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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Neste ano, o cinema está completando 130 anos, tendo como marco inicial a primeira apresentação pública de um filme, que ocorreu no Salão Grand Café, em Paris, no dia 28 de dezembro de 1895.
Sabemos que muita coisa aconteceu após a invenção do cinema, a quantidade de filmes que se passou a produzir no mundo, e que ainda se produz, é incomensurável, mas também há muita história (e controvérsias) antes mesmo da primeira exibição promovida pelos inventores do cinematógrafo, os irmãos Lumiére.
Esta pré-história do cinema abordarei no decorrer deste ano em meio a uma série de artigos retratando a importância e influência do cinema em todo o planeta. Por enquanto, estando próximos ao carnaval, entendo oportuno reconhecer a contribuição da indústria cinematográfica para a divulgação desta festa tão popular em nosso país.
O Carnaval brasileiro
A origem do carnaval remonta a Antiguidade, tendo como exemplos a Festa do Boi Ápis, no Egito Antigo, e as Sacéias, na Babilônia, sendo, hoje, comemorado em grande parte das nações e das mais variadas formas, possuindo, inclusive, outros nomes, como o “Fastelavn”, nomenclatura utilizada nos países bálticos (exceto Finlândia), e Maslenitsa, utilizada na Rússia. Mas por que justamente o Carnaval brasileiro é tão conhecido lá fora?
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Alguns fatores podem ter contribuído para esse reconhecimento mundial, dentre os quais está no fato de o carnaval atingir um público deveras diversificado, sendo comemorado por pessoas das mais variadas raças, culturas e camadas sociais, e isso é claramente perceptível em nosso país, cujo fenômeno é continuamente explorado pela mídia nacional e internacional, ano após ano.
Somada a essa diversidade, temos a apresentação das escolas de samba, que, devido à sua identificação para com o público e do seu reconhecimento por parte das instituições públicas, fizeram do Carnaval a maior festividade do Brasil.
Contudo, em tempos remotos, dois fatores que impulsionaram a difusão do carnaval a nível nacional e mundial foram: o samba, abarcando aí a música, a dança e outros estilos musicais que dele se derivaram, e os diversos filmes produzidos em meados do século passado retratando o carnaval brasileiro.
O Samba
O Samba é um gênero musical, como também uma dança, que se originou de comunidades afro-brasileiras da cidade do Rio de Janeiro, embora alguns estudiosos entendem que o samba nasceu no Recôncavo Baiano, cujas festas dos escravos eram conhecidas por “samba”, havendo uma migração de uma parte significativa desses escravos para o Rio após a abolição da escravatura.
Na realidade, a palavra “samba” esteve, inicialmente, ligada à dança, sendo, posteriormente, utilizada como um tipo de gênero musical. E esse gênero também sofreu influência de diversos ritmos, como a polca, o minueto, e até mesmo a valsa, dentre outros. Através de gravações fonográficas, cujo primeiro Samba gravado (e a fazer sucesso) foi “Pelo Telefone”, em 1916, interpretada por Donga (1889 – 1974) e de autoria controversa, bem como em face de um número considerável de apresentações de sambistas brasileiros no exterior, o samba se espalhou pelo mundo, influenciando a dança e a cultura de diversos países, como também a música, como o jazz, o reggae e a música latina.
Para os roqueiros de plantão, não posso deixar de mencionar que o gênero Samba, em certos momentos, também foi incorporado ao Rock, de forma mais aguçada na música “Sympathy for the Devil”, dos Rolling Stones, e em meio à música “Fool in the Rain”, do Led Zeppelin.
O Samba e a Bossa Nova
A Bossa Nova, que possui suas raízes no Samba e no Jazz estadunidense, obteve forte reconhecimento internacional principalmente a partir de meados dos anos de 1960. Além de grandes intérpretes brasileiros, como João Gilberto, Tom Jobim e Sylvia Teles, várias canções, que se caracterizam por esse estilo musical, foram interpretadas por artistas de renome mundial, como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Elvis Presley.
