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Coluna Letrados
Por Sueli Valiato/ professora de Língua Portuguesa e Literatura.
Desde a nossa fecundação, nós seres humanos somos constituídos e constituintes de relações de interdependência. No ventre de nossa mãe já experimentamos a necessidade e a fragilidade da relação de independência. Mãe e feto dependem um do outro. Entretanto, neste processo, há partes que cada um desenvolve independentemente. Criando independência dentro de um contexto de total dependência, pois, qualquer contratempo que ocorra com a mãe afeta o feto, assim como adversidades que por ventura acometam o feto afetarão mãe, de maneira que promova o desenvolvimento de ambos ou ceife a vida de uma das partes ou das duas: mãe e feto, relevando-nos que nossa existência está predestinada à relação de interdependência.
Nós seres humanos não somos seres isolados, estamos conectados uns aos outros numa relação de reciprocidade e de auxílio mútuo, que proporciona o nosso crescimento e evolução. Estamos sempre juntos e separados, em tempos e espaços iguais ou diferentes, a nossa própria maneira, que em síntese, é a maneira de um ser humano ser.
Ao longo da história, crescemos e experimentamos diferentes graus de independência relacionados a vários aspectos: mental, emocional, físico, econômico, intelectual, espiritual dentre outros. Atualmente, estamos no tempo do eu penso, eu quero, eu posso, eu consigo e não preciso de ninguém. E com isso estamos nos desconectando brutalmente dos outros seres humanos.
A tecnologia que possibilita uma infinidade de conexões, não tem nos aproximado. Ao contrário, tem marcado nossa existência pela pressão, distanciamento, superficialidade, pressa, impaciência, julgamentos, intolerâncias e polarizações. Estamos vivendo nas bolhas… Precisamos retomar a consciência de que vivemos em sociedade e nossas maiores conquistas se dá no relacionamento com os outros.
Nesse sentido, Ana Paula Peron, afirma que “a interdependência é uma escolha das pessoas independentes, pois, é preciso ter autonomia para escolher agir assim”. Reconhecer a nossa conectividade com todos os seres humanos, assim como com todas as espécies não humanas e com o meio ambiente, vendo-nos como seres de inter-relações e interdependências, não faz de nós seres fracos, mas sim, seres providos de discernimento e maturidade.
Acreditamos que vivemos sozinhos porque estamos assentando nossa vivência em paradigmas individualistas, reducionistas e fragmentados. Esses paradigmas nos levam ver as pessoas de forma separadas e não conectadas. E da mesma maneira vemos a nossa relação com a natureza. E sob esses paradigmas fomos educados e estamos educando as novas para aceitar essa narrativa individualista e desconexa, mesmo sabendo que isso não nos levará a uma vida plena.
Neste tempo de realidade líquida, em que as mudanças são rápidas e a cada dia mais nos deparamos com ameaças existenciais, precisamos ter a interdependência como ponto de partida para o nosso desenvolvimento, para que priorizemos o bem-estar de todos, potencializando entre nós valores fundamentais como equidade, dignidade, compaixão, integridade e conectividade.
Olhemos ao nosso redor e nos indaguemos: O que há de nós no que nos cerca? Das coisas que nos circundam, que usamos, ingerimos quais nós produzimos? Onde está a nossa independência nesse contexto? Se tudo que somos e temos dependeu também de outrem? Portanto, a nossa independência só se materializa por meio das relações de interdependência com os outros seres humanos e com a natureza.
O apostolo Paulo quando escreve em 1º Coríntios 12.12-20: “O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não pertenço ao corpo, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. E se o ouvido disser: Porque não sou olho, não pertenço ao corpo, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria a audição? Se todo o corpo fosse ouvido, onde estaria o olfato? De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, há muitos membros, mas um só corpo”, isso exemplifica bem a importância e a necessidade inerente a nossa espécie da interdependência entre seres humanos, os não humanos na nossa sociedade e no planeta Terra, porque ninguém vive sozinho!
*O texto é de livre pensamento da colunista*
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