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Educação emocional: Um novo paradigma pedagógico?

Imagem: Divulgação. Professor Samuel J. Messias.

O objetivo da educação emocional não está centrado na mensuração da inteligência, mas sim, na sua otimização; a partir da educação das emoções.

Constitui-se num processo complexo de construção permanente, originado no seio da família, passando pela escola e continuando por toda a vida. No entanto, não pode ser vista como mais um tipo de autoajuda ou uma receita que transforma todos os problemas em soluções.

Stephen J. A. Gould afirma em seu livro “A falsa medida do homem”, que “não há nada em medições matemáticas que garantam a possibilidade de avaliar a inteligência de um indivíduo” (Gould in Smole, 1996,19). E essa parece ser a tendência da ciência moderna com relação a visão psicométrica da inteligência, ao questionar a validade dos testes de Q.l. (quociente de inteligência) e da análise fatorial.

De igual forma, no próprio meio científico, admite-se que houve um entusiasmo excessivo em relação a tais testes. E essa aparente negação de paradigmas parece ter levado os pesquisadores a conceber novos encaminhamentos para a questão da inteligência e, consequentemente, para a aprendizagem.

E essa nova visão acerca da inteligência é hoje fundamentada, principalmente, nas teorias de Haward Gardner (Inteligências Múltiplas) e de Daniel Goleman (Inteligência Emocional). O objetivo dessas teorias não está centrado na preocupação em mensurar a inteligência, mas sim, em otimizá-la. E isso implica, segundo a teoria de Gardner, na observação das fontes naturais de informações (do próprio meio social), como mecanismos de desenvolvimento das capacidades importantes para a vida. Da mesma forma, Goleman concebe as emoções como instrumento de aperfeiçoamento da inteligência.

Assim, o espectro de competências concebidas pela teoria das inteligências múltiplas (as sete inteligências inicialmente concebidas e uma oitava inteligência – a naturalista – que o autor, hoje já admite como possível ) e a emoção, da teoria da inteligência emocional, de certa forma, originaram a chamada “educação emocional”.

Desse modo, a educação emocional, certamente, não pode ser vista como um fenômeno exclusivamente escolar, mas em um processo de construção permanente, junto ao seio familiar, em diálogo com a escola e se estendendo por toda a vida. E isso fica bastante evidente, considerando que o principal objetivo deste novo paradigma tem como premissa o crescimento emotivo-intelectual do ser humano.

Educação emocional

A partir do evento das teorias de Daniel Goleman (Inteligência Emocional) e de Haward Gardner (Inteligências Múltiplas), houve o desencadeamento de uma verdadeira reviravolta nos estudos acerca da inteligência e da emoção.

Assim, falar em educação emocional implica, necessariamente, numa análise do contexto dessas duas teorias. Embora sejam teorias com formulações aparentemente distintas, existe uma correlação muito estreita entre ambas. Talvez, a maior diferença entre elas esteja no fato de que Goleman dá um detalhamento muito maior ao papel das emoções.

Para entender o conceito de inteligência emocional, é preciso que se tenha uma concepção bastante clara em relação à inteligência e à emoção. A partir do século XVII, os psicólogos já admitiam a divisão da mente em três partes: cognição, afeto e motivação.

A cognição engloba a memória, o raciocínio, o julgamento e a abstração. O afeto constitui-se de funções como : as emoções em si, o humor é as sensações. E, finalmente, a motivação refere-se a instintos biológicos ou a comportamentos adquiridos através do aprendizado.

Durante muito tempo, a emoção foi concebida como uma força altamente irracional e desagregadora, totalmente contrária à razão. Entretanto, nas pesquisas a respeito das emoções, essas são concebidas como um verdadeiro estímulo à cognição.

Todavia, é inegável que, em algumas situações, certas atitudes ligadas a emoção podem realmente ser extremamente negativas e ter efeitos desagregadores do pensamento. Porém, num grande número de situações, circunstâncias que provocam reações emocionais, constituem-se numa contribuição importante para o pensamento (inteligência).

Todas as pessoas tendem a manifestar algum tipo de reação diante de uma determinada situação. No entanto, a reação apresentada, certamente, não será a mesma para todas as pessoas. Diante de algumas situações, especialmente das mais desagradáveis (como as que despertam o medo, por exemplo), é normal que se tenha uma reação extremada, com um tipo de resposta pouco racional, isso, porém, não constitui uma regra geral, pois muitas pessoas poderão apresentar reações bem elaboradas, ou seja, reações consideradas como lógicas para uma determinada situação a típica. E uma resposta positiva, em contrapartida a um fato negativo, decorre de uma postura “correta” quanto aos sentimentos.

