a etimologia da palavra hegemonia – em sua origem ou raiz deriva do grego eghestai, “conduzir”, “ser guia”, “ser líder”. Em qualquer âmbito de uma relação sócio-cultural-política há o sujeito dominante e o dominado. Quando falamos desse gênero levanta-se uma problemática de que não há ponto de vista correto, mas um jogo de interesses em ambas as partes dos atores envolvidos na esfera hegemônica e contra hegemônica.
Entende-se que hegemonia coexiste à conquista de um consenso e da liderança cultural e político-ideológica de uma classe ou bloco de classes sobre as outras. A hegemonia não se dá apenas no campo econômico, mas numa esfera intelectual, ideológica, modelos de autoridade, práticas de saberes que querem legitimar-se e universalizar seus conteúdos (GRAMSCI apud MORAES, 2010).
Entende-se por hegemonia uma construção histórica em um processo longo que perpassa por diversos espaços. Segundo Gramsci (apud MORAES, 2010, p. 79), “[…] a hegemonia pode (e deve) ser preparada por uma classe que lidera a constituição de um bloco histórico que articula e dá coesão a diferentes grupos sociais em torno da criação de uma vontade coletiva.”
Para conservar ou consolidar sua hegemonia, os grupos dominantes precisam estabelecer apoios, relacionamentos amistosos com outros grupos sociais para que tal hegemonia não seja confrontada por eles. Segundo Gruppi (apud MORAES, 2010, p. 79).
“uma classe é hegemônica, dirigente e dominante até o momento em que – através de uma classe sua ação política, ideológica, cultural – consegue manter articulado um grupo de forças heterogêneas e impedir que o contraste existente entre tais forças explorada.. ”.
Dissonante a hegemonia está a contra hegemonia, que configura a luta das classes subalternas e periféricos da burguesia, ou seja, grupos que almejam terem voz no cenário político social, cultura reconhecida e ideologias legitimadas.
Os grupos contra hegemônicos se organizam para alargar a visibilidade pública de visões ideológicas que contribuam para a reorganização de repertórios coesos socioeconômico. É necessário buscar a plenitude dos direitos civis com mediações e manifestações legítimas para a descentralização de um bloco social hegemônico, permitindo a outros grupos, que são diminutos diante da realidade concreta de direitos constitucionais de políticas públicas. (MORAES, 2010, p.104).
Compreende-se que os indivíduos engajados em movimentos sociais buscam empoderamento de suas subjetividades culturais, sociais, identitárias, religiosas, entre outras instâncias. O clamor e voz dos movimentos sociais é um axioma da marginalização dos direitos democráticos e de relações político-sociais e, neste caso, se mobilizam para seu próprio desenvolvimento e alcançam poder em suas relações de âmbito local e nacional.
Conclui-se que as ações contra hegemônicas aparecem como instrumentos para criar uma nova forma ético-política, cujo alicerce programático é o de denunciar e tentar reverter as condições de marginalização e exclusão impostas a amplos estratos sociais pelo modo de produção capitalista, portanto, é necessário novas formas de táticas de canais contra hegemônicas e mobilizá-los para contrapor o poderio midiático. Sendo assim, os movimentos sociais são agentes políticos legítimos de uma sociedade que caminha em cidadania e democracia.
José Salucci – *Jornalista, *Estudante de Letras Português. *Pós-Graduando em “Gestão em Organizações do Terceiro Setor e Projetos Sociais”. Possui experiência há sete anos no Terceiro Setor, atuando com trabalhos de assessoria de comunicação, jornalismo comunitário, educação e voluntariado. Também é pesquisador, e contribuiu para edição do livro “Ensaios Acadêmicos: do currículo tradicional ao empreendedorismo”, lançado em 2022, com autoria de um capítulo: “Currículo e Poder”.