Coluna Letrados / Teologia da Páscoa
Por José Salucci – Jornalista e Teólogo.
No próximo domingo (31), a Páscoa será comemorada pelas famílias, e o coelhinho já aparece na cena do mercado capitalista, com o famoso produto falso da Páscoa: o chocolate.
Sextou! Vamos comemorar o quê? No mundo inteiro a Sexta-Feira Santa, conhecida, também, como Sexta-Feira da Paixão, uma data significativa para o Cristianismo, é comemorada com ações de graças e reflexões sobre a fé. Na ocasião, o ato religioso, que envolve cristãos de todas as vertentes denominacionais do Cristianismo, reflete o sacrifício de Jesus Cristo no calvário, em prol da salvação à humanidade.
Segundo a Bíblia, Jesus, que nasceu em Belém da Judeia, é apresentado como o Filho de Deus Pai, criador dos céus e da terra; o Deus que formou homem e mulher, a sua imagem e semelhança, de acordo com a literatura em Gênesis.
Jesus Cristo, de acordo com a bíblia, é mencionado como a segunda pessoa da Trindade. Sua missão na terra foi anunciar o reino do céu, pregar as boas novas (boa notícia), ou seja, anunciar a salvação ao ser humano, salvação esta que fala da liberdade do corpo (mente), da alma e do espírito. Essa tricotomia foi questionada nas literaturas de filósofos, em épocas distintas; estão nos debates das faculdades; nas rodas de conversa; dentro de nós há incessantes angústias existenciais. Quando sentimos essas velhas angústias, não sabemos de onde isso vem, então indagamos em nosso interior: Por que estou sentido isso? De onde vem tantos pensamentos em minha mente, que me trazem desconforto? Por que, ao conseguir tudo que planejei, mesmo assim, não sinto satisfação na vida? O que é a felicidade?
Essas indagações, no âmago do nosso ser, é um axioma para concluir o quanto somos falhos, limitados, frágeis, efêmeros e barro. Não somos criados apenas com um corpo e alma, existe algo a mais.
Nesse algo a mais, introduzo o sentido da Sexta-Feira Santa e da Páscoa. O sacrifício de Cristo na cruz não pode ser visto apenas como uma morte de um inocente. De um homem que ensinou o amor e tentou salvar o homem de sua miséria social, apesar que, essa ótica pode ser otimista, mas acaba sendo reducionista, é só olhar para os movimentos sociais e movimentos religiosos, que agem feito um partido político-religioso à época de Jesus, os Zelotes – facção judaica nacionalista, que lutava contra o domínio romano sobre Israel (partiam para o confronto armado). Falar do sacrifício de Cristo, é expor a salvação espiritual, ou seja, transcende a mente humana e passamos a ter que elevar a nossa mente ao plano do Espírito, e com isso, saber a vida de Jesus. Mas você pode, leitor, me perguntar: Isso não é fé? Te respondo que sim, mas faço a devolutiva: O que é fé? Para polemizar, ela é razão com espiritualidade. Para refletir a espiritualidade, a razão. Para viver a espiritualidade, a fé.
Com um simples, mais profundo conceito acima citado de minha autoria, inicio um breve esclarecimento de onde vem a palavra páscoa e seu sentido. A Páscoa, no Antigo Testamento (Antiga Aliança), é apresentada como a passagem do Anjo nas casas dos israelitas, “Pesach”, que significa “passagem”, em uma noite que, o Anjo da morte (Exterminador, em algumas traduções bíblicas) passou pelas portas das casas dos israelitas, que já estavam escravizados pelo poder de Faraó, havia 400 anos. Deus, segunda a bíblia, chamou Moisés para libertar Israel dessa escravidão, que atingia o plano trabalhista, familiar, religioso, psicológico, ou seja, uma escravidão generalizada, para inibir toda e qualquer liberdade ao povo israelita.
Diz assim o texto bíblico: “Ide, tomai um animal do rebanho segundo as vossas famílias e imolai a Páscoa”, Êxodo 12: 21.
Seguindo o roteiro bíblico: “Porque IAVÉ passará para ferir os egípcios; e, quando vir o sangue sobre os umbrais das portas, ele passará adiante dessa porta e não permitirá que o Exterminador entre em vossas casas, para os ferir”, Ex 12: 23.
De acordo com o texto sagrado, Deus disse para Moisés ir à presença de Faraó, e dizer para que ele libertasse o povo de Israel, que deixasse ir, senão IAVÉ mataria todos os primogênitos do Egito; até o primogênito do cativo, que estava na prisão; e todo o primogênito dos animais.
Faraó, com o coração endurecido, não acreditou na força desse Deus e nas palavras de Moisés. Essa foi a última, das dez pragas que o Senhor IAVÉ revelou para Moisés, que teve a incumbência de levar o recado à Faraó, difícil missão, né? Qualquer história da humanidade que envolva escravidão versus libertação, o cenário evidencia a morte e a vida.
