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27 de julho de 2024

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Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39 Empreendedorismo/Networking Por: José Salucci – Jornalista e diretor do Merkato Conhecimento ou ambiente? Qual desses dois valores você

O operário das artes

"A minha arte prova que eu existo, que eu estou vivo, que eu respiro. Prova que o artista é um operário" (Imagem: Divulgação)

Invista no Jornal Merkato! – Pix: 47.964.551/0001-39.


Entrevista

O Merkato inicia a série “Lideranças”. Na ocasião, serão entrevistados gestores que pertencem a alguma Organização da Sociedade Civil (OSC), como presidentes, fundadores e coordenadores.

O Terceiro Setor é um instrumento de empreendedorismo relevante de transformação social. Você irá conhecer histórias de pessoas que são verdadeiros agentes políticos interessados no ser humano, em transformá-los.

E para abrir esta série, o Merkato entrevistou um artista plástico. Ele vem do interior do Pará, da cidade de Dom Elizeu. Além de ser formado em Artes Plásticas, é Empreendedor Social, fundou a OSC, Casa de Rabisco. Agnóstico, por acreditar que todas as manifestações religiosas são culturais e o que há de espiritual está para além disso, o artista se definiu na entrevista como uma pessoa simples; transparente; muito amorosa; paciente, de acordo com a situação e um pouco estressado. “Eu faço minha vontade de explodir se tornar críticas para resoluções dos problemas” … “Transformo essa raiva em estratégia”.

Então, já deu pra notar como Rodolfo Tales Pinheiro Birchler, 33, é inteligente, decidido e cheio de ideias estratégicas, tanto para seu empreendimento profissional, quanto para o seu lado altruísta de empreendedor social.

Confira agora, leitor, uma jornada de muito empenho e dedicação de um artista que se preocupa em colorir vidas, transformando territórios de vulnerabilidade social em jardins frutíferos.

1 – Rodolfo, qual é a sua primeira memória artística?

A minha primeira memória de produzir alguma coisa estética foi no jardim de infância… Deram uma massinha pra gente… Eu fiz um caminhão. Era a representação do caminhão do meu avô, ele era caminhoneiro. Eu lembro que a professora mostrou pra minha mãe, então ela decidiu comprar massinha de modelar pra mim. E me lembro que a gente ia muito pescar nos rios. Eu sempre tive o hábito de pegar argila no fundo do rio, jogar em cima da pedra e sempre modelar alguma coisa. Sempre fazia um rosto, um bicho, um peixe. No início, eu era muito mais da escultura do que do desenho.

Quando eu vim morar no ES… Saí com 12 anos do Pará… Eu já gostava de desenhar. Volta e meia alguém me pedia para fazer um retrato, além dos desenhos que eu fazia para mim mesmo. Eu fazia muito desenho na época de escola, eu era o desenhista da sala.

2 – Por que decidiu estudar Artes Plásticas?

Porque eu queria pagar as contas com isso. Teve uma característica preponderante na minha escolha. À época do ensino médio, eu já desenhava… Eu gostava muito de universos épicos… coisas de folclore, eu gostava de pesquisar folclore diversos.

E quando falei para o meu pai que ia fazer Artes Plásticas, ele falou pra mim: “Pague suas contas com isso”. Essa frase norteou os meus dias dali pra frente. Eu já tinha esse pensamento, mas na hora que essa frase bateu no meu ouvido veio com um impacto maior do que se eu tivesse pensado nela sozinho. Então quando entro na faculdade, busquei em todas as matérias, além de me expressar artisticamente, como fazer isso virar um pagador de contas. Como isso viraria empreendedorismo em minha vida.

E voltando a falar do meu pai. Ele tem uma coisa que eu acho muito poético em relação a construção civil, ele é técnico de estradas. Ele diz que é um operário. O operário é aquele que opera e eu acho muito bonito esse termo operário, por conta dessa visão que ele tem. E eu peguei essa palavra para definir o que eu faço. Eu digo que sou um operário das artes.

3 – No período da faculdade, destaque estágios, projetos e outras ações que te ajudaram a formar o seu conhecimento.

