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21 de maio de 2025

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Educação do campo: desafios da docência na atualidade

(Imagem: Facebook da Ecorm de Japira/Jaguaré-ES)

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Coluna Letrados
Por: Sueli Valiato – Professora de Língua Portuguesa, no CEFFA de Japira/Jaguaré-ES

Caríssimo (a) leitor (a), aqui e em outros espaços, escrevo e discuto a Educação do Campo pública, com Pedagogia da Alternância, com o firme propósito de contribuir para o fortalecimento, o aperfeiçoamento e a perenidade desse modelo educacional tão revolucionário, tão próprio e apropriado à realidade de qualquer território, que responde com efetividade as demandas da educação na contemporaneidade.

No livro “Educação não é privilégio”, Anísio Teixeira destaca que em face da aspiração de educação para todos e dessa profunda alteração da natureza do conhecimento e do saber, esses deixaram ser a atividade de alguns para tornar-se uma necessidade de todos. E que mediante a isso, a escola não mais pode ser a instituição segregada e especializada de preparo de intelectuais ou da escolástica.

Para ele e para mim, toda escola deve, portanto, se transformar na agência de educação dos trabalhadores comuns, dos trabalhadores qualificados, dos trabalhadores especializados em técnicas de toda ordem e dos trabalhadores das ciências nos seus aspectos de pesquisa, teoria e tecnologias.

Nesse sentido, a docência nos Centros Educativos Familiares de Formação por Alternância (Ceffas) – públicos, tem como premissa a produção do conhecimento a partir da problematização de fatos e fenômenos da realidade, da vivência dos educandos, a fim de desmistificá-los, desvendá-los à luz da ciência, fazendo uso dos conhecimentos construídos e instituídos historicamente, numa perspectiva de formação integral, visando evolução de si, da coletividade e das condições de vida nos territórios, requisitando do sistema educacional uma política que respeite, que dê condições a implementação do que está garantido nos Projetos Políticos Pedagógicos dos Ceffas públicos e nas leis, decretos, resoluções, pareceres educacionais vigentes.

A inexistência ainda, neste momento histórico, de políticas educacionais que respeitem, que considerem, que criem condições para a implementação dos Projetos Políticos Pedagógicos dos CEFFAs públicos, em consonância com as leis, decretos, resoluções, pareceres educacionais vigentes, tem aberto espaço ao convencionalismo, à padronização, à aplicação superficial, mecânica  e reducionista do método preconizado, suas mediações pedagógicas e suas metodologias, assim como a exigência de se equiparar, “encaixar-se” à sistemática das políticas educacionais das escolas regulares.

Essa dinâmica, que está mais intensa na atualidade, tem afetado profundamente a perspectiva do método e das metodologias globalizadas, da formação integral, sacrificando o protagonismo dos educandos e dos educadores na produção de conhecimentos significativos, inerentes a transformação dos sujeitos e, por conseguinte, de seus territórios.

Pois, como afirma Maria Teresa Nildecolf “… Estudar o meio, inicialmente, significa aproximar-se efetivamente do mesmo, vivendo-o, descobrindo coisas e exprimindo-as. Em seguida já se trata de observar o meio, aprendendo a vê-lo, aprendendo a descobri-lo… E finalmente, o mais importante: explicar as características do meio ou certos fenômenos ou fatos que nele se passam, compará-los a outros meios iguais ou diferentes; analisar  causas e consequências”, e isso acrescento, sempre partindo de onde cada um está: o educando, o educador e a família/responsáveis pelo educando, considerando, respeitando todas as dimensões da existência humana e a inter-relação dessa com cada sujeito.

Atualmente, o sistema Ceffas ainda é um modelo de escola predominantemente nos territórios do campo, devendo ser regidos, portanto, pelas leis da Educação do Campo. Entretanto, no que se vivencia, é cada vez menor o respeito à dinâmica do espaço/tempo da formação: sessão escolar e estadia; à formação inicial e continuada a essa modalidade de ensino; ao tempo adequado para planejamento e à implementação efetiva do currículo integrado, contextualizado, que responda as questões da realidade dos territórios em que educandos se inserem.

A reflexão que por ora se configura, não parte somente de conceitos inerentes a ela, parte da realidade por mim vivenciada nos últimos tempos, da observação e análise das ações que com ela se interligam, da minha experiência de estudante e educadora, há mais de trinta anos, nesse projeto de educação. Advêm também, da comparação das ações e intervenções desenvolvidas no e por esse em diferentes tempos, espaços e condições.

