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4 de dezembro de 2024

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Educação em saúde e suas perspectivas teóricas

A temática educação em saúde e suas interfaces na promoção da saúde trata-se de um estudo teórico-reflexivo com as concepções da carta de Ottawa, a pedagogia libertadora de Paulo Freire, o empoderamento e a cultura, aqui compreendidos como elementos-chave para a atuação do enfermeiro na educação em saúde em ações nos serviços de saúde.

Para esse percurso reflexivo, realizamos as inter-relações dessas vertentes teóricas e suas aproximações com as práticas de promoção da saúde. A partir do arcabouço teórico apresentado, podemos refletir sobre possibilidades de ampliação do cuidar, embasadas na premissa de que todos os momentos que compreendem interação com os usuários dos serviços de saúde devem ser considerados propícios para desenvolver ações de educação em saúde.

Educação em saúde é uma temática complexa em sua exequibilidade, devido às diversas dimensões que a compreendem: política, filosófica, social, religiosa, cultural, além de envolver aspectos práticos e teóricos do indivíduo, grupo, comunidade e sociedade.

A concepção de educação em saúde está atrelada aos conceitos de educação e de saúde. Tradicionalmente é compreendida como transmissão de informações em saúde, com o uso de tecnologias mais avançadas ou não, cujas críticas têm evidenciado sua limitação para dar conta da complexidade envolvida no processo educativo.

Concepções críticas e participativas têm conquistado espaços e compreendem a educação em saúde como desenvolvida para alcançar a saúde, sendo considerada como “um conjunto de práticas pedagógicas de caráter participativo e emancipatório, que perpassa vários campos de atuação e tem como objetivo sensibilizar, conscientizar e mobilizar para o enfrentamento de situações individuais e coletivas que interferem na qualidade de vida”.

Nesse sentido, educação em saúde não pode ser reduzida apenas às atividades práticas que se reportam em transmitir informação em saúde. É considerada importante ferramenta da promoção em saúde, que necessita de uma combinação de apoios educacionais e ambientais que objetiva atingir ações e condições de vida conducentes à saúde.

Para que a promoção da saúde efetivamente ocorra com a instrumentalização da educação em saúde, além da compreensão da temática, dos conceitos e dos aspectos que ela abrange, é imprescindível a associação dessa prática à comunicação, informação, educação e escuta qualificada.

A comunicação perpassa todas as práticas e ações, a qual inclui principalmente elementos de educação, persuasão, mobilização da opinião pública e participação social. A informação tem por base ajudar na escolha de comportamentos, na prevenção de doenças, no desenvolvimento de uma cultura de saúde e na democratização das informações.

A educação está presente no contato pessoal, em que qualquer e todo ambiente pode ser considerado propício para esse fim e, também, na impessoalidade através da comunicação de massa com o auxílio dos diversos canais da mídia e tecnologias como a televisão, o rádio e a internet. A escuta qualificada é uma habilidade fundamental a todo profissional de saúde e significa desenvolver a capacidade de ouvir atentamente as narrativas das pessoas, lembrando que o processo de narração de um fato pode permitir que a pessoa modifique a maneira de encarar e agir sobre a situação.

Carta de Ottawa 

Promoção da Saúde é um conceito amplo que vai em direção de um bem-estar global. Este conceito está associado a um conjunto de valores: vida, saúde, solidariedade, equidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação e campos de ação conjunta. Refere-se também a uma combinação de ações de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes saudáveis, reforço da ação comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais, e reorientação do sistema de saúde.

Um dos requisitos fundamentais para a saúde é a educação, assim, a promoção da saúde apoia o desenvolvimento pessoal e social através da divulgação de informações, educação em saúde e intensificação das habilidades vitais.

Desta forma, entre os cinco campos de ações propostas pela Carta de Ottawa, destaca-se desenvolvimento de habilidades pessoais, pois se pode trabalhar a autonomia do indivíduo, estimulando sua capacidade com um variado rol de estratégias de educação em saúde, dando ênfase em programas educativos voltados para os riscos comportamentais e hábitos passíveis de mudança.

Essas tarefas podem ser realizadas nas escolas, domicílios, locais de trabalho e em outros espaços comunitários. As ações devem se realizar através de organizações educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, bem como pelas instituições governamentais.

A pedagogia libertadora de Paulo Freire, que propõe a emancipação e a autonomia do sujeito, teve como proposta inicial a alfabetização de jovens e adultos e, paulatinamente, foi sendo utilizada e considerada uma importante metodologia para trabalhar a promoção da saúde. Esta proposta pedagógica libertadora e problematizadora ultrapassa os limites da educação e passa a ser entendida também, como uma forma de ler o mundo, refletir sobre esta leitura e recontá-la, transformando-a pela ação consciente.

A concepção de educação como um processo que envolve ação-reflexão-ação, capacita as pessoas a aprenderem, evidenciando a necessidade de uma ação concreta, cultural, política e social visando “situações limites” e superação das contradições. Assim, a relação entre educação em saúde e a pedagogia libertadora, que parte de um diálogo horizontalizado entre profissionais e usuários, contribui para a construção da emancipação do sujeito para o desenvolvimento da saúde individual e coletiva.

Nesse quadro, destacam-se dois tipos de empoderamento na educação em saúde: o psicológico e o social/comunitário. O psicológico resgata potencialidades individuais para que a pessoa tenha maior controle sobre sua própria vida. O social é um processo que conduz a legitimação e dá voz a grupos marginalizados e ao mesmo tempo remove barreiras que limitam a produção de uma vida saudável para distintos grupos sociais.

Diante das relações teóricas entre educação em saúde, promoção da saúde, empoderamento e cultura, e do entendimento do papel dos enfermeiros, frente as suas ações de educação em saúde, para a promoção da saúde, faz-se necessário que se apropriem da compreensão teórica que envolve essas temáticas.

A partir desse ponto, torna-se necessário uma postura crítico-reflexiva, comprometida e voltada para o outro. Todos os momentos que envolvem interação com e entre as pessoas usuárias dos serviços de saúde, devem ser considerados propícios para desenvolver ações de educação em saúde. Como exemplo, destacam-se: consultas, procedimentos técnicos, ações da assistência de enfermagem, ações coletivas como os grupos, salas de espera e outras não tão formais, mas onde existe possibilidade de estabelecer o diálogo. Para que essas ações educativas sejam efetivas e relevantes, é necessário ainda, resgatar os princípios da comunicação, informação, educação e escuta qualificada.

 

*O texto é de livre pensamento do colunista*


Samuel J. Messias – *Mestre em Educação ( Florida University- USA) – *MBA em Estratégia Empresarial – *Especialista em Políticas Públicas – *Especialista em PNL – *Especialista em Empreendedorismo Circular – *Gerente de Projetos Especiais na ADERES – *Prof. Convidado na Florida University – USA.

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