Eu pintei muro quando estava no quarto período. Eu entrei em um projeto de extensão que se chamava “Entre comunidades”. A Marlene era gestora do projeto. Um projeto sensacional que levava a faculdade para as comunidades, na Grande Vitória. A gente fez ação em São Mateus. A gente fazia várias coisas, entre elas pintar muros. O primeiro muro que eu pintei foi na APAE.

Outra coisa que destaco é a vantagem do curso que fiz ser um bacharelado. A metade do curso era de matérias optativas. Então, eu peguei muita matéria no Marketing, no Jornalismo, peguei matéria no Áudio Visual. Mas, o que realmente me fez ter essa noção empreendedora, foi chegar nos espaços e aí começar a articular naquele espaço a pergunta: Como é que a gente ganha dinheiro com isso aqui? Então eu me inteirei mais em produção cultural e edital.

Nesse tempo eu trabalhei no Projeto Tamar, trabalhei como oficineiro na Prefeitura de Vitória. E quero destacar o estágio que fiz na Escola da Ciência – Biologia e História (ECBH), que fica no Sambão do Povo. Eu aprendi muito sobre o Espírito Santo, os costumes, a língua. Lá, eu fazia roteiros temáticos, contação de história, produzia cenários, pintei o aquário.

“O real não aparece muito esteticamente no meu trabalho, ele aparece mais no roteiro, como proposta. A ideia do realismo, pra mim, tem a ver com as questões sociais”. / Foto: Divulgação.

4 – E quando começou a ideia de criar uma OSC, de trabalhar no Terceiro Setor?

Eu sempre quis fazer algo pelos territórios de onde eu morava. Eu sou muito coletivista. Quando eu morei em Itararé montei um coletivo de artes. Depois fui morar em Caratuíra, lá, participei de um projeto de arte no bairro. Depois passei a frequentar um grupo de teatro, eu estava nessa missão de ter uma ideia para atuar em algum território. E eu fui tentando plantar essas sementes nos lugares onde eu passava. Nesse meio tempo, voltei para o Pará, duas vezes, e tentei vingar minhas ideias.

Quando fui morar em Alecrim, em Vila Velha… Eu estava voltando pra casa um dia, vi dois meninos sentados na calçada desenhando em um papel, eu puxei assunto com eles… Nessa época, o meu estúdio era no lugar onde eu morava. Me ofereci a eles para dar dicas de desenho. Foi sem pretensão, mas com o desejo de frutificar. No dia seguinte, os meninos foram lá, até que foi juntando 15 cabeças de adolescentes na minha porta. Montei uma oficina de desenho pra eles. Essas oficinas às crianças e adolescentes se tornou um projeto social, paralelamente, eu trabalhava com outras coisas. O nome da oficina era “Lápis, papel e ação”.

5 – E quando é que você pensou em se tornar, de fato, um empreendedor social?

Pensei em criar um projeto, de fato, quando as atividades da oficina ganharam uma proporção maior. Comecei no terraço da minha casa. Vamos chamar de “Casa de Rabisco”. Usei o espaço para ministrar as oficinas e já ponteando que isso virasse trabalho, não só pra mim e para as pessoas que eu convidava para ministrar as oficinas, mas também para os meninos que tivessem vontade de exercer a profissão. Então aí eu começo a buscar fontes pagadoras.

Sempre participei de editais nos projetos dos outros, agora, eu tinha o meu projeto, que tinha identidade, que tinha território. Ele tem tudo que é necessário pra virar projeto. Me inscrevi no edital do Cineclube, passei. E também passei em mais um edital.

6 – Rodolfo, você é um artista que, além de ter seu empreendimento econômico, você pensa em responsabilidade social, de onde vem isso?

Vem de formação familiar. Minha mãe tem muito dessa visão de ajudar o próximo e aí eu comecei a ter essa relação social com essas coisas. O que me fez começar a praticar essa militância social artística foi porque eu comecei a acreditar que ela valia muito mais a pena do que quando eu era militante político, já fui de movimento social. Eu sentia que eu estava fazendo coisas para outras pessoas e que nem sempre viravam pautas imediatas.

