Renato Casanova, o vocalista do Casaca; em seguida, Flavinho, no tambor de condução; Luan, no tambor de repiques; Guilherme, na guitarra; Jheyfer, na casaca e Chapecó, no baixo. / Foto: Ultra Agência Digital.
Que rujam os tambores! Vai começar uma entrevista cheio de batucada de congo, de cultura capixaba, de ideias e ‘ondas’ que te levarão do Barrão a um tempo de histórias de grandes sohws no Espírito Santo e na Europa.
A turma vem da Barra do Jucu. São cheios de amor e de simplicidade. A reportagem conversou com os dois principais integrantes da banda Casaca, que estão desde a primeira formação do grupo, em 2000. Renato Casanova, o vocalista e o Flavinho, no tambor de condução, receberam a reportagem neste julho, em uma sexta-feira (08), às 23 horas, no ‘Correria’, casa de show em Vila Velha, onde fizeram apresentação.
Com muito riso, histórias cheias de ritmo e simpatia, o aprendizado foi gratificante. Duas pessoas que fazem arte por motivação de continuarem a manter uma antropologia cultural e musical do solo espírito-santense e do Brasil, tem mesmo, de fato, o merecimento de serem musicalmente interplanetário, em 22 anos de carreira.
1 – O que é o Casaca em representatividade na cultura musical capixaba?
Renato Casanova: Dentro da cultura capixaba, o Casaca é uma peça. O Casaca é uma banda que aparece no meio de um movimento que já existia com bandas como o ‘Manimal, o ‘Pé do Lixo’, então o Casaca aparece dentro desse movimento cultural, também levando a cultura do Espírito Santo, que é o congo.
O Casaca é apenas uma peça que conseguiu popularizar uma coisa, que até então, era marginalizada. Quando as músicas de congo começam a tocar nas rádios e alcançarem o público, a gente passa a ser uma banda pop. E a gente passa a ser uma peça muito importante dentro dessa informação. Em quase todo o estado já existiam certas manifestações culturais, folclóricas e religiosas, e, de repente, as pessoas começaram a se interessarem mais por isso quando passaram a conhecer o Casaca.
2 – Vocês gostam de definir o estilo da música do Casaca em algum segmento?
Renato Casanova: Eu gosto de falar que o Casaca é congo com alguma coisa. É MPB, folclórica, é música do Brasil. Fora do país o pessoal fala congo jazz. Lá fora parece que eles nomeiam jazz pra aquilo que eles não sabem o que significa. A gente não se liga. É congo com alguma coisa. O complemento fica por sua parte. A gente é muito bairrista. Nosso som é capixaba mesmo. Eu tenho maior prazer de falar: Bem-vindo ao som do Espírito Santo! Somos da Barra do Jucu.
3 – Vamos começar a falar da linha histórica de shows do Casaca. Como foi a aparição de vocês a época da Curva da Jurema, na famosa ‘Terça Reggae’?
Renato Casanova: A gente tava passando uma fronteira, né. A gente usava a nossa amizade e a música pra gente poder permanecer juntos. E de repente, a nossa intenção era ser famoso na rua de casa. E a gente consegue chegar a tocar na Curva da Jurema, onde tinha um movimento de reggae, onde tava se consumindo música capixaba. Pra gente era uma coisa muito gigante. A gente era catador de caranguejo e sururu mesmo, e queríamos bater tambor e fazer nosso som.
4 – Da Curva da Jurema para as edições do “Festival Dia D”. Esse marco na história da música e cultura capixaba, o Casaca registrou seu nome. Conta pra gente sobre as apresentações e curiosidades.
Renato Casanova: Foram três edições do “Dia D”, a primeira em 1999. Nesse primeiro “Dia D”, a gente não tocou. A gente se apresentou a partir do segundo, na Praça do Papa, em Vitória. A gente queria só o palco. Aí, a gente pega um palco pra tocar às 03 horas da manhã, mas o público aceitou bem o som. Eu tava com 28 anos ali.
