Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39
Entrevista/Personalidade
Por: José Salucci – Jornalista e diretor do Merkato.
Os filhos têm a mania ou uma consciência condicionada de seguirem os caminhos dos pais, ou pelo menos desejam, no âmago da filiação, se assemelharem as suas imagens de autoridade.
O coração grande que vem aí, se emocionou durante a entrevista, realizada numa segunda-feira, no Hotel Comfort Suite, na Praia do Canto, onde ele abriu o coração, a sua história de vida profissional, os percalços, as tentativas e as dolorosas renúncias, para em dias atuais ser um dos pilares donos do Hotel Comfort Suites e Sleep Inn, sociedade junto à sua irmã Claudia, e o seu pai Lamir.
Nascia no dia 14 de setembro, de 1976, em Vitória, Marcelo Torres, esposo da Elizângela, pai do Bento e Benício. Com os seus 48 anos, é engenheiro civil, empresário, dono da construtora Torres Engenharia, além de ser presidente do Porsche Club ES, um clube de carros; hobby do ‘menino’.
No ano em que Marcelo nasceu – Steve Jobs e Steve Wozniac lançaram a Apple Computer, na Califórnia, E.U.A; vejo um mistério de empreendedorismo na ótica da astrologia.
Em abril de 76, a banda nova-iorquina de punk rock “Ramones” lançou o seu primeiro álbum de estúdio, enquanto que Marcelo, na adolescência, junto com os coleguinhas, criaram a banda de rock “Unha Encravada”, até fizeram um clip na varanda da casa do tio Lamir, onde o galinheiro da vizinha sofreu um ataque frenético dos jovens roqueiros, acompanhe a entrevista.
Marcelo esteve à vontade para falar, pontuou um momento de renúncia em sua vida: deixou de morar com seus pais em uma cobertura na Praia do Canto, seu quarto era anexo a uma varanda, pensando em metros quadrados, o reduto era maior do que um bom apartamento, então resolveu deixar o conforto e foi residir em um ap de um pouco mais que 50 metros. Também vendeu sua Mercedes e foi andar de Saveiro, tudo para se encontrar com a liberdade, de querer abrir o próprio negócio, não ser mais visto como “o filho do dono”, e, também porque o luxo o incomodava, inibia seu crescimento.
E traçando mais um paralelo entre datas do ano do seu nascimento, foi em 1976, que Belchior compôs “Como nossos pais”, canção consagrada na voz de Elis Regina. Marcelo Torres procura caminhar os passos de seu pai Lamir: “Ainda somos os mesmos… E vivemos como os nossos pais”.
Enquanto muitos filhos são pródigos, há um que é prodígio. Conheça, agora, uma linda história de empreendedorismo familiar, força de vontade, renúncia, humildade, resiliência, otimismo, respeitabilidade e muito mais predicados, e um ensinamento: antes de possuir um status de grande empresário, é necessário ter um grande coração.
1 – Olá, Marcelo Torres! Antes de começarmos a falar de você, apresente um pouco da história do seus pais, aquilo que te inspira a ser um homem de valor.
Tudo começou com a base da família. Minha mãe, Alzira Abreu Torres, é pedagoga, ministrou aula em escola pública, também uma mãe artística, ela pinta quadros. Meu pai, nasceu em Inhapim-MG, cidadezinha. Meus avós tinham um casarão lá; meu pai perdeu o pai dele, meu avô, aos 4 anos de idade. Então, minha avó tentou se virar para criar 5 filhos, alugou alguns quartos do casarão.
Devido as dificuldades financeiras, meu pai foi até, em um período, morar num orfanato, ele foi pobre. Quando jovem, serviu o Exército, para absorver mais conhecimento, mas também pra ter pra onde ir. Ele também foi alfaiate, conseguiu fazer um curso técnico em eletrotécnica. A história dele é muita bonita pra chegar onde chegou.
Também se formou em Administração, na Ufes. Trabalhou na CST, onde chegou até dormir no quarto dos fundos da empresa, momentaneamente. Até que ele chegou a trabalhar na Cesan por muito mais tempo, onde ele teve a ideia de construção civil.
Mas o que eu queria contar é que, morando em Inhapim, um dia ele estava indo para o norte do Brasil, lá teria uma oportunidade de crescimento, não sei o porquê, ele resolveu passar pelo Espírito Santo, com uma malinha, 2 calças e 4 camisas, ele sempre foi muito simples. É aí que começa a história na CST, Cesan, até chegar ser dono dos hotéis Comfort Suite e Sleep Inn.
2 – A história do seu pai te motiva a ser um empresário, conta pra gente o início do trabalho do empreendedor Lamir, que plantou em você uma raiz forte de dignidade e trabalho.
Na Cesan, ele teve a ideia de trabalhar com construção civil. Ele construiu a casa em que eu nasci, em Santa Lúcia, Vitória. Então, viu que tinha condição de construir, sempre foi muito planejador.
