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Coluna Letrados
Por: Giovandre Silvatece – Roteirista
Olá, leitor(a) da coluna Letrados! Neste mês completaram-se 66 anos do acidente aéreo que vitimou três astros do rock: Buddy Holy, 22 anos; Ritchie Valens, 17 anos e The Big Bopper, 28 anos. O incidente ocorreu no dia 3 de fevereiro de 1959, sendo que alguns anos depois desse dia fatídico, tal data ficou conhecida como “o dia em que a música morreu”, frase originária da música American Pie, gravada em 1971.
A música foi composta e interpretada por Don McLean, em que ele canta: “algo me tocou profundamente no dia em que a música morreu” – (something touched me deep inside, the day the music died), referindo-se ao dia em que soube da tragédia.
Em outra estrofe, ele canta: “aqueles bons e velhos rapazes estavam bebendo uísque e centeio, cantando: ‘este será o dia em que eu morrerei’ (Them good old boys were drinkin’ whiskey’n rye And singin’: this’ll be the day that I die), fazendo uma alusão à música “That’ll be the day”, composta por Buddy Holly e Jerry Allison, em que Holly cantara: “Porque este será o dia em que morrerei” (Cause that’ll be the day when I die).
A concepção de que a música morreu no dia daquele acidente advém, não somente pela tragédia em si, como também de situações e infortúnios ocorridos anteriormente, os quais, de certa forma, contribuíram para que se chegasse a esse entendimento, ainda que controverso, uma vez que o rock continua a se perpetuar nos dias de hoje.
Abandonos e escândalos
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Apesar de McLean utilizar a palavra “música” em sua frase, cujo termo abrange os mais variados gêneros musicais, muitos são aqueles que realmente consideram que o gênero rock’n’roll morreu no dia daquele fatídico acidente. Isso ocorre, não somente pelo fato de o rock ter perdido três ícones musicais da época num só momento, mas também pelas diversas situações envolvendo os principais representantes do rock da década de 1950, culminando num inevitável afastamento do cenário musical da época, deixando “órfãos” milhares de fãs que os acompanhavam em pleno auge.
Os afastamentos dos principais astros do rock da época ocorreram em face dos seguintes acontecimentos:
– Chuck Berry (1926 – 2017) – considerado o pai do rock, Berry foi preso após alegações de que ele teve relações sexuais com uma garçonete apache de 14 anos, tendo, posteriormente, cumprido um ano e meio de prisão.
– Little Richard (1932 – 2020) – apelidado de “O Arquiteto do Rock’n’Roll”, em outubro de 1957, durante um voo pela Austrália, Richard disse ter visto os motores do avião pegando fogo. Entendendo ser esse o sinal para que ele levasse uma vida mais regrada e que não mais cantasse músicas de caráter não religioso, ele se despediu da música e foi estudar teologia num College no Alabama.
– Elvis Presley (1935 – 1977) – apelidado de “O Rei do Rock’n’Roll”, devido às críticas de parte da sociedade da época, que o considerava um ícone rebelde e uma “má” influência para a juventude, em março de 1958, Elvis decidiu se alistar no Exército, mesmo no auge de sua carreira, permanecendo lá até 1960.
– Jerry Lee Lewis (1935 – 2022) – tido como o primeiro selvagem do rock’n’roll e um dos pianistas mais influentes do século passado, sua carreira desmoronou de forma meteórica quando, em 1958, ao chegar em Londres, um jornalista descobriu que Lewis havia se casado com Myra Gale Brown, filha de seu primo JW Brown, tendo ela apenas 13 anos de idade.
A contribuição e influência dessa turma na cultura rock dos anos 1950, e que se perpetuou através do tempo, foi imensa, o que se fez sentir ainda mais a sua ausência no cenário musical.
A domesticação do rock
O sentimento contido na música American Pie é de quem desfrutou o ritmo eletrizante do rock em seus primórdios e que sofreu com a ausência de seus ídolos no auge de suas carreiras. Mas o que se viu após a partida dos principais ícones do rock’n’roll foi uma tentativa dos produtores musicais, e da própria sociedade que via o rock como uma ameaça aos bons costumes, de “acalmar” os ânimos dos jovens. O rock então passou a ser menos agressivo, com letras que não mais simbolizavam a rebeldia da juventude.
Alguns anos depois, o rock voltaria a ter o seu aspecto contestador, mas também se renderia ainda mais ao comercial e à limitação artística imposta pelos produtores, comumente de olho na tendência musical do público de sua época.
Assim, temos que o verdadeiro espírito do rock’n’roll, que foi estampado nas letras das músicas desse intrigante gênero musical, teve seu início e fim, que foi desde quando Rock Around The Clock, gravado por Bill Haley & His Comets, conquistou os jovens quando fez parte da abertura do filme “Sementes da Violência”, filme lançado nos cinemas dos Estados Unidos, em 25 de março, de 1955, e que contribuiu fortemente para que a música de Haley e seus Cometas alcançasse o topo das paradas de sucesso por dois meses, até quando ocorreu o acidente aéreo mencionado no início deste artigo, ou seja, no dia 3 de fevereiro, de 1959.
Mas… O rock morreu?
Houve um movimento musical iniciado em meados dos anos 1950 e que se interrompeu no final daquela década. Esse movimento estava intimamente ligado ao seu público, aos jovens. No decorrer das décadas que se seguiram, mesmo não mais possuindo a característica revolucionária criada dentro do contexto histórico de quando surgiu, o rock continuou atraindo jovens pelo mundo inteiro. Então, vida longa ao rock’n’roll!!!
Contudo, ainda que se chegue ao entendimento que o rock’n’roll não morreu, vale lembrar que após Raul Seixas afirmar que o rock’n’roll morreu em 1959, Jô Soares, no seu antigo programa “Jô Soares Onze e Meia”, perguntou a Raul:
– “Se o rock morreu em 1959, você canta o quê?”
– Então, Raul respondeu: “raulseixismo.”
*O texto é de livre pensamento do colunista*
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