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Coluna Letrados
Por Rodolfo Birchler – Artista Plástico.
Em Arte, costumamos definir o termo ‘arte’ como ‘aquilo que gera afeto’ (entre várias outras definições), mas não por ser sinônimo de cuidado – aspecto verbal da palavra -, e afetividade – aspecto sentimental da palavra -, mas por aquilo que nos afeta, nos move, que reverbera em nosso ser de alguma forma, aquilo que não nos faz passar ilesos diante de alguma informação que nossa subjetividade registra sensorialmente.
Por vezes, temos a impressão de uso da palavra “afeto” no âmbito do cuidado, porém esquecemos de expressões populares como “essa pessoa está afetada”, então isso nos faz repensar a semântica dessa palavra.
Nesse artigo, proponho mencionar a palavra ‘afeto’ em seu sentido amplificado, mas não, não quero falar de tristeza, nem de violências; desejo lembrar que, essa palavra é polivalente, sendo assim, são múltiplas as possibilidades de existência em nossa vida quando falamos de afeto.
Diante dessa apresentação dos termos arte e afeto, venho falar de um projeto que se propõem afetar o território de Santa Rita e região, no município de Vila Velha. Mexer com suas referências, origens e perspectivas.
O projeto “Território de Afeto: uma cartografia de olhares”, realizado pela Casa de Rabisco, da qual sou o fundador, por meio do recurso do Funcultura e Secretaria de Cultura do estado do Espírito Santo (Secult), propõe essa reflexão de afeto nos territórios citados no parágrafo acima. Quais os afetos que essas comunidades promovem em seus moradores? Será composto apenas pelas narrativas de violências e descasos do poder público e da própria comunidade? Ou temos coisas mais interessantes que propagar por aqui?
Em um breve período de tempo, em que os integrantes da Casa de Rabisco e equipe contratada, para exercer as ações do projeto nesses territórios, já descobrimos muitas coisas positivas, histórias de superação, roteiros criativos e diferentes, que perpassam por todos os afetos que a região pode promover, mas que no fim, esse afeto busca ser convertido na sua palavra de uso mais comum: o cuidado, o cuidado com o local e com o povo, suas memórias, cuidado com a territorialidade em sua completude de enunciado.
Contar essas histórias não é um trabalho fácil, tanto pelo lado de descrença da população na existência delas, quanto pela limitação técnica, por isso estamos cumprindo a nossa missão, como Casa de Rabisco, em realizar esse projeto com várias etapas e resultados propostos para o local.
Nossa primeira atividade realizada de cunho sociocultural, de acordo com o planejamento do projeto, foi ter promovido entre os dias 24 de fevereiro a 09 de março, sessões de cineclube, no município de Vila Velha, com exibição do longa-metragem “Na Quebrada“.
Na ocasião, a imersão cultural aconteceu em cinco lugares: Centro Comunitário de Pedra dos Búzios, Centro Comunitário de Santa Rita, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Adolfina Zamprogno, no Centro de Referência de Assistência Social (CREAS), em São Torquato e no Centro de Referência das Juventudes (CRJ), também em São Torquato.
Com a proposta de afetar os territórios, percebemos como que a arte, em seu sentido de uso como instrumento de educação social, pode romper com paradigmas cristalizados no preconceito e proporcionar um olhar pra dentro, onde os participantes da atividade do cineclube puderam perceber o próprio território em que vivem como lugar de pertencimento, ou seja, podem contar suas próprias histórias, assim valorizando-as e permitindo uma ressignificação do ser individual e da identidade coletiva.
Após a fase propedêutica do projeto, estamos realizando como proposta central um curso de audiovisual com diversas técnicas e práticas tutorada para a conclusão de todos os roteiros possíveis que estão sendo criado para contar essas histórias da região. Na ocasião, as atividades de oficinas formativas de audiovisual, fotografia e roteiro são ministradas. Concluiremos neste sábado (30), a última oficina do mês. Até o exato momento, o projeto Território de Afeto tem se empenhado em atingir a qualidade, mas também se preocupa com a quantidade. É necessário trazer o maior número de jovens, entre 16 a 29 anos, para que eles possam ter contato com saberes que os proporcionarão novos olhares e oportunidades na vida. O projeto realizará suas atividades até agosto deste ano.
Confesso que, não tem sido fácil incutir a proposta do projeto na mentalidade do território, afinal de contas, romper com uma mentalidade já posta e induzir para uma metanoia – mudança de mentalidade, de atitude – não é da noite pro dia.
A Casa de Rabisco, juntamente com a equipe, tem se empenhado para viver o real sentido de afetação. Jovens e crianças já participaram das três primeiras oficinas: Roteiro, Direção de Arte, Produção de Minidocumentário e, agora a última, Storyboard. O público infanto-juvenil não é a proposta de alcance do projeto, porém abrimos uma exceção na oficina de Direção de Arte, que contemplamos linguagem acessível para todas as faixas etárias.
Concluindo essa primeira etapa de cineclubismo e oficinas formativas, fica evidente na proposta de afetação que, independente da quantidade do público ou até mesmo de sua formação escolar, a proposta de afetá-los com novos conhecimentos tem gerado resultados relevantes, de acordo com os próprios depoimentos do público, que até aqui compareceu nas atividades citadas nesse texto. Um canal de comunicação, via WhatsApp proporciona ao projeto Território de Afeto uma espécie de ouvidoria, para que possamos receber os resultados de afetação desse público.
E essa interação tem dado certo. A cada fim de semana, reformulamos nossas oficinas e propostas para alçarmos com mais efetividade o próximo evento a ser ministrado, sendo assim estamos mais efetivos na qualidade do que na quantidade, todavia já estamos elaborando ações de comunicação para atrairmos o público que precisa de ser afetado pelo projeto “Território de Afeto: uma cartografia de olhares”.
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