Ele tocava a obra da casa e trabalhava na Cesan, e dentro da Cesan, ele conseguiu um grupo de amigos para investir num prédio, onde meu pai faria a obra para condomínio fechado, ou seja, as pessoas compraram os apartamentos e ele construiu um prédio, com o recurso dessas pessoas, ele era remunerado na administração desse trabalho, isso foi em Guarapari. Chegou a fazer o primeiro prédio, e logo depois ele fez um na esquina oposta, Edifício Diamantina, na Praia do Morro.
Então, eu vim dessas raízes, meu pai conquistando tudo… Meu pai começou essa construção civil dessa forma, como administrador de condomínio fechado, mais pra frente, ele conseguiu ganhar uma concorrência na Vale, para construir um condomínio no final de Camburi… É muita responsabilidade, você ter o dinheiro das pessoas e tocar a obra até o fim, ter que dar tudo certo, eu cresci vendo papai trabalhando com isso.
3 – O que você admira no seu pai diante dessa história?
A coragem, a visão que ele teve. Eu me emociono muito (lágrimas nos olhos). Essa história, eu tenho que levar para o resto da minha vida, por isso é importante falar dessa história, antes de começar a entrevista sobre a minha própria vida. É bom falar desses momentos difíceis, de onde ele saiu, para eu sempre ter que voltar para a realidade. A vida é real, a gente precisa de relembrar nossas raízes e ver que a vida nunca foi e nem será fácil.
Eu entendo que, tudo que a minha família tem hoje, é necessário agradecer, também ter respeito pelas pessoas com quem a gente se relaciona no trabalho, porque o dinheiro a gente tem que levar muito a sério, a gente pode perdê-lo a qualquer momento, só não perdemos o capital cultural.
4 – Agora vamos falar de você. Quem é o Marcelo? Seus gostos, personalidade, curiosidades, coisas que queira dizer aqui?
Bom… Leio pouco, mas gostei muito de ler a biografia do Eike Batista, a história dele com o pai, de ter extraído do pai dele a vida empresarial, se assemelha com a minha.
Uma curiosidade… Eu sempre tive um lado muito artístico, puxei esse lado da minha mãe. Eu tive uma banda chamada “Unha Encravada” (risos), tocava guitarra. A gente ensaiava na varanda lá de casa; tem um clip que a gente produziu… Tocando… Quebrando o galinheiro da vizinha… A gente tocando em cima da caixa d’agua, dando voadora no galinheiro (muito riso), mas meu pai me trouxe com essa realidade empresarial.
Tem uma coisa interessante, até que me leva a ter esse lado empresarial de ir pra frente, de querer conquistar. Quando eu era criança, fazia peça teatral na rua da minha casa, em Santa Lúcia, era uma rua sem saída, eu chamava as pessoas da rua, a empregada trazia o bolo, eu criava a peça… Uma cena de briga no bar, uma coisa meio faroeste (risos). Também vendinha as minhas revistinhas da Turma da Mônica na esquina de casa, além das frutas da mamãe, então isso me acompanha desde a infância essa personalidade empreendedora e artística, ainda bem que a banda acabou e me tornei dono de hotel.
Falando em música, gosto muito de música pop, gosto de ouvir rádio, amo Lulu Santos, rock nacional, Jota Quest, Skank, Legião Urbana… Sou eclético.
E, também, assisto muito filme – filmes Star Wars, filmes que me tiram da realidade pra dar uma relaxada: comédia romântica pra dar gargalhada, pra desconectar. Também curto filme romântico, de história e documentário.
Pra concluir, sou Flamengo.
5 – E a história dos seus estudos, como foi o caminho da sua formação?
Os meus estudos são frutos da minha mãe, porque ela teve paciência de sentar ao meu lado pra me acompanhar, isso marcou minha vida.
No 2º ano do ensino médio prestei vestibular para Administração, passei, mas não fiquei. Eu decidi fazer Engenharia Civil por causa do meu gosto da matemática e física. Tentei engenharia na Ufes, pro meu pai só servia a Ufes, fiquei em quarto suplente. Também passei no Rio de Janeiro, em Botafogo. Tinha um grupo de amigos enveredando para o lado das drogas, então senti saudade de casa e medo, por isso resolvi voltar.
Na volta, fiz cursinho no Darwin – passei em Valadares, na UniVale. Fui pra lá, depois de seis meses pedi transferência para Ufes, consegui e terminei minha engenharia aqui.
Eu tive um professor italiano, ele era presidente da Estação Aero Espacial Brasileira… Ele achava que a gente só tinha a matéria dele pra fazer (risos). Na Ufes, a primeira prova que fiz valia 10. Eu tirei 0,6. Eu falei pra mim mesmo: tenho que estudar. Eu estudei muito… Me dediquei.
6 – Durante o período de estudante de Engenharia Civil, você trabalhou somente com seu pai, conta a experiência.
