O desenvolvimento humano é algo complexo e demanda esforços também humanos para o seu aprimoramento. De todas as premissas das quais se pode partir, uma parece de incontornável necessidade para o desenvolvimento de qualquer esforço educacional: ninguém nasce portador da virtude. Outra premissa, incontornável, é a de que, a virtude é uma habilidade ética, inerente ao o humano, suscetível de ser ensinada.
Se existem inclinações humanas constatáveis em toda criança ou adolescente em formação, não é verdadeiro afirmar que todos estão predestinados ou ao bem, ou ao mal; pessoas se constituem, em contextos sociais específicos, e são, em grande parte, mas não exclusivamente, condicionadas por seu contexto social-econômico.
Nesse arranjo, a personalidade será, portanto, ao longo do percurso escolar, uma resultante de impulsos internos e estímulos externos.
Assim, a educação deve ser capaz de cultivar, nas variadas personalidades dos educandos, nas variadas experiências por eles acumuladas, nas diversas origens sociais e econômicas, das quais partam em suas existências individuais e familiares, os devidos incentivos necessários para que brotem as qualidades humanas para a vida social.
Certamente, a escola, no contexto pós-moderno, está encolhida, porque desafiada, em sua incapacidade de produção de sujeitos capazes de reflexão, uma vez que outros atrativos circundam a escola desbaratinando sua capacidade de oferecer respostas à complexidade da vida individual, da vida familiar e da vida social.
A subjetividade fragilizada da sociedade pós-moderna está profundamente ameaçada em sua capacidade de emergir do anonimato, da inconsciência e da reificação de sua condição pelo consumo, e se acovarda crescentemente ante à própria autonomia. Autonomia é, fundamentalmente, em seu traçado interior, liberdade. O educando deve ser estimulado a perceber esta liberdade e a reagir a ela quando necessário.
Todo um conjunto de pressões extraescolares tornam a dinâmica interna da vida intraescolar mais complexa de ser pensada, avaliada e contornada por gestores e educadores. Este conjunto de pressões vai da atração que aparatos como o second life, a internet e as telemanias criam na consciência dispersiva da juventude de hoje, até questões relacionadas a desemprego, falta de perspectiva profissional para adolescentes e jovens universitários, desagregação familiar, impunidade perante as leis e violência escolar.
Diante disso, todo docente que esteja preocupado com um projeto de escola crítica e capaz de preparar para a vida social, deve estar consciente de que seu papel é um papel de resistência.
A resistência implica na aderência do docente a todo tipo de incentivo formador e que seja capaz de, apesar do climatério do entorno, gerar condições de: a) sucesso do processo pedagógico; b) permanente confirmação de seu estatuto de educador e formador, em contraste com as condições que negam dignidade e profissionalismo à carreira; c) vocacionar-se pela humanidade; d) utilizar o potencial atrativo de recursos pedagógicos para avançar na prática de transmissão do conhecimento; e) informar-se permanentemente e ser capaz de oferecer uma visão que articula o curricular ao extracurricular, de acordo com a realidade do aluno.
A tarefa de formar, e não meramente informar, é isto, um desafio que se completa por uma relação dialética com os diversos trânsitos da vida social. A capacidade crítica se adquire com permanente olhar dedicado aos deslocamentos da vida social, cuja consciência histórica deve ser trazida à visão do aluno, não importando a disciplina a ser estudada. Ciências naturais e ciências humanas estão envolvidas num mesmo grande ambiente de produção de condições de possibilidade da vida humana: a sociedade.
Portanto, deste laboratório de experiências humanas se extraem os elementos para o desenvolvimento de olhares múltiplos sobre a atualidade dos processos de inclusão de jovens no cenário histórico de seu tempo. Se a biologia pode instigar à preservação ambiental, se a matemática pode instigar a calcular a existência do outro, se a geografia pode provocar a perceber na diversidade uma forma de garantia do múltiplo etnográfico… estas são questões a serem enfrentadas pelos docentes e pelo projeto escolar, numa dinâmica onde a estrutura favorece a função.
A educação transformadora e emancipatória é aquela em que as escolas, pais, docentes, autoridades públicas, profissionais, gestores e a sociedade em geral, primam pela construção de um olhar crítico e emancipatório de crianças e adolescentes.
Nesse sentido, a educação escolar não poderia, diretamente, realizar a emancipação da humanidade, mas se configura como uma importante superestrutura para este fim, quando se considera sua potencialidade para a promoção da apropriação do conhecimento humano transformando pessoas autômatas em autônomas.
**O texto é de livre pensamento do colunista**
Samuel J. Messias – *Mestre em Educação ( Florida University- USA) – *MBA em Estratégia Empresarial – *Especialista em Políticas Públicas – *Especialista em PNL – *Especialista em Empreendedorismo Circular – *Gerente de Projetos Especiais na ADERES – *Prof. Convidado na Florida University – USA.