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Coluna Letrados
Por Rodolfo Birchler – Artista Plástico.
Carnaval do Centro de Vitória, nossa capital histórica, que nos rendeu tantas fases: fases de inexistência, de existência, de resistência, de desistência, de reexistência.
Começou na avenida, foi pro Sambão, deixando o centro histórico, mas reviveu nas ruas desse mesmo centro e cresceu novamente com seus blocos até ficar enorme, cresceu tanto, que saiu para tomar a beira mar.
Talvez, em um desejo de retomar o Carnaval, de estar à beira do mar, para lembrar as águas dos vários lugares de onde já passou e até que, aqui, chegou. Os Carrum navalis, dos blocos alegóricos, dos romanos ou carnem levare, da cristandade do medievo, com sua temporária permissão carnal antes da quaresma.
A Folia se faz carne
Alforria em nossa carne
A folia do carnaval sempre representou um ato de liberdade comemorado de forma periódica, onde até os mais tiranos e conservadores comungavam do ato. Carnaval, que sempre foi um berço de criatividade, discussões e contestações de valores. Em Roma, até os escravizados eram libertados, em outras localidades, o rei entregava o cargo para um prisioneiro, enfim… Demonstrações mais que comprovadas da vocação carnavalesca de contestar por meio de folia!
“Um curto período no ano Vai-Vai
Para essa contestação permissiva da opressão
Mas para alguns não
Vai-Vai
Não Vai
Não é possível
Não, é Não, e novamente não.
A opressão também se veste de folião
E vem curtir sua apoteose
De bombas e armas na mão
Mas nem uma vez no ano pode?
Pelo visto não!
A mão do Estado, que deve dar proteção, rima errado e se torna novamente agressão.
Nas costas, mentes e ouvidos do povo, que só queria se render a folia
Se renderam, foram rendidos
Mais uma vez no ano sem nenhuma redenção”
Contraponto
Queria falar, aqui, dos babados que o carnaval rendeu, de geração de renda, de economia criativa, das vantagens do Carnaval do Centro de Vitória, das belezas do Centro e da Beira Mar, do vento fresco de “ventória”, porque é sabido que muitas vantagens foram contadas sobre esse carnaval pela atual gestão falando de sua organização de aquecimento da economia local com diversos ambulantes vendendo, hotelaria lotada, diversos profissionais da arte que estavam trabalhando em seus ofícios vendendo produtos e serviços.
Mas… novamente somos obrigados e discutir o óbvio e básico, que é existir, sobreviver e se manter de pé! Coisa que muitos foliões e ambulantes tiveram dificuldade, poder respirar! Coisa que muitos moradores, segurando seus filhos recém-nascidos, tiveram dificuldade…
Então, ao fim de tudo, o que rendeu no Carnaval de nossa capital?
– A organização dos Blocos deram show, mesmo com a restrição de horário, que culminou curiosamente com o início de muitas programações de carnavais particulares;
– Foi o carnaval com um dos maiores números de participantes já registrado;
– Segundo dados, foi o carnaval que mais gerou receita, cresceu em 10% para bares e 5% para hotéis, além do 350 ambulantes, prestadores de serviço diversos, incluindo os profissionais da arte e também o próprio Estado.
– A estratégia de levar o público no Blocão para o Sambão foi boa e ajudou muito na dispersão;
– Faltaram blocos descendo da Piedade, pelas ruas, terminando na Costa Pereira e Beira Mar, para ou seguir o blocão (potencializando a dispersão) ou aqueles que não quisessem ir para o Sambão ficassem na Costa Pereira e proximidades, onde os foliões poderiam ficar consumindo com os ambulantes;
– Faltou uma programação noturna de médio porte na programação oficial do centro;
– As iniciativas autônomas de captar os foliões de alguns lojistas foram silenciadas ou restringidas, prejudicando o comércio dessas pessoas e deixando mais foliões à deriva pelas ruas;
– Os blocos que acabaram levando os foliões no caminho inverso, aglomerando-os na piedade, fizeram o que se esperava que foliões sem blocos para seguir fizessem, criaram um batuque não oficial e propiciando também a proliferação de disputas de sons mecânicos automotivos.
– Porém apresar de todos os acertos e erros que foram em sua maioria de ordem estratégica tivemos esse erro crasso de ordem unicamente política de orquestrar uma sequência e violências contra os cidadãos de modo geral que estavam no centro nessa hora.
Fica por fim a pergunta: Será que os foliões ambulantes e lojistas ficarão seguros para retornar ano que vem? Porque essa receita para dar certo só renderá bons frutos com mais segurança contra situações de brigas, furtos e similares e não conta a população local e turistas, que certamente, não terminaram esse carnaval apenas com boas lembranças…
A que o Carnaval do Centro de Vitória deve se render?
Ao ostracismo empurrado pela opressão
Ou a folia com segurança e sem violência?
*O texto é de livre pensamento do colunista*
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