A Quintela Torres foi construída em 1986, a construtora do meu pai, eu entrei em 1996, em 1992 ela começou a ganhar dinheiro, a deslanchar e ser destaque no mercado.
Nessa época, a empresa conseguindo destaque, eu comecei a trabalhar como auxiliar de almoxarife, aprendi tudo de suprimento da construção civil, conexão, lajota, madeira, tipo de prego, parte elétrica. Quando eu trabalhei como motorista, eu aprendi onde comprava o material e o nome do material. Como office boy, comecei a entender dessa parte bancária e de cartório e Prefeitura.
Na segunda etapa, eu comecei a trabalhar na manutenção, aqui eu aprendi o que era construído errado dava errado. Trabalhei na fundação do Novo Hotel, antes de se chamar Comfort Suite. Ele foi inaugurado em 2001, eu fui auxiliar de engenheiro na construção do hotel.
E na minha trajetória na empresa, em nenhum momento me senti com vergonha por ter trabalhado em funções iniciais. Dali foi o começo da minha independência.
Mas, algo que me incomodava… Trabalhando junto ao meu pai, eu sempre fui visto como a sombra dele. As pessoas olhavam… Diziam: “É o filhinho do papai”. E não era assim, eu só pude ter um carro se eu tivesse passado na Ufes, entre os degraus que mencionei que tive que galgar na empresa.
7 – Após essa maturidade alcançada você resolve criar sua própria empresa, sair do ninho, o que gostaria de dizer sobre esse momento?
Eu podia muito bem ter continuado na construtora do meu pai e estar sempre à sombra dele, eu queria fazer minha carreira solo, e te falei que desde a infância eu era pra frente, personalidade empreendedora.
Quando eu me via muito confortável, já não havia mais sentido de estar ali. Tanto que deixei de morar com eles na cobertura do prédio, na Praia do Canto. Ele construiu toda essa história, ele ainda tinha muita energia e não estava preparado para passar o bastão pra mim. Fui atrás de mostrar pra ele que eu tinha condição, queria provar pra mim também. E outra coisa, sempre sendo visto como o ‘filho do dono’, incomoda pra caramba! Eu tenho uma identidade. Eu sou uma pessoa.
Por isso vendi minha Mercedes e comprei uma Saverio, para investir no meu negócio… Renunciei outras coisas… Montei a Torres Engenharia, em 2012, mas antes abri outras empresas. Fui pra Cariacica, na Expedito Garcia, ter um espaço saudável de um produto de saúde, quase abri uma loja de produtos de casa, também cheguei a ter uma empresa de máquinas de vending machines. Depois vendi a empresa valorizada, então fui um bom empreendedor. Mas foi na engenharia mesmo que vi que é o meu negócio, porque faço com maior qualidade.
8 – Atualmente, você está gerindo o Hotel Sleep Inn e o Comfort Suite, o que destaca nesse trabalho?
Há cinco anos eu voltei a me envolver com a Patrimóvel, empresa que gerencia os dois hotéis, comandado por mim, minha irmã Claudia e meu pai. Essa empresa é cem porcento familiar.
Na Patrimóvel, eu fui diretor do Sindicato de Hotelaria e, agora sou diretor da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) do Espírito Santo. Eu trouxe muitos patrocinadores pra trazer recursos pra dentro da associação.
O Sleep Inn chega a ter 8 mil pessoas mês, e o Comfort 6 mil ao mês. O hotel é a porta de entrada para o turismo, então é o que procuro fazer neste trabalho.
No Comfort, a gente sempre está pensando na experiência do cliente: ser bem atendido, ser chamado pelo nome, ter uma boa indicação do ponto turístico, boa indicação culinária. Já o Sleep Inn é um pouco mais inteligente, um pouco mais direto, pensando em entregar para o cliente um bom lugar para dormir, um bom lugar para tomar banho, comer de forma segura.
Juntando os dois hotéis, temos ao todo 426 quartos.
9 – Você buscou o reconhecimento do seu pai, após conseguir, o que tem a dizer?
O reconhecimento maior foi quando ele me chamou para participar da reunião da construção do Sleep Inn, ele me pediu opinião.
Nos dois primeiros anos, ele foi diretor junto comigo, aí depois passou pra mim. Ele me elogiou, e, naturalmente, esperei por isso.
Minha vida inteira, eu tinha expectativa de ser reconhecido por ele, e parece que a coisa só aconteceu depois que eu deixei a coisa de lado. Quando você faz pra agradar a outra pessoa, você acaba metendo os pés pelas mãos, agora quando você faz e para de pensar nisso, é como mágica: começa a acontecer.
10 – Agradecimentos.
Eu tenho que agradecer muito ao Merkato, a sua pessoa maravilhosa, gostei muito de ter te conhecido.
Queria agradecer muito aos meus pais, por ter chegado até aqui, minha esposa Elizângela, por me apoia sempre; a minha irmã Claudia, que foi minha tutora, me auxiliou bastante, uma pessoa maravilhosa. E temos muita história pra escrever ainda.
Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39