Flavinho: Na segunda edição do “Dia D” nós tocamos em um palco menor. Fomos como banda convidada. Eu tinha 24 anos de idade. Já na terceira edição do festival, a gente já estava no palco principal.
Renato Casanova: Na segunda aparição no “Dia D”, a gente já vem com uma posição um pouco maior, com álbum lançado com mais de 60 mil cópias de discos vendidos. Já com uma gravadora atrás, essa coisa toda. A Sony tava atrás da gente, mas a gente ainda tinha o contrato com a gravadora Lona Records, do Cidinho. A gente acabou pegando o palco principal, que foi uma coisa maravilhosa. A banda principal era o Casaca. Acabamos pegando o palco principal que foi uma coisa maravilhosa. A época o público foi de 27 mil pessoas.
5 – Outro grande festival de música que marcou a carreira do Casaca foi o “Vitória Pop Rock”, em 2001. E você, Renato Casanova, tem uma história interessante com a Cássia Eller nesse evento, conta pra gente?
Renato Casanova: Essa história é muita maluca. A Cássia Eller ficou atrás da bateria, ao lado da minha esposa. Mas a gente nem tinha bateria, era uma bateria montada pra outras bandas, nosso batuque era só dos tambores. E depois eu fiquei sabendo que ela falou assim: “Se esse cara tocar uma música conhecida eu vou invadir o palco”. Cara! A gente só tocava música do Casaca. Se eu soubesse disso, eu tinha mandado qualquer cover. Tinha muita coisa que a gente poderia fazer.
Flavinho: A gente cantava direto “Magamalabares” de Marisa Monte, muita gente achava que a música era nossa de tanto a gente tocar, a gente poderia ter tocado essa. Se o Renato puxa! (risos). A percussionista dela, a Lan Lanh ficou louca. (risos).
Renato Casanova: Tinha muita coisa que a gente poderia ter feito, só que a gente tem uma visão de frente pro palco, só que ela tava atrás. Nunca que a gente ia imaginar que a Cássia Eller tava curtindo o show lá atrás. Terminando o show, eu só lembro que ela veio e me abraçou muito apertado. Eu fiquei elogiando ela. Ela disse que o som dela não chegava perto do meu som. Aí eu enchia a bola dela e ela a minha. Foi legal porque ela ficou muito impressionada com o lance dos tambores. Eu tive a oportunidade de ter ela cantando do meu lado, é uma das dores que eu sinto.
6 – Outro grande show foi no “Oi Vitória Pop”, um dos maiores festivais capixabas de música na primeira década dos anos 2000. Narra uma memória desse tempo e de outros shows que queiram destacar.
Flavinho: Vieram Os Paralamas, Skank e o Rappa. Então quando a gente fez o primeiro show com eles, a gente não largou mais. Toda vez que eles vinham pra cá, era o Casaca que abria os shows.
Também fizemos um show na Praia de Camburi. Foi o Casaca e o Rastaclone. Um público de 45 mil pessoas. Esse cara saiu com a perna toda rasgada (risos). Sério! E já tínhamos músicas de impacto como “Anjo”, a “Sabrina”, essa, o Renato fez para uma fã. Teve um show que a gente fez na Praça do Papa que quando a gente cantou essa a música “Sabrina” o céu estava estrelado, eu chego a me arrepiar aqui. Não é sacanagem não! Aí garoou. Depois que ele acabou de cantar a música, parou de garoar. Impressionante, sabe! É negócio gostoso.
Aí você vê outra música impactante que foi o “Anjo” que quase três meses em primeiro lugar na Sony Music, segundo lugar na TVZ. A gente chegou a ficar na frente do Roberto Carlos, rapaz! A música ficou sendo tocada em nível nacional. Com essa música fizemos vários festivais: Festival Atlântida, Festival de Salvador. Só não fizemos Rock in Rio porque não tinha. Foi a época que não teve Rock in Rio. Fizemos o Festival do Ceará. Foi muito bom (60 mil pessoas). Fizemos em Natal. Em Natal nós fizemos junto com o Kid Abelha, foi muito bom.