Eu achei que dava pra juntar o meu eu profissional, com minhas crenças socioculturais. Eu peguei essa energia que eu jogava em movimentos sociais e vim jogar em responsabilidade social. Hoje, no meu entendimento, não há diferença do Rodolfo empreendedor para o Rodolfo de projeto social, um faz o outro.

7 – Quais são as ações sociais que a Casa de Rabisco realiza ou já realizou?

A gente tem uma atividade que faz sucesso, que é a Rua de Rabisco. Na ocasião, a gente desenha a rua toda com giz. Também temos o Rabis Kids, uma oficina de desenho livre para crianças. A gente também faz o Cine Rabisco. A gente tá fazendo agora, o LAB Esboço, que é um formato de encontros, num formato meio oficina, meio grupo de estudo para potencializar a escrita de projetos culturais com os moradores do território.

“O desafio de ser um empreendedor social é mostrar a importância desse tipo de atividade para as pessoas do território”. / Foto: Divulgação.

8 – O que essas ações sociais retornam para você como pessoa e como artista?

Vê as coisas brotando e florindo, isso me dá uma sensação tremenda. E, também, lembro do meu tempo de faculdade, onde eu era um desbravador, inclusive, volta e meia a faculdade me chama pra falar sobre isso, dessa vivência de trampo.

No início dos trabalhos sociais teve um grupo de cinco adolescentes que me perguntaram:

– “Por que você perde tempo com a gente e não vai fazer o seu trabalho de artista”?

– Respondi: “Eu tenho meu trabalho de artista, mas eu também tenho meu trampo com vocês. Vê vocês indo pra frente também é um resultado que eu quero colher. Fazer a vida de vocês, enquanto estudo e trabalho darem certo, também é uma realização pra mim”.

Não quero ser lembrado só por causa da minha arte, mas como uma cara que faz um trabalho que transforma a vida das pessoas.

9 – Onde você pretende chegar com a Casa de Rabisco?

Eu quero que a Casa de Rabisco, futuramente, enquanto OSC, seja gestora de um CRJ. Eu quero que a gente tenha um espaço artístico cultural, onde a gente possa desenvolver atividades formativas, de vivência e de expressão. Eu quero que a Casa de Rabisco crie festivais, que entre no calendário de Vila Velha.

10 – Uma forma de buscar apoio financeiro é através de editais. Destaque aqueles em que teve aprovação.

Fomos aprovados no Rede Cultura Jovem; no edital Território Criativo, nesse eu passei por duas vezes. Também o edital do Cineclub, concluí ano passado e o Mural; Lei Paulo Gustavo, Lei Paulo Gustavo do município de Alfredo Chaves e o edital de Artes Visuais da Prefeitura de Vila Velha.

Em 2023, eu passei em quatro (04) editais. Este ano, eu executo o Rabisca Anima e o Território Criativo, com o nome do projeto que criei: “Território de afeto: uma cartografia de olhares”, que tem início dia 24 de fevereiro, indo até agosto deste ano.

11 – O Merkato agradece sua participação. Deixa sua palavra final sobre arte, empreendedorismo e responsabilidade social?

Fazer arte é viver. E viver é arte do encontro. Embora aja muito desencontro na vida, como disse Vinícius de Moraes (risos), mas graças a esses encontros que é possível fazer arte.

A possibilidade de criar um ambiente criativo e poder incentivar tantas mentes criativas a desenvolverem suas ideias. Essa felicidade de plantar o jardim e vê-lo florescer.

A parte empreendedora, enquanto negócio criativo, é poder remunerar a galera que tá envolvida nisso. A gente tem uma meta na Casa de Rabisco de conseguir passar uma bolsa pra todos que se envolvem no projeto, de poder estar oferecendo equipamento de trabalho pra galera poder fazer um bom trabalho. Hoje, eu consigo pensar a Casa de Rabisco como empreendimento econômico e empreendimento social. E a responsabilidade social, é a gente poder ver os resultados do que promovemos. De poder criar esses espaços de vivência à população, uma média de 300 pessoas por ano passa pela Casa de Rabisco.

“O foco principal da Casa de Rabisco é o legado que pretendo deixar para o bairro”. / Foto: Divulgação.


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