De certo que na maioria das músicas do gênero Bossa Nova não há uma clara identificação desse estilo com o Samba que conhecemos, principalmente nas músicas carregadas de uma certa melancolia, contrastando com a alegria comumente (mas nem sempre) representada no Samba, entretanto, é possível observar que Norman Gimbel, que foi quem escreveu a versão em inglês da famosíssima “Garota de Ipanema”, composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, faz um conexão entre tais ritmos no trecho da música em que se canta: “When she walks, it’s like a Samba” (Quando ela anda, é como um Samba). Esse vínculo só existe na versão em inglês.
O Carnaval no cinema
Mas o Carnaval brasileiro não é representado somente pelo Samba, o qual coexiste com outros ritmos, como o Frevo e o Maracatu, mas foi o Samba que, inicialmente, expandiu o Carnaval para o mundo, tendo como um forte veículo de divulgação o Cinema.
Alguns filmes brasileiros, que tiveram como temática e/ou pano de fundo o Carnaval, foram também reconhecidos, não somente pelo público nacional, como também pelo estrangeiro, como no caso de “Orfeu Negro”, inspirado na mitologia grega “Orfeu e Eurídice”. O filme foi dirigido pelo cineasta francês Marcel Camus e lançado em 1959.
O filme “Carnaval Atlântida”, de 1952, obteve um maior reconhecimento no nosso próprio País, tendo no elenco Oscarito e Grande Otelo, cujo personagem de Oscarito, Xenofontes, também faz referência à mitologia grega quando o personagem tenta, de forma infrutífera, adaptar a história de “Helena de Tróia” para o cinema.
Dentre outros filmes brasileiros que, em épocas remotas, também contribuíram para a divulgação do nosso Carnaval, estão: “Favela dos meus amores”, de 1935; “Alô, alô Carnaval”, de 1936; “Tererê não resolve”, de 1938; “Tristezas não pagam dívidas”, de 1944, sendo este o primeiro filme de Oscarito.
Cabe registrar que os primeiros filmes sonoros sobre o Carnaval são os documentários “O Carnaval Cantado”, de 1932, e “A voz do Carnaval”, de 1933, constando neles as primeiras aparições de Carmen Miranda (1909 – 1955). Os filmes foram exibidos em diversos cinemas do Brasil, incluindo os localizados no Rio, Petrópolis, Belo Horizonte, Juiz de Fora e Porto Alegre. Infelizmente, todas as cópias e seus respectivos negativos desapareceram, desse modo, ambos os filmes são considerados perdidos.
Os filmes produzidos nos Estados Unidos em meados do século passado retratando o Carnaval, tiveram uma importância significativa na propagação do Carnaval brasileiro, não só para o público estadunidense, como para o mundo, dada a elevada exposição cinematográfica dos filmes produzidos naquele país já naquela época.
Dentre os filmes que contribuíram para a divulgação do Carnaval em terras estrangeiras, estão: “Amantes em férias” (Holiday for Lovers), de 1959, produção estadunidense com gravações em São Paulo e Rio de Janeiro, onde aparecem cenas do Carnaval do Rio; “Uma Noite no Rio” (The Night in Rio), de 1941, tendo Carmen Miranda como uma dos protagonistas; o inacabado “É tudo verdade” (It’s All True), de 1942, dirigido por Orson Welles; e a animação da Disney “Alô, amigos!”, também de 1942, tendo Zé Carioca e Pato Donald como personagens principais.
Ainda que reconheçamos a importância da indústria cinematográfica para a propagação do Carnaval no Brasil e no mundo, e mesmo que definamos o que é o Carnaval (festa popular que acontece anualmente, antes da quaresma, comemorada em todo Brasil), a verdadeira acepção do Carnaval está no sentimento, na emoção dos aficionados por este festevejo, o que pode ser retratado de uma forma mais autêntica através da música e da poesia.
“No Carnaval, a alegria é o enredo
Nas ruas, a festa é o segredo
Máscaras e cores, sorrisos no ar,
Carnaval é tempo de se apaixonar” (Luciano Spagnol, poeta do cerrado)
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