7 – E falar de 11 de janeiro de 2004, como foi? A música “Da da da” fez o Casaca se tornar uma banda interplanetária. Comente esse show que vocês não foram, mas estiveram lá.
Renato Casanova: É um dia marcante. Os ETs ouviram. É uma linguagem interplanetária. Essa música a gente agradece muito ao físico Paulo Antônio, por ter levado essa música pra lá. Isso abriu portas. Fizemos três turnês na Europa por causa disso. Praticamente as três dentro da Suécia. Fizemos na França, Holanda, Londres. Agora a gente tem o convite pra ir à Espanha, Itália, Portugal, Londres e Suécia de novo. Vamos fazer o ‘Brazilian Day’ de novo. Fizemos duas vezes o ‘Brazilian Day’ na Suécia, na capital Stocolmo.
8 – Trazendo detalhes desses shows na Europa, o que marcou?
Flavinho: O que marcou lá na Suécia foi que quando a gente começou o show, os tambores começam a contagiar. Um show de palco aberto com o público sentado numas cadeirinhas. Todo mundo sentado. A gente começou o show, aí no meio do show as pessoas já estavam puxando as cadeiras e dançando pra lá e pra cá. Eu falei: Cara, que doidera!
Renato Casanova: Ninguém queria saber de guitarra, de vocalista. Eles gostavam era dos tambores e ficavam na ponta do palco olhando. Eles queriam era dançar.
9 – DVD em 2013. O que marcou na carreira do Casaca? Na maturidade musical do Casaca? Foi tempo de confirmações?
Renato Casanova: Acho que foi mais um registro mesmo de tudo que a gente já tinha feito. A gente precisava de registrar a imagem. Porque a gente vinha de uma situação de normalmente onde as pessoas conheciam muito as músicas, mas não conheciam a imagem. A gente foi agraciado pelo público. Foi lindo demais! Teve a participação do Saulo, que hoje virou amigo da banda. A gente teve o prazer de ter o cara em nosso DVD pra esse registro. Foi um momento de conquista. Pra deixar para os filhos, para os netos. Pra vê que a gente fazia um barulho.
Também teve toda uma equipe da Sony. Teve o cara que fazia o design da MTV acústico, também trabalhou nesse DVD. Teve o Guto Graça Melo, todo o trabalho foi ele que desenhou. Gravamos cinco vezes o mesmo show. Quatro vezes para a foto, depois abriu paro o público.
10 – A reportagem agradece pela oportunidade de conhecer a história do Casaca. Gostaria que cada um de vocês fizessem as considerações finais.
Renato Casanova: Agradecer a vocês por essa oportunidade de poder expressar mais uma vez o Casaca. O Casaca é uma situação de vida, de cultura, de manifestação folclórica. O Casaca não consegue fazer 5% do que é uma congada, então quando a pessoa chega a conhecer o Casaca, ela senti aquela vontade de conhecer o congo, e quando ela conhece o congo, ela vai ver que o Casaca é mesmo uma coisa pop.
Flavinho: Eu sou da banda de congo desde que eu me entendo por gente levado pelos meus avós. Faço parte da primeira banda de congo mirim da Barra do Jucu, no qual os tambores de troncos de madeiras foram feitos e enviados pelos índios tupiniquins, inclusive tem até uma música que eles fizeram:
‘Louvamos, louvamos aos índios tupiniquins
Que fizeram esse tambor para a congada mirim
Aos índios tupiniquins agradeço com amor
Por ter feito esse tambor’.
Continua – Essa foi a primeira aparição da banda mirim. Nessa aparição, veio o Martinho da Vila querendo gravar “Madalena”, no qual eu, graças a Deus, estive presente e fui um dos selecionados, aos sete anos de idade, para ir ao Teatro Municipal, no Rio de Janeiro, na década de 1990, dançar o congo. Ainda não tocava, porque já tinha a banda principal, fui como convidado da banda dos mais jovens pra dançar. A congada faz parte do meu sangue e eu levo isso para o Casaca, junto com o Renato, e estamos aí, até hoje, fazendo essa alegria pra rapaziada.