Pois bem, Faraó não obedeceu, não liberou o povo israelita para sair do Egito, não queria perder sua força de mão de obra barata de trabalho, isso acontece em dias atuais, não é verdade? Comece a entender o sentido da Páscoa, leitor. Deus libertou homem e mulher, por meio do sacrifício de Jesus, em todas as instâncias da vida humana. A escravidão não permite a liberdade de pensamento e de fala, de escolha. O atual cenário político brasileiro precisa de entender muito bem o que significa Páscoa.
Continuando a entender a visão teológica de Páscoa, de acordo com a narrativa bíblica, a décima praga caiu sobre o Egito. O Anjo Exterminador, em uma determinada noite, veio sobre o Egito e passou nas casas, tanto dos israelitas e tanto dos egípcios, em todo território. Como Deus tinha falado para Moisés sacrificar um animal primogênito e verter o seu sangue nos umbrais das portas dos israelitas, o Anjo passava e quando via aquele sangue, assim não entrava na casa para ferir os filhos primogênitos das famílias israelitas. Isso significa que todo aquele que crê, nos dias de hoje, no sangue de Jesus, é guardado de ser ferido pelo poder do mal e salvo estará para uma vida após a morte, afinal de contas, acredite, você um dia irá morrer. Reflita na Páscoa! Pare de exaltar o coelhinho! Pode comer chocolate, mas com moderação. Só não perca o sentido da “passagem” de ser um ex-escravo e, através do sacrifício de Cristo, ter se tornado um livre corpo, alma e espírito.
Dando sequência a história, nos umbrais das casas dos egípcios, não tinha sido registrado a marca de sangue de algum animal inocente. O Anjo da morte passava e feria o espírito dos primogênitos.
Após a morte dos primogênitos dos egípcios, configurando a morte do filho de Faraó, seu primogênito, em estado de profunda tristeza, o rei do Egito decidiu libertar o povo de Israel e deixá-los saírem para a peregrinação no deserto.
Assim, essa história de fé, mas também de relato histórico, que até em dias atuais, no Egito, conta-se essa narrativa, precisa de ser propagada com o seu real sentido, ainda que haja dureza nos corações dos atuais ‘egípcios’.
E onde fica o chocolate?
Por mais que essas narrativas históricas entram no campo da fé, isso não significa que não possamos debatê-las no campo da Antropologia, Sociologia, do Direito, da Psicologia, afinal de contas, quando falamos de escravidão, estamos mexendo em todas as regras, conteúdos, deontologias e saberes dessas ciências.
A paixão de Cristo deve ser encarada pelo ser humano como um estandarte, e não apenas para os cristãos. “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, assim diz um verso no livro de Romanos. Você, leitor, pode invocar o nome de Jesus nesse momento e verbalizar suas angústias, porque o sangue dele é para todos os pecadores, independente de religião ou se frequenta igreja ou não. Cristo é a representação da Páscoa. Assim como, o sangue de um animal imaculado, que era primogênito, foi sacrificado para que, seu sangue pudesse ter sido usado para marcar os umbrais das portas dos israelitas e, esta expiação trouxe salvação a eles, de igual modo, o sangue de Jesus, vertido nos umbrais de sua vida, te guarda de todo o mal e te salva na tricotomia do seu ser: corpo, alma e espírito. Você não vai parar de sentir profundas angústias, você foi feito do barro, mas o sangue de um homem inocente te livrou da escravidão generalizada que caiu sobre a humanidade.
Domingo é dia de Páscoa, ou seja, é dia de comemorar a ressurreição de Jesus Cristo, o filho do Deus vivo. Será tempo de de viver uma fé que é viva, que tem tradição e não um tradicionalismo, uma fé morta. Uma fé viva, em um Cristo vivo, não no imaginário, muito menos no Jesus apresentado pelos teólogos liberais, mais o Cristo vivo, que governa o Universo, além da galáxia, acima do céu, entronizado à direita de Deus Pai. E se você o desejar, também poderá permitir que Ele reine em seu coração. Esse é o sentido da Pascoa: a passagem do Anjo para libertar o povo de Israel da escravidão; a morte de Jesus Cristo para salvar a humanidade.
Talvez, chegou a hora de muitos movimentos sociais e uma outra parcela da sociedade que, verbaliza muito o conteúdo da fé cristã, mas não revela prática de vida cristã, entender que, a libertação acontece de dentro pra fora, e não o contrário. Vejo muitos líderes políticos, sociais, religiosos, escravizados por teorias humanas anêmicas, adoecidas e esbravejam em seus discursos o tal termo: liberdade. Porque, na verdade, a alma dessa gente tá escravizada pelo pecado. Defino pecado como “o meu eu no centro da minha vida, negando, diariamente, o sacrifício de Cristo”. Ou seja, negar a verdadeira Páscoa.
Nessa Páscoa, não doe chocolate! Conte a história de libertação do povo de Israel. Conte a sua história de libertação para alguém. Aqui, nesse jornal, entre linhas, eu acabei de contar a minha história de libertação para você.
Feliz páscoa!
*O texto é de livre pensamento do colunista*
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