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Por Sueli Valiato – professora de Língua Portuguesa e Literatura.
Caríssimo (a) leitor (a), por algumas vezes, mencionei a Pedagogia da Alternância (PA), me referindo a ela como uma estratégia pedagógica própria e apropriada a Educação do Campo. No artigo de hoje, dialogaremos sobre este questionamento: Por que muitos educadores e estudiosos da PA se referem a ela como estratégia pedagógica?
A resposta a essa questão nos leva à França na década de 1930, quando surgiu a Pedagogia da Alternância, com as Casas Familiares Rurais, pensada como alternativa às escolas tradicionais, que eram vistas por àqueles que pensaram essa nova forma de estruturar a formação escolar, como conteudista, desvinculada da vida dos camponeses e da realidade rural da época.
Segundo Milene Francisca e Lourdes Helena (2014), dialogando com (SILVA, 2003; QUEIROZ, 2004; NASCIMENTO, 2005), a Alternância como prática educativa teve início em 1935, na região sudoeste da França, com a criação da primeira Maison Familiale Rurale (MFR). Essa experiência educativa nasceu da necessidade de criar uma alternativa de formação que possibilitasse ao jovem do meio rural continuar seus estudos, sem ter que abandonar o seu habitat. O momento histórico no qual foram criadas as MFRs foi entre as duas grandes guerras, um período de reconstrução social e econômica da sociedade francesa, no qual o Estado tinha como prioridade o processo de modernização e o desenvolvimento industrial, negligenciando, deste modo, o meio rural.
Precisava-se de uma educação que contribuísse na melhoria das condições de vida no campo, reduzisse o êxodo rural e os inúmeros transtornos gerados com a saída dos jovens para as cidades, como dificuldades de adaptação, visto que esses possuíam valores e visões de mundo diferentes das premissas que norteavam a organização da vida nas cidades.
Por isso, desde a primeira experiência, na França, nas Casas Familiares, e até os dias atuais, no Brasil, nos Centros Familiares de Formação em Alternância (CEFFAs), essa forma de desenvolver educação se alicerça em quatro pressupostos: o desenvolvimento do meio, a formação integral do educando, a associação de famílias e a alternância. Sendo que o desenvolvimento do meio e a formação integral do educando, consiste a finalidade de toda ação educativa. E, para alcançá-la têm como meios a associação de famílias e a alternância dos saberes/conhecimentos, experiências, reflexões, correlacionando estudo, trabalho e convivência, nos diferentes espaços e tempos.
Como se vê, o que propõe a Pedagogia da Alternância está para além do prédio escolar, de uma educação bancária. O CEFFA é um laboratório de vivências, experiências, de construção de conhecimentos, valores e atitudes, em prol da formação integral do sujeito e a transformação do meio/realidade.
Quando se analisa a estrutura pedagógica da PA, os mediadores que constituem o plano de formação dos educandos, das famílias, dos docentes e demais parceiros da formação, se identifica claramente uma rede de elementos, de princípios, metodologias que se assemelham a Educação Pragmática, de Anísio Teixeira; a Educação Fenomenológica, de Antônio Muniz Rezende; a Educação Psicanalítica, de Rubem Alves; a Escola Comuna de Pistrak, ao materialismo histórico-dialético de Karl Marx e Friedrich Engels; ao método Ver-Julgar-Agir da Ação Católica; a Pedagogia da Libertação, de Paulo Freire, que se tecem para atingir as finalidades de desenvolver o meio e formar integralmente o educando.
Referir-se à Pedagogia da Alternância como estratégia pedagógica corrobora o sentido de emancipatório, transformador, libertador e revolucionário, que há em sua gênese, além de enunciar a complexidade que há em sua práxis, já que estratégia é a arte de coordenar ações, forças no alcance de finalidades. É esse o movimento que a PA proporciona, por meio de seus mediadores, no território que se insere.
PA: história, estratégia e vida.
A Pedagogia da Alternância surgiu na França respondendo as necessidades da população rural que queria desenvolver-se, escolarizar-se, sem se evadir e/ou desvincular-se de seu meio, valorizando-o. Da França, a PA vai para Itália. Deste país, chega ao Brasil, em 1968, no estado do Espírito Santo, com propósito parecido, pela iniciativa de um padre jesuíta italiano: Humberto Pietro Grande, para contribuir no desenvolvimento e na qualidade de vida dos povos do campo do interior capixaba.
Milene Francisca e Lourdes Helena (2014) citam (SILVA, 2010), corroborando ao parágrafo acima que, existem atualmente no Brasil diversas experiências educativas que utilizam a Pedagogia da Alternância como estratégia central de seus projetos pedagógicos. No conjunto destas experiências, destacam-se as Escolas Família Agrícola (EFAs) e as Casas Familiares Rurais (CFRs) como iniciativas pioneiras em nossa sociedade, responsáveis pela criação da rede nacional dos Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFAs).
Não há dúvida de que a Pedagogia da Alternância, foi e tem sido, uma estratégia pedagógica própria e apropriada à Educação do Campo, e mais que isso! Que a PA pelo seu potencial promocional, reflexivo e pelo movimento que desencadeia com sua práxis, ela pode ser própria e apropriada a qualquer realidade.
A Pedagogia da Alternância com seus pressupostos, princípios e mediadores pedagógicos pode dar vida, sentido ao trabalho de formação de muitas escolas, rompendo as fronteiras da educação bancária, porque um CEFFA é mais que uma escola e a PA é a pedagogia da vida!
“Nosso CEFFA, nossa vida, nossa escola!!!!”
*O texto é de livre pensamento da colunista*
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