A compreensão dos fenômenos concernentes à problemática que circunda a docência nos Ceffas públicos, que atuam com a Pedagogia da Alternância, inicia-se basicamente, na necessidade de contextualizar, integrar os conhecimentos, promovendo a formação integral, respeitando e valorizando a realidade dos territórios dos educandos, frente à ausência das condições para conhecê-la, estudá-la…

Como agregar novas constatações, novas inferências, advindas do posicionamento do educando frente à realidade de seu território, aos fenômenos estudados, por meio das mediações pedagógicas, do desenvolvimento do currículo/plano de ensino e da docência, se não se tem formação inicial e continuada específica/efetiva para os educadores e demais profissionais, por parte das mantenedoras?

Como contextualizar, integrar os conhecimentos, promover a formação integral, considerar  realidade de cada educando, de seu  território, promover o acompanhamento individualizado, ao auto-organização e a vida de grupo para a coletividade, se a prática da docência está sendo fortemente impactada por uma sistemática de ensino pautada na  padronização, universalização de currículos e avaliações, pela exacerbada quantificação, que privilegia o saber unificado?

Preocupa a grande quantidade de educadores nos Ceffas públicos, com claros sinais de abalo à segurança profissional, ansiedade, stress, cansaço, desmotivação, dúvidas acerca de seu papel como educador, da Educação do Campo, num Ceffa público, ao vivenciarem cotidianamente, no exercício da docência, a dificuldade na aplicação do método, das metodologias, das mediações pedagógicas e do processo de formação integral, decorrente de estratégias, tática e ações sistemáticas, que canalizam o processo educativo para as finalidades, metas e pressupostos pedagógicos de um modelo de educação, de escola regular, com tendências ao convencional/tradicional.

Em função disso, a sobrecarga de trabalho e o sentimento de frustração é evidente, pois essa sistemática de ensino não tem considerado, da forma que deveria, o perfil, a legalização e as propostas político-pedagógicas dessas Unidades de Ensino.

A docência está em crise! E sobre essa crise vivenciada na docência pelos educadores Ivani Catarina Arantes Fazenda, no livro “Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia”, diz “A crise que atravessa a civilização contemporânea, buscando uma volta ao saber unificado denota uma “patologia do saber”, efeito e causa da dissociação da existência humana no mundo em que vivemos. Isto nada mais é do que a tentativa de preservar em toda parte a integridade do pensamento para o reestabelecimento de uma ordem perdida.”

Nesse universo de inovações e vulnerabilidade, a prática da docência requer grande esforço, comprometimento e preparo dos educadores, para que se possa conduzir o plano de formação dos educandos, como defende Anísio Teixeira,  dando a cultura dele “a largueza, segurança e a perspectiva de uma visão global do esforço do homem sobre a Terra. Ele escreveu no passado, “O mestre do amanhã,  reunirá as funções de preceptor e sacerdote, ele será o sal da terra, capaz de ensinar-nos, a despeito da complexidade e confusão modernas, a arte de vida pessoal em uma sociedade extremamente impessoal”.

Finalizo enfatizando que os Ceffas e a Pedagogia da Alternância, com sua contemporaneidade metodológica, proveniente de uma mescla de teorias pedagógicas, filosóficas e neuropsicológicas, com sua práxis dialógica e dialética, traz em sua gênese a contextualização, a organicidade, a intensa relação e possibilidade de interação com o cotidiano dos educandos, das famílias, das lideranças, comunidades, dos territórios, por meio de seu sistema de gestão participativa e compartilhada, encontrarão estratégias e táticas para garantir aos povos do campo uma formação integral própria e apropriada a esse território imprescindível à manutenção e à preservação da vida na Terra.

Começando, portanto, pela discussão da importância da docência efetiva e das condições de trabalho dos educadores, no processo educacional destas Unidades de Ensino, com as entidades mantenedoras. Porque, como afirma Ivani Catarina, na crise “O antes permanece no depois, e vice-versa, mantendo suas marcas e interação dinâmica… Ela é também construtiva, já que permite a criação de nossos espaços para o futuro. Ou seja, ela é sempre uma fase cheia de perigos, mas também de possibilidades”.

*O texto é de livre pensamento da colunista*


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Sueli Valiato – *Reside em Jaguaré *Graduada em Letras – Licenciatura Plena em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa, pela UFES; *Pós-graduada em Educação do Campo pela FANORTE; professora de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II, no CEFFA de Japira, em Jaguaré-ES, integrante da Coordenação Geral e da Coordenação de Plano de Curso da RACEFFAES. / Foto: Divulgação.

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