Entretanto, também não pode ser desconsiderada a possibilidade de que o tipo de reação apresentada irá depender intrinsecamente de todo um contexto cultural e até ambiental. Testes recentes, aplicados por Pennenbaker, Rimé e Blankenship, corroboram a tese de que pessoas de climas mais quentes são emocionalmente mais “abertas” que as pessoas de climas frios. Esse fato, por si só, sugere possibilidades extremamente importantes no que tange ao tipo de reação para uma determinada situação.

E essa influência cultural e do meio onde a pessoa vive, somada ao conhecimento dos seus padrões individuais é que, muitas vezes, poderá permitir uma avaliação correta de uma reação e, conseqüentemente, de sua inteligência.

Contudo, não se pode incorrer numa análise reducionista, afirmando que tudo o que se relaciona com inteligência e emoção é inteligência emocional. Essa relação entre cognição e emboço é, também, muitas vezes, extremamente contraditória. E inegável que a emoção afeta o raciocínio de diferentes maneiras, porém, isso não significa que a pessoa se torna mais inteligente quando o aprendizado envolve sentimentos.

Do mesmo modo, não se pode dizer que a inteligência emocional se resume simplesmente a autocontrole, persistência ou capacidade de motivação. Esses comportamentos, isoladamente, podem não influir significativamente na qualidade das emoções e, tampouco na inteligência do ser humano. A rede de conexões entre a inteligência e a emoção sugere um grau maior de complexidade entre as capacidades emocionais e mentais.

O conceito de inteligência emocional, descrito por Peter Salovey e David J. Sluyter, no livro “Inteligência emocional da criança”, expressa bem essa complexidade : “Inteligência emocional é a inteligência que envolve a capacidade de perceber acuradamente, avaliar e expressar emoção; a capacidade de perceber e/ou gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento; a capacidade de compreender a emoção ; e a capacidade de controlar emoções reflexivamente, de modo a promover o crescimento emocional e intelectual” (Salovey e Sluyter, 1999,39).

Assim, observamos que a inteligência emocional não pode, simplesmente, ser entendida como a percepção e o controle da emoção; deve privilegiar, principalmente, a ação do pensamento sobre o sentimento. Além disso, o conceito, descrito acima, reflete-se num conjunto relativamente amplo de capacidades.

Desse modo, talvez o papel mais importante da emoção esteja na sua função de facilitar o ato de pensar, ou seja, na capacidade de gerar pensamentos com um certo planejamento, criando a possibilidade de considerar, cada vez mais, um número maior de perspectivas. A tendência, segundo os pesquisadores, é de que essa capacidade se desenvolva, gradativamente, com o amadurecimento da pessoa.

As teorias da inteligência emocional e das inteligências múltiplas, sem dúvida, derrubaram muitos mitos. Talvez o principal deles seja o determinismo apregoado por muito tempo, em relação a questão da inteligência. Porém, assim como derrubou mitos, por outro lado, certamente criou outros. Isso talvez se justifique, em parte, pela subjetividade da própria ciência (nesse caso, da psicologia e da pedagogia). Desse modo, é perfeitamente admissível que uma teoria, por mais perfeita que possa parecer, provavelmente, terá sempre um caráter de obra inacabada.

Com relação a educação emocional, talvez o maior problema esteja justamente na expectativa que se cria em torno de um novo paradigma: que ele seja a solução para todos os problemas existenciais do homem. Decorre daí, a ânsia do homem na busca desenfreada por um protótipo ideal, por uma obra pronta e acabada, devidamente corroborada pela ciência. A incerteza é, sem dúvida, perturbadora e angustiante; todavia, a verdade, muitas vezes, pode ser falaciosa.

No entanto, a educação emocional, cientificamente construída e operacionalizada com responsabilidade, certamente poderá contribuir em muito para com a pedagogia.

 

*O texto é de livre pensamento do colunista*


Samuel J. Messias – *Mestre em Educação ( Florida University- USA) – *MBA em Estratégia Empresarial – *Especialista em Políticas Públicas – *Especialista em PNL – *Especialista em Empreendedorismo Circular – *Gerente de Projetos Especiais na ADERES – *Prof. Convidado na Florida University – USA.

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